A crise enfrentada pelas Lojas Americanas e o impacto da pandemia de Covid-19 têm gerado repercussões significativas em várias empresas tradicionais. Recentemente, as marcas curitibanas Barion e Frigorífico Juliatto solicitaram recuperação judicial, acumulando juntas quase R$ 80 milhões em dívidas. A medida representa uma tentativa de reerguer as operações e renegociar obrigatoriamente as pendências financeiras sob supervisão judicial.
A recuperação judicial é um mecanismo que permite às empresas em dificuldades reestruturar suas dívidas, oferecendo a possibilidade de suspender execuções de dívidas e renegociar contratos. Quando acolhido pelo judiciário, o pedido é acompanhado por um plano de recuperação e um administrador que supervisiona a execução das medidas propostas.
Histórico das Empresas
Fundada em 1960, a Barion tem uma história de 65 anos, começando como uma distribuidora de doces e, posteriormente, ampliando suas operações para a fabricação de chocolates e outros produtos icônicos, como o pão de mel e os tubetes de wafer. A trajetória da empresa revela um crescimento constante e marcado pela inovação na saboaria e confeitaria, consolidando sua presença no mercado regional.
Por outro lado, o Frigorífico Juliatto, inaugurado em 1967, começou suas atividades em São José dos Pinhais e expandiu seus empreendimentos para além do Paraná, alcançando estados como São Paulo e Rio de Janeiro. A empresa é reconhecida por seu compromisso com a qualidade na produção de carnes e derivados, atendendo a grandes redes de supermercado ao longo de várias décadas.
Investimentos e Desafios Recentes
Antes da pandemia, em 2019, o Frigorífico Juliatto havia realizado um investimento significativo, contraindo empréstimos para aumentar a capacidade produtiva e firmar contratos com grandes varejistas como Makro, Carrefour e Wallmart. Contudo, a implementação dessas estratégias sofreu um percalço com a chegada da Covid-19, que impôs severas restrições às atividades econômicas, afetando a logística de distribuição da empresa.
Em seu pedido de recuperação, o Juliatto reportou dívidas que somam R$ 45.613.072,00, resultado das dificuldades financeiras enfrentadas durante e após os períodos de restrições sanitárias. O plano de recuperação, deferido em 21 de janeiro de 2025, prevê amortizações anuais de 2% sobre as dívidas nos primeiros cinco anos, com uma série de medidas para facilitar a recuperação.
Consequências da Recuperação Judicial para a Barion
A Barion sofreu impactos diretos da crise na Lojas Americanas e na recuperação do Dia Supermercado, o que repercutiu em sua própria saúde financeira. Em fevereiro de 2025, a empresa apresentou um pedido de recuperação judicial, alegando um aumento de dívidas após atrasos nos pagamentos por parte de seus clientes, que totalizaram R$ 2,6 milhões. Além disso, outros R$ 600 mil em produtos deixaram de ser comercializados.
A empresa registrou um prejuízo de R$ 22 milhões em 2024, motivando a revisão de sua estratégia financeira. Com 331 funcionários, a Barion tem enfrentado dificuldades semelhantes às do Juliatto, reportando a necessidade de reorganizar suas dívidas, que somam cerca de R$ 34,4 milhões, a maior parte sem garantias.
Medidas Propostas para Recuperação
No contexto da recuperação judicial, tanto a Barion quanto o Juliatto devem seguir um rígido plano aprovado pela Justiça, que inclui a gestão das dívidas por um administrador judicial. Entre as medidas incluem prazos e condições especiais, redução de custos operacionais e busca por financiamento para aquisição de insumos essenciais. A proposta é gerar fluxo de caixa para recuperação e crescimento a longo prazo.
Além disso, a priorização das dívidas trabalhistas é um aspecto crítico do plano, garantindo que os funcionários sejam pagos e mantidos no quadro de colaboradores, o que é fundamental para a continuidade das operações e recuperação da confiança do mercado.
Impacto no Mercado e Expectativas Futuras
A situação da Barion e do Juliatto reflete a fragilidade de empresas tradicionais em um mercado em transformação, especialmente em tempos de crise econômica e sanitária. A recuperação judicial, embora um processo difícil, é uma alternativa para que essas empresas possam se reerguer e adaptar-se às novas exigências do mercado.
Observadores apontam que a recuperação da Barion e do Juliatto pode servir de estudo de caso para outras empresas que enfrentam dificuldades. Caso os planos de recuperação sejam efetivos, isso poderá indicar um caminho viável de superação e até mesmo inovação, uma vez que as empresas reavaliam seus modelos de negócios para se adequar a um mercado em constante evolução.
O Papel do Administrador Judicial
Durante o período de recuperação, as empresas ficam sob a supervisão de um administrador judicial, cuja função é assegurar que o plano de recuperação seja seguido de acordo com a legislação. Este profissional é responsável por comunicar-se regularmente com os credores e o judiciário, certificando-se de que as medidas para dissolução de dívidas sejam executadas adequadamente.
Relatórios periódicos são obrigatórios, e o administrador pode realizar leilões para a quitação de certas dívidas ou venda de ativos não essenciais, sempre visando a preservação da saúde financeira da empresa e a continuidade das atividades.
Futuras Perspectivas
Enquanto a Barion e o Juliatto trilham o caminho da recuperação, o cenário econômico atual oferece diversos desafios, mas também oportunidades para inovação. As duas empresas podem reavaliar suas estratégias e adotar novas tecnologias e práticas de mercado que permitam não apenas a sobrevivência, mas um crescimento sustentável após o fim do processo de recuperação judicial.
O futuro dessas marcas tradicionais dependerá de sua capacidade de adaptação e resiliência em face das adversidades, além de um planejamento cuidadoso para evitar recaídas financeiras que possam comprometer sua recuperação. O acompanhamento de especialistas e a colaboração com os credores são essenciais para garantir que os próximos anos possam ser marcados por um renascimento dessas empresas no mercado curitibano.
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