Segundo analistas ouvidos pela reportagem, o efeito das medidas não é uniforme porque cada frigorífico possui diferentes níveis de exposição ao mercado norte-americano e estruturas operacionais próprias para lidar com a nova realidade. Enquanto parte das empresas deve sentir ajustes na margem e nos custos, aquelas com presença produtiva nos Estados Unidos podem se beneficiar de alternativas como transferência de ativos entre filiais e mudanças na forma de distribuição para suavizar o efeito das tarifas.
Para especialistas ouvidos pelo E-Investidor, a Minerva é vista como a mais exposta, com cerca de 5% da receita proveniente da exportação de carne bovina brasileira para os Estados Unidos. Apesar disso, eles apontam que a companhia tem flexibilidade para redirecionar parte da produção por meio de suas operações na Argentina, no Uruguai e no Paraguai, o que pode reduzir os efeitos negativos. Já a JBS aparece como a menos vulnerável. Apenas entre 1% e 3% de sua receita global depende das vendas brasileiras para os Estados Unidos, e a forte operação local no país oferece espaço para transformar a tarifa em oportunidade, vendendo com preços mais altos diretamente no mercado americano.
No caso da Marfrig, o efeito direto das tarifas é considerado quase inexistente. Apenas 0,18% do faturamento da companhia vem da exportação de carne bovina do Brasil para os Estados Unidos. A operação no país norte-americano, por meio da controlada National Beef, e a presença produtiva no Uruguai e na Argentina oferecem proteção, reduzindo a dependência das vendas originadas no território brasileiro. A BRF, por sua vez, não atua no segmento de carne bovina para os Estados Unidos e, portanto, não sofre impacto direto das tarifas. Especialistas avaliam que a queda recente das ações da companhia reflete mais o humor do mercado com o setor do que mudanças concretas em seus fundamentos. A empresa segue com foco nas exportações de aves e suínos, além de manter forte presença no mercado doméstico.
Estratégias para o Investidor Diante das Tarifas Americanas
O recente aumento das tarifas de importação de carne brasileira pelos Estados Unidos gerou um debate intenso sobre os melhores caminhos para os investidores. O setor de frigoríficos, que já vinha mostrando resiliência, agora enfrenta um novo desafio, exigindo uma análise cuidadosa das empresas e das estratégias de alocação de capital. A diversificação de carteira e o acompanhamento atento das medidas governamentais são cruciais neste momento.
A reação do mercado financeiro foi imediata, com algumas empresas sofrendo mais do que outras. No entanto, analistas apontam que o impacto, embora significativo, não deve ser determinante para o longo prazo. A capacidade de adaptação das empresas, a diversificação de mercados e o apoio governamental são fatores que podem mitigar os efeitos negativos e até mesmo criar novas oportunidades. Para o investidor, a chave é ponderar os riscos e as oportunidades, buscando empresas sólidas e bem posicionadas para enfrentar este novo cenário.
Análise Setorial Detalhada: Frigoríficos em Foco
A imposição de tarifas elevadas sobre a carne bovina brasileira impactou diretamente as empresas do setor de frigoríficos, mas a intensidade desse impacto varia significativamente de acordo com a exposição de cada empresa ao mercado americano. Empresas como a Minerva, que possuem uma parcela maior de suas exportações direcionadas aos Estados Unidos, tendem a sentir mais os efeitos negativos. No entanto, a diversificação geográfica das operações, com plantas produtivas em outros países da América do Sul, oferece uma alternativa para redirecionar a produção e mitigar as perdas.
Por outro lado, empresas como a JBS, com uma presença forte e consolidada nos Estados Unidos, podem até mesmo se beneficiar das tarifas, aproveitando a oportunidade para aumentar a sua participação no mercado americano e vender seus produtos a preços mais altos. A Marfrig, com uma exposição ainda menor às exportações diretas para os Estados Unidos, também demonstra uma maior resiliência diante desse cenário. A BRF, que não atua no mercado de carne bovina para os Estados Unidos, permanece relativamente imune aos efeitos das tarifas, mas a queda recente de suas ações pode refletir um receio generalizado do mercado em relação ao setor.
Medidas Governamentais: Alívio ou Solução?
O governo brasileiro anunciou um pacote de medidas para tentar minimizar os impactos das tarifas americanas, incluindo linhas de crédito facilitadas e ações tributárias. A eficácia dessas medidas, no entanto, é questionada por especialistas, que alertam para a burocracia e a lentidão do Estado em implementar as políticas de apoio. A velocidade e a abrangência dessas ações serão determinantes para o sucesso na mitigação dos efeitos negativos sobre o setor.
A criação de uma linha de crédito de R$ 30 bilhões, por meio de Medida Provisória, representa um esforço significativo do governo para auxiliar as empresas afetadas. O Fundo Garantidor de Exportações (FGE) será reforçado para financiar os setores impactados, oferecendo recursos a custos mais acessíveis. Além disso, o governo busca fortalecer o sistema de seguro e de crédito para pequenos e médios exportadores, incentivando a diversificação dos destinos das exportações e reduzindo a dependência do mercado norte-americano.
Financiamento e Diversificação: Estratégias a Longo Prazo
Além das medidas emergenciais, o governo pretende estimular a diversificação dos destinos das exportações, explorando parcerias com países do Brics e outras regiões. A possibilidade de acionar a lei de reciprocidade, que permite retaliações comerciais, também está sendo considerada como uma forma de pressionar os Estados Unidos a reverem as tarifas. A longo prazo, a diversificação dos mercados é vista como a melhor forma de proteger o setor de futuras medidas protecionistas.
No entanto, o economista Paulo Godoi Filho avalia que o financiamento anunciado pelo governo pode ter um alcance limitado, dada a magnitude do problema. Estima-se que um volume considerável de carne já pronta para exportação aos Estados Unidos pode ficar parado devido às tarifas, tornando inviável o envio desses produtos. Nesse contexto, é fundamental que o governo direcione os recursos de forma estratégica, priorizando os produtores menores com participação nas exportações para os Estados Unidos, a fim de evitar que eles sejam excluídos desse mercado.
Recomendações para o Investidor: Posicionamento Estratégico
Diante deste cenário, especialistas recomendam cautela e seletividade na hora de investir no setor de frigoríficos. A manutenção das posições em empresas como a JBS, que possuem uma estrutura consolidada nos Estados Unidos, é vista como uma estratégia prudente, considerando o potencial de ganhos no contexto atual. A Marfrig também permanece como recomendação de manutenção, mas com atenção redobrada devido ao impacto reduzido das tarifas e às incertezas ligadas à fusão com a BRF.
Para BRF e Minerva, a orientação é de reduzir a exposição, devido à volatilidade regulatória e à maior dependência do mercado norte-americano, respectivamente. A análise individual de cada empresa, levando em consideração sua exposição ao mercado americano, sua capacidade de adaptação e sua estrutura operacional, é fundamental para tomar decisões de investimento mais assertivas. A diversificação da carteira, com investimentos em outros setores da economia, também é recomendada para reduzir os riscos.
Outras Oportunidades no Mercado: Além dos Frigoríficos
Além do setor de frigoríficos, existem outras oportunidades de investimento no mercado, especialmente em setores como energia e instituições financeiras, que oferecem estabilidade e pagamento forte de dividendos. O agronegócio não ligado à proteína animal também é citado como alternativa, por poder se beneficiar de um câmbio favorável sem enfrentar tarifas adicionais. A diversificação é a chave para atravessar o cenário sem perder valor.
A imposição de tarifas sobre a carne brasileira pode ser vista como um golpe cirúrgico, mas não fatal. Empresas como JBS e Marfrig devem sair praticamente ilesas, enquanto Minerva e players menores precisarão de estratégia e agilidade para se adaptar. Para o investidor, o momento pede mais precisão que emoção, buscando informações de qualidade e consultando especialistas para tomar decisões de investimento mais conscientes e alinhadas com seus objetivos.
O Impacto nas Ações e o Posicionamento das Corretoras
As ações do setor de frigoríficos têm demonstrado reações distintas frente ao cenário das tarifas americanas. O Bradesco BBI, por exemplo, mantém uma recomendação neutra para a BRF, com um preço-alvo de R$ 23, enquanto recomenda a compra das ações da JBS, com um preço-alvo de R$ 48. A XP Investimentos também mantém a recomendação de compra para a JBS, com um preço-alvo de R$ 112,20 para o final de 2026.
O Safra, por sua vez, identifica a JBS como a principal escolha do setor, com um preço-alvo de R$ 112 para o BDR JBSS32 e US$ 19 para a ação classe A negociada na Bolsa de Nova York (Nyse), o que indica um potencial de alta de 41%. Já para a Marfrig (MRFG3), a Genial mantém recomendação de compra com preço-alvo de R$ 26, enquanto o Bank of America reforça a classificação neutra para a empresa com preço-alvo também em R$ 26. É importante ressaltar que essas são apenas algumas das análises disponíveis no mercado, e cada investidor deve buscar informações de diferentes fontes e considerar seus próprios objetivos e tolerância ao risco antes de tomar qualquer decisão de investimento.
Estratégias de Longo Prazo: Construindo Resiliência na Carteira
A construção de uma carteira de investimentos resiliente exige uma visão de longo prazo e uma estratégia diversificada. A diversificação não se limita apenas à alocação em diferentes setores da economia, mas também à escolha de diferentes classes de ativos, como ações, títulos de renda fixa, fundos imobiliários e investimentos no exterior. A diversificação ajuda a reduzir os riscos e a aumentar as chances de obter retornos consistentes ao longo do tempo.
Além disso, é fundamental acompanhar de perto os indicadores econômicos, as notícias do mercado financeiro e as análises de especialistas, para estar sempre atualizado sobre as tendências e os riscos do mercado. A tomada de decisões de investimento deve ser baseada em informações sólidas e em uma análise criteriosa dos riscos e das oportunidades, evitando decisões impulsivas ou baseadas em emoções. A disciplina e a paciência são qualidades essenciais para o investidor de sucesso.