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Automóveis – Carro de plástico ainda é sonho, mas polímeros continuam a deslocar os metais em aplicações cada vez mais severas

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eXasis, carro de “vidro”criado por Rinspeed e Bayer destaca o PC

Para os que não acreditavam nas visões futuristas do K67, um carro todo feito de polímeros apresentado na edição de 1967 da K, a maior feira mundial de plásticos, o futuro se mostrou surpreendente. Mesmo que os automóveis possuam rincões onde as resinas terão muitas dificuldades em penetrar, o avanço desses materiais sobre os metais se mantém em marcha firme, e muitas das idéias inovadoras apresentadas no carro visionário há quarenta anos são realidade.

Esse automóvel experimental, criado pela Bayer para mostrar as possibilidades de materiais então novos para a indústria mundial, iniciou uma tradição na empresa, que com sua parceira Rinspeed tem apostado na criação de bólidos futuristas como ferramenta para convencer engenheiros e designers a aceitar as alternativas oferecidas por polímeros. O mais novo deles é o eXasis, um veículo de “vidro” que celebra os quarenta anos do K67, além dos trinta anos da parceira Rinspeed. As aspas se justificam, pois a transparência, principal característica do modelo, é obra não do vidro, mas do policarbonato (PC).

“Esses carros têm a função de mostrar o que é possível na indústria, onde se pode chegar. Devem demonstrar interesse, curiosidade, e que graças aos produtos da Bayer é possível fazer”, explica Henning von Koss, vice-presidente da empresa alemã no Brasil e na região da América Latina.

Mas a indústria automobilística ainda resiste? As pessoas envolvidas na produção de veículos ainda acham que não é possível? “Na verdade elas não se atrevem, resistem em testar novas coisas, ou não conhecem o uso. Por isso, a função de um carro como o eXasis é despertar o interesse pela possibilidade e pela variedade”, reafirma von Koss.

O PC tem dominado aplicações como lentes de faróis há alguns anos, mas suas propriedades, em particular as altas resistência térmica e mecânica, lhe permitem disputar espaço em outras aplicações, especialmente nas janelas automotivas, substituindo o vidro. Problemas de fabricação de peças grandes de policarbonato e sua resistência a riscos, antigos pontos de dificuldade para essa resina, já foram plenamente resolvidos. A injeção de peças com até mais de 1 m2 de área precisam de alto controle do processo, principalmente na etapa de resfriamento, que deve ser ordenado, para não resultar em tensões residuais internas. No tocante aos riscos, o PC sempre terá essa fraqueza, superada por um truque com revestimentos resistentes. “No eXasis, um filme baseado em um sistema poliuretânico confere essa resistência à abrasão”, diz Thomas Schindler, um dos diretores da empresa.

Mesmo que a aplicação de um filme contorne em parte o problema da abrasão, as aplicações com menor risco de exposição à abrasão concentram o uso do PC, como nos tetos solares. Mas ver o plástico em uma janela frontal é um passo que ainda não foi atingido, embora janelas laterais e traseiras já sejam realidade.

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Schindler vê dificuldade para PC em janela frontal

O vidro frontal também está sujeito à ação dos limpadores de pára-brisas, uma lixa a agir sobre o material. O fato único que impede a utilização, entretanto, é o problema dos riscos, pois as características da resina de engenharia (leveza, robustez, transparência) são perfeitas para a aplicação.

Além de uma resistência térmica que oscila entre 120º C a 125º C (o Vicat é de 125º C), o polímero não estilhaça, em caso de colisões, e oferece maior liberdade de design e facilidade de moldagem, em comparação ao vidro.

O PC também pode ser utilizado na forma de blendas, por exemplo, em aplicações de co-injeção. Na versão luxuosa do Alfa Romeo 166, uma peça do console central, confeccionada em blenda de PC, serve como base para botões que acionam a navegação por satélite, o tocador de CDs, o telefone ou o sistema de ar condicionado. Esses botões são moldados em resina pura com co-injeção de até quatro cores e com impressão a laser de símbolos, facilitando a sua visualização durante o dia ou à noite (com ajuda de iluminação instalada na face posterior do console). Mesmo no Brasil, esse mercado de peças do painel é promissor para os próximos anos, nos modelos exportados, pois são aplicações ainda dominadas pelo polipropileno.

As blendas de PC, além disso, são candidatas quase sob medida para a cobertura com revestimentos soft touch, muito em voga em carros de maior valor agregado. A Bayer pretende atuar nessa área, pois em carros como os maiores modelos Mercedes, os controles laterais de elevação elétrica do vidro são um filão interessante ao apelo do toque suave.

O mercado de ônibus no Brasil, o segundo maior do mundo, e que conta com uma grande fabricante, a Marcopolo, também está na mira da empresa alemã, pelo seu potencial para absorver quase toda gama de produtos de produtos que a produtora de resinas dispõe para a indústria de transporte. “Na verdade, já somos fornecedores desse mercado de veículos maiores, mas pretendemos atacá-lo de uma maneira mais conceitual. A idéia é ser visto como o facilitador da inovação, o provedor de soluções para o usuário final – o fabricante de veículos”, explica Schindler.