Avicultura em Crise: O Que A Queda da Carne de Frango e dos Ovos Revela Sobre o Futuro do Mercado?

A avicultura brasileira experimentou um mês de junho crítico, especialmente para a carne de frango, que viu seu preço no atacado da Grande São Paulo cair para o menor nível em 18 anos. A média ficou em R$ 7,50/kg, representando uma diminuição de 13,4% em relação a maio. A causa principal para essa drástica desvalorização foi a confirmação de um surto de gripe aviária em uma granja em Montenegro, no Rio Grande do Sul, em 15 de maio. Isso acarretou a suspensão imediata das exportações de frango por vários países, resultando em uma pressão significativa nas vendas internas.

Após o Brasil recuperar a certificação de livre da gripe aviária em 18 de junho, as expectativas de recuperação começaram a surgir. Porém, até que o mercado se restabeleça e a confiança dos importadores seja totalmente recuperada, as quedas iniciais impactaram de maneira severa as cotações. Mesmo com algumas reações positivas nas semanas seguintes, os aumentos ainda são insuficientes para cobrir as perdas acentuadas observadas no começo do mês.

O segmento de ovos também não ficou imune às flutuações de preços. Na região produtora de Bastos, por exemplo, o ovo branco tipo extra (FOB na granja) teve uma média de R$ 164,43/caixa, o que corresponde a uma queda de 1,5% em relação ao mês anterior. O ovo vermelho viu uma variação negativa um pouco maior, com preços na média de R$ 184,84/caixa. Este cenário desanimador é atenuado pelo fato de que o avicultor paulista viu seu poder de compra aumentar em relação a insumos críticos como milho e farelo de soja, que caíram na mesma proporção.

Na região de Campinas, por exemplo, o milho teve uma desvalorização de 7%, caindo para R$ 68,15/saca. O farelo de soja segue a mesma tendência, com uma redução de 4,9%, alcançando R$ 1.705,25/tonelada. Portanto, embora os preços dos ovos tenham recuado, a diminuição nos custos de produção oferece um alívio temporário para os produtores, facilitando a continuidade das operações, especialmente considerando o impacto sazonal da demanda.

A perspectiva para a avicultura no Brasil é de cautela, mas com certa expectativa de recuperação. A velocidade dessa recuperação depende enormemente de duas frentes: a reabertura dos mercados internacionais e a normalização da demanda interna. A competitividade da carne de frango em comparação a outras proteínas, como a suína e a bovina, pode ajudar na resiliência das vendas no mercado doméstico.

No segmento de ovos, a perspectiva se mantém otimista, com uma relação favorável entre os preços dos insumos e do produto final. Mesmo considerando as flutuações típicas na demanda, o equilíbrio oferece uma margem de rentabilidade que pode apoiar os produtores durante esta fase de transição.

• Status sanitário e barreiras comerciais: Surtos de gripe aviária e outras doenças avícolas podem causar impactos significativos, incluindo a suspensão de exportações. A recuperação do status sanitário é crucial para a restauração da confiança internacional.
• Custos de produção: O milho e o farelo de soja compõem a maior parte dos custos operacionais. Variações nos preços desses insumos impactam diretamente a lucratividade dos avicultores.
• Demanda interna e poder de compra: O consumo de frango e ovos é sensível a alterações no poder de compra do consumidor. Crises econômicas e períodos de desemprego aumentam a pressão sobre a demanda.
• Competitividade com outras proteínas: O preço de carnes bovina e suína influencia diretamente a demanda por produtos avícolas. Quando essas alternativas são mais baratas, os consumidores tendem a optar por elas.
• Mercado externo e taxas de câmbio: As exportações são um pilar essencial para a avicultura no Brasil. A demanda internacional, especialmente de grandes importadores, e as flutuações cambiais afetam a rentabilidade das vendas externas.

A gripe aviária teve um impacto devastador no mercado avícola brasileiro. A descoberta do surto em maio levou a uma série de reações em cadeia, incluindo o fechamento de mercados internacionais e uma subsequente queda drástica nos preços. Os avicultores enfrentam a pressão não apenas de custos elevados, mas também do medo de novos surtos que poderiam prejudicar ainda mais a reputação do Brasil como exportador de proteínas.

A recuperação da confiança será gradual e exigirá esforços coordenados por parte das autoridades sanitárias e do setor privado. A pronta resposta e a transparência na comunicação sobre a saúde avícola brasileira tornarão a diferença nas negociações futuras.

A avicultura não opera em um vácuo; seu desempenho é intimamente ligado a tendências globais. Com a Guerra na Ucrânia e as flutuações nos preços dos grãos, os criadores de aves enfrentam um cenário complexo. A escassez global de grãos afeta os custos locais, enquanto fatores geopolíticos podem expandir ou restringir a demanda nos mercados internacionais.

A China, um dos principais importadores de carne de frango, também tem uma influência significativa. A recente redução do consumo de carne pelo país, combinada com a necessidade de reabastecimento após surtos de doença, sugerem que o Brasil precisa se adaptar rapidamente à nova realidade de exportação.

Em um cenário desafiador, a avicultura brasileira é forçada a se reinventar. As quedas nos preços de frango e ovos são alarmantes, mas as estratégias para restauração e regeneração são viáveis. Enquanto a recuperação do status sanitário e as condições de mercado continuam a se desenrolar, o futuro da avicultura no Brasil pode depender de como o setor gerencia as incertezas e se adapta a novas realidades econômicas e sanitárias.

Com uma gestão proativa e uma colaboração contínua entre os produtores, o governo e as agências regulatórias, é possível vislumbrar um restabelecimento da confiança no mercado. Assim, a avicultura pode novamente se tornar um dos pilares do agronegócio brasileiro, oferecendo segurança alimentar e oportunidades de crescimento econômico.