Rumo a player global: o voo do ovo brasileiro para mercados premium e margens maiores

Rumo a player global: o voo do ovo brasileiro para mercados premium e margens maiores

A avicultura brasileira construiu, ao longo de cinco décadas, uma reputação sólida no comércio internacional de proteína. Depois de transformar a carne de frango em um produto de presença constante nas mesas de mais de 150 países, o setor começa a testar novas asas: exportar ovos com volume, regularidade e padrão exigido pelos principais compradores do mundo. O movimento combina capacidade produtiva, escala industrial, disciplina sanitária e decisões corporativas que reposicionam empresas nacionais em rotas globais.

O pano de fundo ajuda a explicar por que agora. O Brasil dispõe de oferta robusta de insumos para ração, parque de granjas tecnificadas e plantas de classificação e processamento que, gradualmente, se adequaram a requisitos de mercados distintos. No primeiro semestre, os embarques de ovos in natura e processados ganharam impulso e chamaram atenção pelo salto percentual em relação ao ano anterior. Ao mesmo tempo, movimentos de fusões e aquisições ampliaram musculatura e alcance: a Mantiqueira passou a ter participação estratégica da JBS, enquanto a Granja Faria adquiriu operações na Espanha e nos Estados Unidos, elevando o protagonismo do produto brasileiro em corredores logísticos decisivos.

Há, ainda, fatores externos que abriram portas. A gripe aviária pressionou a oferta nos Estados Unidos e em outras origens, redesenhando fluxos e encarecendo o produto em janelas específicas. Importadores que antes olhavam para o Brasil apenas como fornecedor de carne passaram a testar ovos e derivados. O resultado é um começo promissor que exige organização de ponta a ponta: do manejo na granja ao despacho aduaneiro, das embalagens à rastreabilidade, do desenho de contratos à gestão de risco cambial. Este guia explica os motores dessa guinada, detalha como competir lá fora, mapeia mercados e traz caminhos práticos para quem quer entrar no jogo com segurança.

Contexto e gatilhos da nova fase

O Brasil não parte do zero. A trajetória da carne de frango começa em 1975, com embarques tímidos para Kuwait, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Japão, e atinge escala histórica duas décadas depois, superando a marca de 5 milhões de toneladas enviadas em 2024. A lógica que permitiu tamanha expansão – eficiência produtiva, disponibilidade de grãos e organização industrial – agora se aplica ao ovo. O salto recente nos números de exportação aponta que o produto conquistou espaço na agenda de trade de grandes empresas e abriu portas em mercados com alto poder de compra.

Dois gatilhos aceleraram o processo. O primeiro foi a redução de oferta de concorrentes tradicionais em determinados períodos, levando importadores a diversificar origens. O segundo é a criação de novas capacidades no Brasil: unidades com linhas de classificação automatizadas, processos de pasteurização e secagem para líquidos e pó, e equipes treinadas para cumprir especificações complexas de rotulagem e documentação. São passos que tiram barreiras operacionais e transformam oportunidade em contrato assinado.

Como a cadeia de ovos compete no exterior

Para ganhar o comprador, três pilares contam mais do que o discurso: previsibilidade, padrão e comprovação. Previsibilidade significa capacidade de entregar volumes recorrentes, sem grandes oscilações semanais, respeitando janelas de coleta, carregamento e chegada. Padrão envolve classificação precisa (peso e diâmetro), integridade de casca, coloração e ausência de defeitos internos, além do manejo correto de temperatura do ninho ao contêiner. Comprovação é a documentação: certificações oficiais, laudos e registros que sustentam o que está impresso na caixa, no rótulo e no contrato.

Há diferenças relevantes entre mercados. Os Estados Unidos exigem ovos lavados e refrigerados; a União Europeia, em regra, comercializa ovos in natura sem lavagem e com particularidades de classificação; países do Oriente Médio habitualmente demandam certificações religiosas para determinados canais; o Japão é criterioso na avaliação sanitária e na estabilidade da cadeia fria. Entender a regra de destino, adaptar o processo e demonstrar conformidade em auditorias são etapas que reduzem atrito e ampliam confiança.

Mapa de mercados: oportunidades e exigências

Estados Unidos. Compradores americanos priorizam ovos com lavagem e sanificação controladas, classificação por peso consistente e cadeia fria contínua até o varejo. O tempo de trânsito marítimo até a Costa Leste permite janelas competitivas quando a coleta, a classificação e a estufagem são sincronizadas. Na Costa Oeste, a distância aumenta a exigência sobre a validade residual na chegada. Derivados como líquido pasteurizado e pó também têm demanda robusta no food service e na indústria alimentícia, com especificações microbiológicas claras e rotulagem técnica detalhada.

Oriente Médio. A região historicamente compra proteína avícola do Brasil e conhece a logística do corredor. Para ovos, predominam pedidos de in natura com classificação e resistência de casca rigorosas, além de certificações específicas para parte dos clientes. O clima quente intensifica o desafio da temperatura, exigindo embalagens e acondicionamento que preservem qualidade até o destino final. A previsibilidade de navios e a negociação de espaço com armadores pesam no fechamento da conta.

Ásia. O Japão mantém alto nível de exigência sanitária e de processos. A comunicação técnica e a consistência de lote a lote são decisivas. Mercados do Sudeste Asiático valorizam derivados para panificação e confeitaria, com preferência por pó de ovo integral, gema e clara em especificações distintas. Na China, a dinâmica regulatória e as habilitações definem a janela de oportunidade, além da competição com origens regionais em determinados períodos do ano.

América Latina. Países vizinhos oferecem proximidade logística e ajudam a ganhar ritmo operacional. A modalidade rodoviária encurta prazos, serve como laboratório para ajuste de processos e permite validar embalagens, paletização e controles de temperatura. Em geral, são contratos menores e frequentes, úteis para construir histórico exportador e referência de performance.

Do galpão ao contêiner: fluxo operacional em detalhes

O ciclo de um ovo exportado começa na granja, com coleta em intervalos constantes e manejo que minimize microfissuras e sujidades. A etapa seguinte é o packing house: recepção, lavagem quando aplicável ao destino, desinfecção com parâmetros registrados, velagem para detecção de defeitos internos, classificação por peso e diâmetro e descarte técnico do que não atende ao padrão. Equipamentos de classificação óptica e sensores de trinca reduzem variação e elevam a taxa de aproveitamento comercializável. Cada bandeja recebe código de rastreio que vincula lote, data e turno, formando o “histórico” do produto até o cliente final.

Embalagem e paletização entram logo depois. A escolha entre polpa moldada, PET ou PEAD depende do destino, do perfil do cliente e da logística. Bandejas reforçadas, divisórias estáveis e filmes adequados ajudam a reduzir quebras no empilhamento. Paletes tratados e certificados, com cantoneiras e fitas, estabilizam a carga. A estufagem no contêiner refrigerado exige checagem de temperatura, umidade e fluxo de ar. O set point deve considerar viagem, clima e padrão exigido na descarga. A documentação – faturas, listas de embalagem, certificados sanitários e de origem – precisa estar conferida antes do lacre, evitando retenções no porto de saída ou na alfândega de chegada.

Prazo de validade e cadeia fria: o que realmente faz diferença

O tempo manda na competitividade do ovo in natura. Perdas de validade em trânsito impactam preço e aceitação. Por isso, os dias entre postura, classificação e embarque precisam ser os menores possíveis. A definição do modal, do porto e da rota deve levar em conta o prazo remanescente que o importador terá para comercializar. Em contratos com a América do Norte e o Oriente Médio, a janela entre coleta e estufagem costuma ser medida em poucos dias, exigindo coordenação fina entre granja, packing e operador logístico. Qualquer desvio de temperatura no transporte interno corrói margens e amplia risco de rejeição.

Já os processados (líquido pasteurizado e pó) ampliam a flexibilidade. Ovos líquidos exigem cadeia fria contínua, mas têm prazos de uso que se encaixam bem no calendário da indústria de massas, sorvetes e panificação. O pó, por sua vez, oferece estocagem mais simples e tolera viagens longas sem perda de funcionalidade quando embalado em atmosferas e materiais adequados. Para ambos, especificações microbiológicas e físico-químicas são o cerne do contrato, e auditorias de processos valem tanto quanto a inspeção do produto final.

M&A e reposicionamento: o que muda com Mantiqueira e Granja Faria

Quando grupos com escala global entram no setor de ovos, a mesa de negociação muda de tamanho. A participação da JBS na Mantiqueira agrega uma rede de logística internacional testada em proteína, relacionamento com armadores, capacidade de travar frete e acesso a grandes redes varejistas e industriais. Isso tende a acelerar habilitações, padronizar processos e elevar a cadência de embarques. A experiência em contratos longos e em gestão de risco operacional ajuda a estabilizar operações recém-abertas e a diluir custos fixos em volumes maiores.

A Granja Faria avançou com aquisições na Espanha e nos Estados Unidos, estabelecendo bases em dois mercados com regras e clientes distintos. Ter operação local encurta distância com o comprador, melhora entendimento de mix e traz previsibilidade de demanda para as plantas brasileiras. O adiamento de uma oferta de ações no exterior mostra leitura de janela de mercado, sem comprometer a estratégia de internacionalização. O conjunto de movimentos coloca o ovo brasileiro em vitrines estratégicas, amplia repertório de produtos e ajusta o país ao jogo de consolidação global.

Requisitos sanitários e documentais: ponto a ponto do compliance

A base é a habilitação da planta pelo serviço oficial e o alinhamento com as exigências do país de destino. Isso inclui programas formais de autocontrole, procedimentos escritos de limpeza e desinfecção, monitoramento de pontos críticos e registros acessíveis. Auditorias periódicas atestam que os processos são executados como descritos. Certificados sanitários internacionais, emitidos caso a caso, acompanham cada embarque com dados de origem, lote e parâmetros acordados. Em destinos específicos, laudos complementares e declarações adicionais podem ser requeridos pelo importador ou pela autoridade local.

No produto in natura, a rastreabilidade por lote é mandatória. Datas de postura e processamento, códigos de granja e turnos do packing house precisam estar ligados à etiqueta física e ao sistema. Em derivados, os dossiês técnicos contemplam parâmetros microbiológicos, viscosidade, teor de sólidos, cor e funcionalidade, além de instruções de conservação e uso. Rotulagem bilíngue e adequação a normas de composição evitam reetiquetagem no destino e reduzem risco de devolução. Embalagens devem atender às regras de contato com alimentos do país comprador, incluindo materiais, migração e instruções de armazenamento.

Formas de apresentação: in natura, líquido e pó, e quando escolher cada um

Ovo in natura é a porta mais visível para varejo e atacarejo, com apelo de preço e rotação rápida. Pede operações milimétricas de coleta, classificação, embalagem e transporte. A vantagem é capturar prêmios em janelas de oferta restrita, especialmente quando concorrentes enfrentam limitações temporárias. A desvantagem é a sensibilidade a tempo e a quebras durante a viagem, o que exige planejamento de estoque no destino e contratos com cláusulas claras de avarias e tolerâncias.

Ovo líquido pasteurizado atende indústria e food service com praticidade e segurança de processo. Permite padronização da receita e reduz variação de lote a lote, desde que a planta mantenha parâmetros estáveis de pasteurização e resfriamento. Já o pó de ovo – integral, só clara ou só gema – amplia o raio de venda sem pressa logística, cabendo bem em mercados distantes. Em todos os casos, o segredo é negociar especificações mensuráveis, com métodos analíticos acordados e amostragem definida, para que não haja dúvida no momento da verificação de conformidade.

Preço, câmbio e margem: como fechar a conta sem surpresas

Precificação começa na escolha do Incoterm e na curva de custos: ração, mão de obra, energia, manutenção de equipamentos, embalagens, transporte interno, inspeção, taxas portuárias, frete internacional, seguro e despesas bancárias. Em contratos FOB, o exportador responde até a estufagem e o embarque; em CIF, assume frete e seguro até o porto de destino. O câmbio real/dólar e a sazonalidade do milho e do farelo podem virar a conta de um mês para o outro. Travar parte do câmbio e negociar com armadores em pacotes de rotas e janelas reduz a volatilidade do frete, que pesa muito no produto de baixo valor por quilo como o ovo in natura.

Exemplo prático. Suponha preço de venda de US$ 1,40 a dúzia FOB, custo total interno equivalente a US$ 1,12 e despesa financeira de US$ 0,02. A margem bruta seria de US$ 0,26 por dúzia, antes de impostos sobre a receita e variações cambiais entre faturamento e liquidação. Se o frete subir US$ 300 por contêiner, o impacto por dúzia pode superar US$ 0,03, dependendo do empilhamento. Um desvio de 2% no índice de quebras na chegada tem efeito semelhante. Por isso, controle físico de carga e negociação logística são tão importantes quanto a granja performar bem.

Riscos e gestão: biosseguridade, qualidade e recall

A integridade sanitária da cadeia é condição de acesso ao mercado. Programas de biosseguridade nas granjas, controle de visitantes, limpeza de veículos, barreiras físicas e monitoramentos periódicos de agentes de interesse reduzem risco e criam histórico positivo junto às autoridades. No packing house, padronização de lavagem quando aplicável, calibração de sensores e manutenção de esteiras e veladoras evitam não conformidades. Amostragens de verificação e testes laboratoriais em lotes críticos diminuem o risco de surpresas na inspeção do importador.

Planos de recall e comunicação completam a governança. Eles definem como rastrear, em horas, para qual cliente e para qual país foi cada lote, e quem aciona o quê caso seja necessário retirar produto do mercado. Contratos com importadores costumam exigir prazos e responsabilidades claros para essa eventualidade. Testes periódicos de mesa – simulando um recall – validam o procedimento e revelam gargalos antes que eles apareçam em uma situação real.

Tecnologia e processos: onde ganhar eficiência na prática

Automação na classificação e na codificação de bandejas reduz erros e aumenta rastreabilidade. Sistemas que integram granja, packing house, armazém e expedição permitem ver, em tempo real, volumes disponíveis por calibre e por validade, o que facilita prometer carga com segurança. Sensores de temperatura em caminhões e contêineres enviam alertas quando a cadeia fria sai da faixa, permitindo correções antes que o desvio comprometa o lote. Dashboards simples, com indicadores de taxa de quebra, variação de peso e tempo de ciclo entre coleta e estufagem, orientam decisões diárias.

No processamento, pasteurizadores com controle fino de tempo e temperatura, trocadores eficientes e linhas de envase asséptico elevam produtividade e estabilidade de produto. Na secagem por spray dryer, curvas de processo ajustadas ao tipo de ovo melhoram rendimento e atributos funcionais. No armazém, boas práticas de paletização, uso de cantoneiras e filmes e inspeção rápida de integridade antes do carregamento evitam retrabalho na doca. A soma desses ganhos cria vantagem competitiva difícil de replicar apenas com preço.

Passo a passo para começar a exportar ovos do Brasil

Antes do primeiro contêiner, vale seguir um roteiro para reduzir riscos e encurtar a curva de aprendizado. O ponto de partida é avaliar a maturidade dos processos internos e eleger um destino compatível com a estrutura atual. Mercados mais próximos e com exigências documentais menos complexas servem de degrau para saltos maiores. O relacionamento com tradings e distribuidores que já operam proteína no destino também acelera o acerto de rota.

Na prática, o caminho costuma incluir etapas claras, executadas em paralelo quando possível para ganhar tempo e tração comercial.

  • Mapear mercados-alvo e requisitos regulatórios por produto (in natura, líquido, pó).
  • Checar habilitação da planta e documentos exigidos pelo país de destino.
  • Padronizar classificação e embalagem com códigos de lote e validade no rótulo.
  • Negociar espaço com armadores e simular transit time real por rota e por estação.
  • Definir Incoterm, travar parte do câmbio e montar a planilha de custos completa.
  • Firmar contratos com cláusulas de qualidade, tolerâncias de quebra e procedimentos de inspeção.
  • Executar embarques-piloto em volumes menores para validar embalagem e cadeia fria.
  • Coletar feedback do importador e ajustar especificações e processos.
  • Escalar volumes com janelas de embarque fixas e programação de coleta alinhada.
  • Monitorar indicadores de performance e realizar auditorias internas por embarque.

Perguntas frequentes de compradores e como responder

Que padrão vocês entregam? A resposta deve trazer calibres com faixas de peso em gramas, tolerâncias máximas de desvio e índice de quebras aceitável por inspeção na chegada. Inclua o modelo de amostragem e o procedimento para contestação. Isso evita discussões caso o lote apresente variação dentro do previsto. Quanto mais objetivo, melhor: números, métodos e prazos escritos no contrato e no anexo técnico.

Como é a rastreabilidade? Explique o sistema de codificação de bandejas, caixas e paletes, e mostre como localizar, em minutos, o histórico de um lote. Envie exemplos de etiquetas e uma foto do código aplicado. Se houver integração com sistemas do cliente, descreva formatos de arquivo e frequência de envio. Transparência nessa etapa reforça confiança e encurta a aprovação técnica.

Quais são as garantias de qualidade? Liste os pontos de controle, a periodicidade de testes e os limites adotados. Em derivados, informe parâmetros microbiológicos e físico-químicos com método analítico de referência. Em in natura, detalhe processos de lavagem quando exigidos pelo destino, desinfecção, cadeia fria e monitoramentos de temperatura. Ofereça relatórios-padrão por embarque e disponibilize dossiês mediante solicitação.

Como é a embalagem? Descreva materiais, dimensões, empilhamento recomendado, quantidade por palete e resistência. Informe se a bandeja é de polpa moldada, PET ou PEAD e como a carga é estabilizada (filme, fitas, cantoneiras). Anexe especificações técnicas e fotos de paletes prontos para embarque. Isso ajuda o importador a planejar armazenagem e manuseio no destino.

Operação logística: portos, rotas e janelas de embarque

Escolher o porto de saída é uma decisão de custo e tempo. A proximidade do packing house reduz deslocamento terrestre e risco, mas a disponibilidade de navios e a frequência de escalas podem pesar mais. Em rotas para o Oriente Médio, corredores tradicionais tendem a oferecer mais opções de janela. Para a América do Norte, o equilíbrio entre tempo de trânsito e confiabilidade da linha define o melhor ponto de embarque. Em épocas de pico, consolidar volumes e negociar pacotes trimestrais com armadores aumenta previsibilidade e reduz variações semanais de tarifa.

A estufagem deve ocorrer com checklists claros: inspeção do contêiner (integridade, odores, vedação), configuração de temperatura e ventilação, posicionamento dos paletes e colocação de data loggers. No recebimento no destino, o importador precisa ter um procedimento espelho para abrir o lacre, verificar temperatura registrada e medir quebras com o mesmo método definido no contrato. Esse alinhamento, combinado a fotos datadas e relatórios simples, evita controvérsias e libera a carga mais rápido.

Qualidade do ovo: atributos que o comprador mede

No in natura, coloração de gema, altura de albúmen e índice Haugh são referências frequentes, somadas à integridade da casca e à uniformidade de tamanho. A origem da ração e a idade do lote influenciam esses indicadores e, por isso, o planejamento de abate de lotes de postura mais velha ou mais nova precisa conversar com o comercial. Em mercados que valorizam apresentação, limpo visual e bandeja consistente pesam tanto quanto métricas laboratoriais.

Nos processados, a pauta é funcionalidade. Em pó de clara, por exemplo, estabilidade de espuma e capacidade de aeração importam para confeitaria. Em gema, cor, emulsificação e comportamento térmico. No líquido, viscosidade e desempenho em processos industriais repetitivos. Ensaios de bancada com amostras do cliente, antes do contrato, reduzem ajuste após o primeiro embarque e aceleram aprovações.

Comercial e contratos: cláusulas que evitam conflito

Especificar tolerâncias é o coração do acordo. Percentual de quebras aceitável por inspeção, padrão de amostragem, prazo para reclamações e método de arbitragem devem estar claros. Em cargas com múltiplos calibres, definir a distribuição por faixa e as penalidades por desvio evita reprecificação no destino. Em processados, anexos técnicos com parâmetros e métodos analíticos reconhecidos dão base objetiva para a conferência do lote.

Cobertura de seguro, condições de pagamento e garantias também merecem atenção. Carta de crédito, adiantamento com saldo após BL ou pagamento contra documentos são modalidades usadas conforme o histórico entre as partes. Juros por atraso, multas e descontos por avaria têm de ser proporcionais e factíveis. Para operações recorrentes, contratos-quadro com pedidos emitidos por período simplificam a gestão e reduzem custo administrativo.

Financiamento e capital de giro: o combustível da exportação

Exportar consome caixa antes de gerar recebimento. Entre comprar insumos, alimentar lotes, classificar, embalar, transportar e embarcar, passam-se semanas. Linhas de crédito direcionadas ao comércio exterior ajudam a atravessar esse ciclo com fôlego. Modalidades de adiantamento de contrato de câmbio e financiamento à produção permitem planejar volumes, cumprir janelas e evitar vender por necessidade de caixa no pior momento do mercado.

A gestão do risco cambial completa o quadro. Definir políticas de hedge – com travas parciais e prazos compatíveis com o giro – reduz volatilidade de resultados. É recomendável separar a conta do câmbio da eficiência operacional para entender onde de fato a margem está sendo construída ou perdida. Relatórios mensais que cruzem preço, câmbio, frete e quebras dão clareza para ajustar a rota.

Indicadores para acompanhar no dia a dia

Alguns números orientam decisões rápidas. Tempo médio entre postura e estufagem, temperatura média registrada por data logger, percentual de bandejas reclassificadas por lote e índice de reclamação por embarque são termômetros da operação. Na parte comercial, taxa de conversão de amostras em pedidos, lead time de aprovação técnica, variação de frete por semana e giro médio no destino ajudam a dimensionar volumes e calibrar preços.

Em nível estratégico, acompanhar habilitações de plantas, janelas de colheita de milho, custos de embalagem e sazonalidade de demanda de destinos-chave antecipa movimentos. Cruce essas informações com a agenda de manutenção de equipamentos e com o plano de lotes na granja para evitar gargalos em períodos de pico. A disciplina de olhar dados simples, de forma sistemática, sustenta crescimento com menos sobressaltos.

O salto dos números: o que os embarques recentes sinalizam

Os embarques no começo do ano mostraram aceleração que não passa despercebida. Em um dos meses, o volume exportado avançou quase quatro vezes em relação ao mesmo período do ano anterior, com receita mais que triplicada. No acumulado de cinco meses, as toneladas enviadas cresceram em ritmo de três dígitos, com avanço proporcional da receita em dólar. Ainda é uma base pequena se comparada à carne de frango, mas o vetor aponta para expansão.

O desafio é transformar picos em recorrência. Isso depende de contratos de médio prazo com clientes que valorizem padrão e entrega. Depende, também, de manter o ritmo de habilitações, de consolidar linhas de pasteurização e secagem e de assegurar janelas com armadores em rotas críticas. A presença de grupos com escala global tende a ajudar nesse alinhamento.

Gente e cultura: treinar times para o jogo internacional

Exportar exige rotina disciplinada. Times de qualidade precisam dominar normas do país de destino e saber traduzir exigências técnicas para o chão de fábrica. A equipe de logística, por sua vez, opera com janelas estreitas e documentação sem margem para erro. No comercial, conhecer a linguagem do comprador, tratar objeções com dados e construir confiança com respostas rápidas faz diferença entre orçamento e pedido fechado.

Programas de treinamento que percorrem todo o fluxo – da coleta ao BL – criam visão sistêmica e evitam silos. Simulações de embarque, com prazos reais e checklists, ajudam a antecipar falhas. Manuais simples, com fotos de bons e maus exemplos, fixam padrão a ser seguido. Cultura de registro e rastreabilidade fecha o ciclo e sustenta a governança que os importadores esperam.

O que observar nos próximos meses

A estabilidade da oferta doméstica e a evolução das habilitações serão termômetros do ritmo de embarques. Se as linhas de processados ganharem tração, a pauta tende a diversificar e a reduzir a dependência de janelas específicas de in natura. A consolidação de operações com presença internacional, como as recentes aquisições feitas por grupos brasileiros, tende a encurtar o caminho entre a fábrica e o cliente, com ganhos em previsibilidade de pedido e em acesso a novos canais.

No câmbio e no frete, oscilações continuam no radar. Empresas que negociarem pacotes com armadores e que protegerem parte do câmbio devem atravessar melhor a volatilidade. O recado, porém, é claro: há espaço para o ovo brasileiro nos principais corredores do comércio mundial. Transformar a oportunidade em rotina depende de execução consistente, de contratos bem escritos e de uma cadeia organizada para entregar, semana após semana, o padrão que o mundo quer comprar.



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