Erros na academia que causam lesão e como evitá-los

Erros na academia que causam lesão e como evitá-los

O impacto real de deslizes no treino para o seu corpo

Lesões em treinos de musculação e cardio raramente são “acidentes” isolados; quase sempre nascem de hábitos aparentemente inofensivos repetidos ao longo de semanas. Pequenos erros de técnica, progressões apressadas ou descuidos na recuperação somam microestresses que, com o tempo, cobram um preço em dores, pausas forçadas e perda de consistência.

A boa notícia é que a maioria desses problemas é evitável com ajustes simples e mensuráveis. Este guia apresenta os principais “não fazer”, sempre com a alternativa correta logo em seguida, para que você treine com segurança e continue avançando de forma sustentável.

Sinais de alerta antes, durante e depois do exercício

Seu corpo avisa quando algo está saindo do trilho. Desconfortos que “estranham” a execução, dor que aumenta a cada repetição ou fadiga que não melhora após boas noites de sono são pistas claras de que a carga, a técnica ou a recuperação precisam de ajustes imediatos.

Entender esses sinais reduz paradas longas. Use métricas simples para decidir: intensidade percebida (RPE), tempo de execução, qualidade da amplitude de movimento e sono. Se dois ou mais parâmetros degradam por vários treinos seguidos, é hora de intervir.

  • Dor pontual, aguda ou “em facada” durante o movimento: interrompa imediatamente e reavalie a técnica.
  • Inchaço persistente ou limitação de movimento no dia seguinte: reduza volume/carga na próxima sessão.
  • Queda de desempenho por 3–4 treinos com sono adequado: sinal de excesso; ajuste 10–20% para baixo no volume.

Erros técnicos que mais sobrecarregam articulações

Erros de execução amplificam forças onde não deveriam. Em geral, o problema não é “falta de força”, e sim alavancas ruins, amplitudes encurtadas e perda de controle. O resultado: joelhos, ombros e lombar absorvem o que os músculos não controlam.

A seguir, veja os deslizes mais comuns e a forma simples de corrigi-los. Sempre que aparecer um termo técnico, ele vem definido rapidamente para facilitar: ROM (amplitude de movimento), RPE (esforço percebido em escala de 0 a 10), HIIT (intervalos de alta intensidade alternados com descanso).

Não aquecer de forma progressiva

Pular aquecimento ou fazer apenas 2 minutos de esteira não prepara articulações e sistema nervoso para cargas desafiadoras. Sem aumento gradual de fluxo sanguíneo e ativação específica, a técnica degrada nas primeiras séries e o risco de compensações dispara.

Faça um aquecimento de 8–12 minutos: 3–5 minutos de cardio leve, seguido de 2–3 exercícios de mobilidade do segmento que será treinado e 2–3 séries de aproximação com 40–60–80% da carga-alvo. Isso reduz atritos iniciais e melhora a sensação de controle na primeira série efetiva.

  • Miniroteiro: 3’ caminhando + 6 repetições de mobilidade de quadril/ombros + 2 séries de aquecimento com 50% e 70% da carga.
  • Regra prática: se a 1ª série “valendo” parecer pior que a de aquecimento, seu aquecimento foi curto.

Levantar mais peso do que controla (ego na barra)

Escolher uma carga que exige balanço do corpo, “roubo” ou perda de trajetória faz a tensão fugir do músculo-alvo para tendões e lombar. É o clássico caminho para dores no ombro no supino ou no bíceps no levantamento.

Use o RPE como freio: mantenha a maior parte das séries entre RPE 6–8 (sobram 2–4 repetições em reserva). Progrida 2,5–5% por semana no máximo. Se a forma piorar, reduza a carga até conseguir repetir a última série com técnica igual à primeira.

  • Critério de controle: 1–2 segundos na fase de descida, pausa breve no ponto crítico, subida sem “tranco”.
  • Se a barra muda de trajetória ou o tronco balança, a série acabou — não “force” mais 1 repetição.

Amplitude curta e postura comprometida em padrões básicos

Agachar raso, fazer remadas puxando com o pescoço ou “tocar e subir” no supino reduz o estímulo muscular e joga estresse nas articulações. A ROM encurtada cria ilusão de progresso rápido, mas acumula sobrecargas mal distribuídas.

Padronize marcos: no agachamento, coxas pelo menos paralelas ao solo mantendo coluna neutra; na remada, escápulas retraídas e abdômen firme; no supino, ombros para baixo e para trás, antebraços perpendiculares à barra na metade do movimento. Diminua a carga até manter esses marcos sem dor.

  • Teste do celular: grave 1 série/semana e verifique se a ROM se mantém igual do início ao fim.
  • Se perder a ROM, corte 5–10% da carga e reconstrua o padrão.

Prender a respiração sem técnica adequada

Sustentar o ar de forma descoordenada aumenta a pressão interna sem estabilizar de verdade, o que “abre” a lombar e descontrola o movimento. Em cargas moderadas, isso gera tontura; em cargas altas, favorece compensações perigosas.

Adote o padrão simples: inspire pelo nariz enchendo a barriga (não o peito), trave levemente o abdômen como se fosse receber um “toque” e solte o ar controlando a fase de subida. Em séries muito pesadas, a técnica de respiração pode incluir breves apneias, mas com orientação profissional.

  • Sinal de correção: costelas não “abrem” para fora; a barriga expande e o tronco fica estável.
  • Se houver tontura ou visão turva, sente-se, respire e encerre a série.

Ignorar ajustes das máquinas e configurações de banco

Treinar com bancos muito altos, selins baixos ou encostos mal posicionados muda ângulos articulares e desloca o esforço. É comum ver ombros sobrecarregados em puxadas por causa de peitorais “abertos” e escápulas sem apoio.

Antes da primeira série, ajuste pontos-chave: joelhos alinhados ao eixo da máquina, encosto que permita escápulas firmes, pegadas que mantenham punhos neutros. Se o equipamento tiver marcas numeradas, anote seu número para repetir na próxima sessão.

  • Regra rápida: articulação que se move deve estar alinhada ao pivô do aparelho.
  • Anote: “Cadeira extensora — encosto 4, altura 3; Puxada — banco 2, rolo 3”.

Entrar em HIIT sem base aeróbica

HIIT é eficiente, mas exige técnica e base. Pular direto para sprints maximiza impacto excêntrico e picos de frequência cardíaca, aumentando o risco para joelhos, tornozelos e panturrilhas.

Construa 4–6 semanas com cardio leve a moderado (Zona 2: você consegue falar frases curtas) por 20–30 minutos, 2–4 vezes/semana. Só então introduza 1 sessão de HIIT com 4–6 tiros curtos, deixando 48–72h entre estímulos intensos para reparar tecidos.

  • Protocolo inicial: 5 × 30s forte + 90s leve.
  • Critério de progressão: aumentar 1 tiro ou 5s por semana, não os dois.

Carga, volume e recuperação sem complicação

Três variáveis regem o risco de lesão: carga (peso), volume (séries × repetições × carga) e recuperação (sono, alimentação, descanso entre sessões). O excesso em qualquer uma delas, sem contrapesos, costuma anteceder dores persistentes.

Diretrizes simples funcionam: 10–20 séries por semana por grupo muscular para a maioria das pessoas, com 1–3 repetições “em reserva” (RPE 7–9) nas séries principais. Entre sessões de mesmo grupo, dê 48–72h. Durma 7–9 horas; abaixo de 6 horas aumenta a percepção de dor e reduz controle motor.

  • Exemplo prático: se você faz 12 séries de peito/semana e sente dor anterior no ombro, reduza para 8–10 e priorize variações que não irritem a articulação (halteres com pegada neutra).
  • Se o tempo é curto, corte volume antes de cortar aquecimento; o segundo protege o primeiro.

Protocolos prontos: aquecimento, execução e pós-treino

Coloque em prática com miniroteiros objetivos. Ao seguir passos na ordem, você reduz decisões no calor do treino e mantém a técnica sob controle mesmo em dias cansativos.

Adapte as sugestões ao seu nível, mas preserve os critérios de qualidade: movimento fluido, sem dor aguda e com respiração coordenada. Se algo “trava”, regredimos um passo e retomamos com segurança.

Aquecimento de 10 minutos (universais)

Comece elevando levemente a frequência cardíaca e mobilizando as articulações que serão usadas no treino. A ideia é “ligar” o padrão motor, não cansar.

Finalize com séries de aproximação específicas do primeiro exercício principal para consolidar a trajetória.

  1. 3’ cardio leve (caminhada, bike).
  2. 2’ mobilidade articular (quadril/ombros/torácica).
  3. 2’ ativações: ponte de glúteos, prancha, Y-T-W para escápulas (6–8 repetições).
  4. 3’ séries de aproximação: 8 reps a 50% + 5 reps a 70% da carga do exercício principal.

Execução segura das séries (4 passos)

Para cada série, repita um check rápido de posicionamento. Isso padroniza seu movimento e reduz a variabilidade que machuca.

Se perder um dos passos, pause, ajuste e só então retome. Melhor 1 repetição a menos que uma lesão a mais.

  1. Base estável: pés firmes, escápulas ativas, abdômen engajado.
  2. Ritmo: 2s descida, 1s pausa, 1–2s subida.
  3. Respiração: inspire na descida, solte no esforço.
  4. Encerrar limpo: pare 1–3 reps antes da falha técnica (RPE 7–9).

Pós-treino para recuperar melhor

A recuperação começa quando a última série termina. Pequenas ações após o treino aceleram a volta ao estado basal e reduzem rigidez no dia seguinte.

O objetivo não é “gastar calorias extras”, e sim sinalizar ao corpo que o estresse acabou e reparar tecidos.

  • 5’ de caminhada leve ou pedal girando solto.
  • Hidratação: 300–500 ml de água nas 2h seguintes.
  • Proteína no dia: 1,2–1,6 g/kg distribuídos em 3–4 refeições.
  • Sono: defina “hora de desligar” 60–90 minutos antes de deitar.

Plano seguro de 30 dias para voltar ao ritmo

Se você está retomando a academia, avance em blocos semanais com metas claras. O foco é consolidar técnica e tolerância, não “provar” nada no primeiro mês. Preferimos encerrar treinos com sensação de “poderia fazer mais” do que estourar limites cedo demais.

Use RPE e dor como bússolas. Qualquer dor aguda cancela o exercício do dia; desconforto leve e simétrico é aceitável. Anote cargas, reps e ajustes para repetir condições quando algo funcionar bem.

Semanas 1–2: base técnica e constância

Treine 3x/semana em full body com 6–8 exercícios totais por sessão, RPE 6–7, 2–3 séries por exercício. Cardio leve 20’ 2x/semana. Priorize repetir os mesmos padrões para aprender a execução.

Critérios de avanço: manter ROM completa e ritmo estável em todas as séries por dois treinos seguidos.

  • Exemplo de sessão: agachar, empurrar (supino/halteres), puxar (remada), dobradiça (terra romeno leve), core (prancha), panturrilha.
  • Progresso: +2,5% de carga ou +1 repetição por exercício quando a forma estiver sólida.

Semanas 3–4: progressão moderada e especificidade

Mantenha 3–4 sessões/semana. Suba para 3–4 séries nos exercícios principais e RPE 7–8. Inclua 1 sessão de intervalos moderados (ex.: 6 × 30s forte/90s leve) apenas se a base aeróbica estiver ok.

Se acumular fadiga (RPE alto demais, sono ruim), reduza 20% do volume por 1 semana e retome. O objetivo é chegar ao fim do mês treinando melhor do que começou, sem dores novas.

  • Meta de consistência: 10–12 sessões no mês.
  • Meta de técnica: ROM estável em vídeo e respiração coordenada.

Checklist rápido de segurança antes de cada treino

Um checklist de 60 segundos evita metade dos problemas comuns. Revise postura, cargas e ajustes de equipamento antes da primeira série valer de fato. Pequenos detalhes poupam semanas de frustração.

Use este roteiro no celular ou mentalmente. Se marcar “não” em algum item, corrija imediatamente antes de seguir.

  • Aquecimento feito (8–12 minutos) e primeira série de aproximação concluída.
  • Máquina ajustada ao seu corpo; anotações de altura/posição conferidas.
  • Trajetória clara do movimento e ROM que você consegue repetir sem dor aguda.
  • Carga que permite 1–3 reps “em reserva” (RPE ≤ 9) sem “roubar”.
  • Plano de encerramento: se a técnica degradar, parar sem “aquela última” repetição.

Quando parar e buscar orientação

Pare o exercício e procure avaliação profissional se houver dor que irradia, dormência, perda de força súbita, estalos com dor ou inchaço imediato. Não “teste” novamente no dia: troque por cardio leve e registre o que aconteceu (exercício, carga, repetição em que doeu).

Se dores leves persistirem por mais de 7–10 dias, reduza volume em 30–50% por uma semana e ajuste a técnica. Caso não melhore, a avaliação individualizada é o próximo passo. Este conteúdo é informativo e não substitui a orientação de profissionais de saúde ou de educação física.

  • Critérios objetivos: dor acima de 6/10, limitação de ROM relevante, instabilidade articular.
  • Registre sempre: exercício, variação, carga, reps, RPE, lado afetado e sensação específica.
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