Brasil e México firmaram um Memorando de Entendimento que cria um marco legal para ampliar a cooperação agropecuária entre os dois países. O acordo foi assinado na quarta-feira (27), na Cidade do México, durante missão oficial liderada pelo vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin. O ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, e o secretário de Agricultura e Desenvolvimento Rural do México, Julio Antonio Berdegué Sacristán, participaram do ato.
O entendimento prevê troca de informações, visitas técnicas, apoio à gestão de risco sanitário e instrumentos para facilitar o comércio de produtos agrícolas e pecuários. O texto inclui temas como acompanhamento técnico a pequenos e médios produtores, sanidade animal e vegetal, pesquisa aplicada, inovação tecnológica, financiamento e seguro rural.
O que foi assinado
O documento oficial estabelece diretrizes para cooperação entre o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) e a Secretaria de Agricultura e Desenvolvimento Rural do México (Sader). O foco é criar um ambiente institucional estável que permita acelerar negociações sanitárias, impulsionar intercâmbios técnicos e ampliar o leque de produtos negociados. A partir do memorando, as áreas técnicas passam a ter base formal para planejar projetos conjuntos e realizar ações de campo.
Entre os eixos listados estão: melhoria de processos de vigilância animal e vegetal, desenvolvimento de capacidades laboratoriais, adoção de práticas de rastreabilidade, uso de dados para análise de risco e modernização de controles que afetam a fronteira comercial. O texto contempla ainda mecanismos para estimular financiamento e seguro rural, com a meta de reduzir riscos de produção e dar previsibilidade a investimentos de agricultores e frigoríficos.
A assinatura ocorre em um momento de intensificação do diálogo bilateral. Nos últimos anos, o México avançou na habilitação de plantas brasileiras e o Brasil consolidou embarques regulares de proteínas para o mercado mexicano. Com um marco legal claro, governos e setor privado esperam ganhar agilidade na solução de pendências técnicas e na abertura de novos fluxos de comércio.
O entendimento também estabelece a promoção de pesquisa conjunta, com possibilidade de projetos em áreas como genética, nutrição animal, manejo integrado de pragas, irrigação de precisão, bioinsumos de base industrial e ferramentas digitais para gestão de propriedades. A prioridade, segundo as delegações, é levar resultados práticos ao produtor e reduzir custos operacionais ao longo da cadeia.
Grupo de trabalho binacional: como vai funcionar
O memorando cria um grupo de trabalho com representantes técnicos do Mapa e da Sader. Esse time será responsável por identificar áreas de interesse comum, definir metas e prazos, coordenar visitas técnicas e acompanhar o cumprimento do Plano de Trabalho. O formato facilita a tomada de decisão: os técnicos analisam as demandas e elevam ao nível ministerial apenas o que exigir aval político, encurtando o caminho entre diagnóstico e execução.
A governança prevista inclui reuniões periódicas, relatórios de progresso e atualização do plano sempre que houver avanço nas negociações ou surgirem novas prioridades. A dinâmica é orientada por resultados: para cada tema — por exemplo, habilitação de plantas, certificação sanitária ou harmonização de certificações — serão definidos indicadores, como prazos de análise, número de missões concluídas e quantidade de dossiês avaliados.
O grupo também vai mapear gargalos operacionais. Entre eles, diferenças de procedimentos entre agências, exigências documentais redundantes, etapas de inspeção que podem ser integradas e pontos logísticos sensíveis, como inspeções em portos e aeroportos. Ao identificar esses entraves, a equipe poderá recomendar ajustes normativos e pilotos de facilitação de comércio.
Outro papel central do grupo será difundir boas práticas ao setor produtivo. Guias de requisitos, modelos de certificados e checklists podem reduzir erros na preparação de lotes e acelerar liberações. A expectativa é que, com a padronização, se diminuam indeferimentos por falhas formais e se evitem retrabalhos na documentação sanitária e aduaneira.
Cooperação sanitária e rastreabilidade: foco em riscos e conformidade
O acordo prioriza sanidade animal e vegetal, com ênfase em vigilância, diagnóstico e resposta rápida a incidentes. Um dos pontos discutidos foi a rastreabilidade bovina, destacada pelo ministro Carlos Fávaro como compromisso do Brasil. O rastreamento facilita auditorias, permite comprovar origem, datas de movimentação e condições de manejo, e dá transparência a inspeções realizadas por autoridades mexicanas e brasileiras.
Na prática, a rastreabilidade envolve o registro de eventos ao longo da vida do animal e a integração de bases de dados. Quanto mais completa a trilha de informações, maior a confiança regulatória na mercadoria exportada. Para frigoríficos, isso pode se traduzir em redução de pedidos de informação adicional, menos retenções de cargas e estabilidade de contratos. Para fazendas, abre portas a programas de compra com bonificação por conformidade.
No campo vegetal, a cooperação prevê alinhamento de medidas para pragas de importância quarentenária e padronização de protocolos de inspeção pré-embarque. Também estão no radar trocas sobre monitoramento de lavouras, amostragem e certificação fitossanitária, com o objetivo de garantir previsibilidade nos fluxos comerciais e diminuir custos de verificação na fronteira.
Ao alinhar metodologias e critérios de avaliação, Brasil e México tendem a reduzir assimetrias que costumam causar atrasos — por exemplo, exigências de laboratório que não conversam entre si ou sistemas de informação que não interoperam. A agenda inclui exercícios de simulação de resposta a eventos sanitários, que ajudam a treinar equipes e a validar rotinas de comunicação entre autoridades.
Proteínas animais: desempenho recente e espaço para crescimento
A liberação progressiva do mercado mexicano a carnes brasileiras foi citada como motor de negócios. Segundo avaliações apresentadas na reunião, as exportações de carne bovina do Brasil ao México cresceram cerca de 250% em dois anos e oito meses após a abertura. No mesmo período, as vendas de carne suína avançaram 95% e as de frango, 14%. Os números indicam que há apetite do mercado mexicano e capacidade de oferta por parte da indústria brasileira.
A cooperação técnica busca consolidar essa trajetória. A prioridade é dar robustez às habilitações já em vigor, evitar interrupções por questões documentais e avançar em novas plantas aptas a exportar. Também há espaço para ajuste de requisitos específicos, como equivalências de inspeção, formatos de certificados e rotulagem, temas que frequentemente exigem diálogo entre serviços veterinários oficiais.
Para os operadores, previsibilidade é decisiva. Contratos de fornecimento dependem de prazos de liberação estáveis, custos de frete competitivos e risco sanitário controlado. O memorando atende a essa demanda ao estabelecer canais diretos de comunicação técnica e parâmetros de análise compartilhados. A expectativa é ampliar lotes regulares, com menor variação de volumes e preços ao longo do ano.
Do lado mexicano, o abastecimento constante ajuda a mitigar pressões de preços internos. O país mantém políticas de combate à inflação de alimentos e a diversificação de fornecedores tende a reduzir choques de oferta. Para o Brasil, o mercado mexicano adiciona um destino relevante para carnes com alto valor agregado, fortalecendo o planejamento de plantas e a ocupação de linhas.
Com a cooperação formalizada, frigoríficos e tradings podem intensificar missões comerciais, alinhar padrões com compradores e estruturar carteiras de clientes com contratos de médio e longo prazos. A presença de um grupo técnico binacional reduz incertezas, sobretudo em momentos que exigem respostas rápidas, como revisões de certificados ou atualizações de listas de estabelecimentos habilitados.
Regionalização em casos aviários: o que significa para o comércio
O secretário mexicano Julio Berdegué se comprometeu a analisar, em até dez dias após eventual detecção de infecção em plantel aviário, um protocolo de regionalização para manter o fluxo das exportações brasileiras. Na prática, regionalização é a adoção de medidas restritivas focadas na área afetada, sem paralisar embarques de zonas livres. O conceito é usado internacionalmente para equilibrar controle sanitário e continuidade do comércio.
Quando um foco é identificado e notificado, autoridades delimitam a zona de proteção, intensificam a vigilância e aplicam medidas específicas na região. Ao mesmo tempo, certificam que os produtos provenientes de áreas não afetadas cumprem os requisitos de manejo, inspeção e transporte. Com o compromisso de análise célere, empresas podem reprogramar rotas logísticas e manter contratos com menor risco de cancelamento.
Para produtores de frango e ovos, previsibilidade nas regras é fundamental. Custos de alimentação, energia e logística são sensíveis a paradas de abate. Um protocolo claro reduz perdas sistêmicas, evita acúmulo de animais em granjas e protege margens em cadeias com alto giro. A regionalização, aliada a certificações e rastreabilidade, oferece um caminho de continuidade operacional em situações de estresse sanitário.
No lado regulatório, a coordenação entre serviços veterinários, aduanas e autoridades de portos é determinante. A proposta é avançar em fluxos de informação padronizados, listas atualizadas de áreas afetadas e exigências objetivas para revalidação de exportações. Essa previsibilidade favorece decisões logísticas, como escolha de portos e prazos de estufagem de contêineres.
Apoio a pequenos e médios produtores: assistência técnica e crédito
O memorando cita acompanhamento técnico a pequenos e médios produtores como área de interesse mútuo. A ideia é promover capacitação em manejo, boas práticas agropecuárias, gestão de custos e adequação a requisitos sanitários. Para esse público, conformidade é condição de acesso a mercados mais exigentes e a programas de compra. A cooperação pode resultar em cartilhas, cursos e protocolos simplificados que reduzam a burocracia do dia a dia na propriedade.
Crédito e seguro rural também aparecem no texto. Esses instrumentos funcionam como colchão para riscos climáticos e de mercado, protegendo o caixa da atividade. Ao compartilhar experiências de desenho de políticas e operação de programas, Brasil e México podem construir soluções com prêmios acessíveis, gatilhos de indenização objetivos e integração com práticas de mitigação de risco na lavoura e na pecuária.
Na ponta, o produtor tende a se beneficiar de canais diretos com assistência técnica. Linhas de crédito atreladas a metas de qualidade, protocolos de manejo e calendário sanitário ajudam a organizar a propriedade e preparar a documentação para auditorias. O resultado esperado é maior aderência a programas de compra, inclusive de frigoríficos que exigem padrões de rastreabilidade em gado, suínos e aves.
- Guias práticos de requisitos sanitários, com checklists de vacinação, controle de pragas e documentação de transporte;
- Modelos de registros para facilitar auditorias, como cadernos de campo digitais e fichas de movimentação;
- Orientação para acessar linhas de financiamento e seguro, com foco em fluxo de caixa e calendário de desembolsos da safra e do ciclo pecuário.
Pesquisa aplicada e inovação: onde a cooperação pode avançar
A agenda de pesquisa e inovação mira ganhos de produtividade e redução de perdas. Entre os campos com potencial de cooperação estão genética e melhoramento, nutrição de precisão, manejo integrado de pragas, automação de processos de ordenha e abate, e análise de dados para tomada de decisão. A integração de universidades, centros de pesquisa e empresas tende a acelerar a transferência de tecnologia ao produtor.
Outro vetor é o uso de sistemas digitais na gestão da cadeia. Soluções para captura de dados em campo, integração com ERPs de frigoríficos e emissão de certificados podem diminuir etapas manuais e reduzir erros de digitação. A troca de experiências sobre padrões de dados facilita a interoperabilidade entre plataformas e a checagem de conformidade por parte de autoridades e compradores internacionais.
Ferramentas de diagnóstico rápido também estão no horizonte. Kits e protocolos validados de análise laboratorial encurtam janelas de incerteza em casos suspeitos e dão segurança à manutenção de embarques. Em paralelo, programas de capacitação fortalecem a rede de laboratórios e técnicos de campo, melhorando a qualidade das amostras e a confiabilidade dos resultados.
Facilitação do comércio: documentos, inspeção e logística
O memorando prevê ações de facilitação do comércio bilateral. O objetivo é reduzir tempo e custo entre a confirmação do pedido e o desembaraço. Na prática, isso passa por padronizar certificados, eliminar redundâncias documentais e alinhar exigências de rotulagem. A harmonização diminui retrabalho e encurta o ciclo de exportação, fator decisivo para produtos perecíveis.
A cooperação também envolve inspeções. Missões presenciais e auditorias remotas podem ser planejadas com calendário previsível, permitindo que plantas industriais se preparem com antecedência. A clareza de critérios aumenta a taxa de conformidade e reduz ajustes de última hora. Na fronteira, a integração entre serviços sanitários e aduanas é ponto-chave para evitar filas e custos de armazenagem.
Do ponto de vista logístico, cadeias de frio, tempos de trânsito e janelas de atracação influenciam diretamente a qualidade ao destino. A partir do diálogo técnico, é possível definir procedimentos que preservem a integridade do produto, como priorização de cargas sensíveis, controles de temperatura e planos de contingência em caso de atrasos. O uso de dados de rastreamento de contêineres ajuda a antecipar gargalos e a reprogramar rotas.
Para empresas, alguns pontos práticos tendem a ser abordados nas próximas reuniões técnicas: equivalência de carimbos e formulários, digitalização de certificados, aceitação de traduções padronizadas e canais para esclarecimento de dúvidas antes do embarque. A convergência dessas frentes geralmente se traduz em maior previsibilidade de custos e melhor competitividade.
- Padronização de certificados sanitários e fitossanitários com campos equivalentes;
- Calendário anual de missões e de auditorias documentais;
- Protocolos de inspeção com checklists públicos e critérios objetivos de conformidade.
Produtos em pauta: pêssego mexicano e atum brasileiro
Durante a reunião, avançaram negociações para importação de pêssego mexicano pelo Brasil e para ampliação do mercado de atum brasileiro no México. Em ambos os casos, o trabalho envolve alinhar requisitos sanitários, definir modelos de certificação e avaliar estruturas logísticas adequadas ao perecível. O objetivo é assegurar regularidade de fornecimento e condições comerciais viáveis ao setor privado.
Para frutas, janelas de safra e protocolos fitossanitários determinam a viabilidade do negócio. A compatibilidade entre exigências de inspeção na origem, tratamentos pós-colheita e transporte refrigerado precisa ser detalhada. Já no caso do atum, a discussão inclui critérios de controle de qualidade, rastreabilidade do lote e pontos de desembarque e processamento. A coordenação entre as agências facilita autorizações e reduz o tempo entre interesse comercial e embarque efetivo.
Com a cooperação estabelecida, equipes técnicas podem realizar missões de verificação em pomares, empacotadoras, embarcações e plantas de processamento. Essa etapa costuma antecipar ajustes em certificações, rotulagem e documentação de origem. Para os exportadores, a clareza regulatória reduz custo de adaptação e melhora a previsibilidade dos contratos.
O que muda para empresas brasileiras: passos práticos
Com o marco legal em vigor, empresas interessadas no mercado mexicano podem se beneficiar de novas rotas institucionais. O primeiro movimento é revisar requisitos atuais do produto e checar se a planta está habilitada ou em processo de habilitação. Em seguida, é recomendável organizar dossiês técnicos e registros de auditorias, para acelerar respostas a eventuais solicitações de informação. O diálogo com compradores deve considerar logística, prazos de entrega e padrões de qualidade demandados pelo destino.
A rastreabilidade ganha peso na negociação. Manter cadastros atualizados, registros de movimentação, laudos e certificados facilita a comprovação de conformidade. As empresas também podem estruturar rotinas internas de checagem documental antes do embarque, reduzindo a chance de não conformidades. A participação em missões comerciais e em agendas de capacitação organizadas por órgãos de promoção ajuda a conectar fornecedores e compradores.
- Mapear requisitos por produto e estado mexicano de destino, quando aplicável;
- Organizar um repositório digital com certificados, relatórios de auditoria e fichas técnicas;
- Definir responsável interno por cada etapa: qualidade, documentação, logística e pós-venda;
- Simular tempos de trânsito e custos logísticos, com planos alternativos para eventuais atrasos;
- Acompanhar as comunicações do grupo de trabalho binacional para atualizar procedimentos.
Para pequenos e médios, redes de cooperativas e associações podem centralizar serviços de documentação, negociação de frete e contratação de seguro. Essa escala reduz custos fixos e permite cumprir exigências técnicas que, isoladamente, seriam mais onerosas. A cooperação entre Brasil e México tende a abrir espaço para soluções consorciadas, especialmente em cadeias de frutas, lácteos e proteínas.
É recomendável, ainda, mapear oportunidades de fornecimento em nichos específicos do varejo e do food service no México. Linhas premium, cortes porcionados e produtos prontos para consumo costumam requerer especificações de rotulagem e apresentação. O alinhamento prévio desses detalhes evita retrabalho e melhora a experiência do comprador no destino.
Quem esteve na reunião e o papel de cada um
A reunião ocorreu na sede da chancelaria mexicana e contou com a presença do vice-presidente Geraldo Alckmin, da ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, do presidente da Apex, Jorge Viana, dos embaixadores Francisco Canabrava e Celso de Tarso, do secretário de Comércio e Relações Internacionais do Mapa, Luis Rua, e de representantes do setor privado. Pelo lado mexicano, esteve o secretário Julio Antonio Berdegué, responsável pela política agrícola do país. O encontro ocorreu na quarta-feira (27) e marcou a assinatura do memorando de entendimento entre Mapa e Sader.
No plano político, a presença de autoridades econômicas brasileiras indica que a pauta vai além do técnico. A interface com comércio exterior, planejamento e promoção de exportações aparece como elemento central para transformar cooperação em negócios. Do lado mexicano, a orientação de governo é aprofundar a colaboração com o Brasil, inclusive em programas sociais ligados à segurança alimentar e combate à pobreza, agenda mencionada durante as conversas.
A participação de representantes diplomáticos e do setor empresarial contribui para dar tração às decisões. Em acordos dessa natureza, é comum que questões operacionais surjam após o início das tratativas — por exemplo, diferenças na interpretação de normas ou detalhamento de exigências de embalagem. Com as autoridades presentes, abre-se o canal para tratar essas dúvidas de forma coordenada e tempestiva.
Como o acordo pode influenciar preços e abastecimento
Para o consumidor, o efeito mais percebido ocorre quando cadeias de suprimento funcionam com previsibilidade. Em carnes e produtos frescos, interrupções costumam gerar picos de preço e prazos de entrega mais longos. Ao criar canais de solução rápida e a possibilidade de regionalizar restrições em casos específicos, o memorando ajuda a manter o fluxo de mercadorias. Esse ambiente tende a suavizar variações de oferta e apoiar estratégias de compras do varejo e do food service.
Na indústria, contratos com menor risco regulatório favorecem investimentos em capacidade e em diferenciação de produto. Com calendário de auditorias conhecido e requisitos estáveis, empresas conseguem planejar turnos, estoques e manutenção com mais precisão. O efeito é uma cadeia mais eficiente, com menor custo por unidade produzida e mais competitiva na disputa por prateleira no mercado mexicano.
Para o produtor rural, a previsibilidade de venda se traduz em decisões mais assertivas de compra de insumos e manejo de rebanho. Quando há segurança de que o mercado permanecerá aberto para animais e cortes sob determinados padrões, fica mais fácil ajustar confinamento, calendário de abate e escolha de genética. Isso reduz desperdícios e melhora a margem operacional no ciclo da pecuária e da avicultura.
Documentação e certificações: pontos de atenção para embarques
Em operações com o México, a documentação sanitária e aduaneira requer atenção às versões vigentes de certificados e às especificidades de cada produto. O grupo de trabalho binacional deve publicar orientações com modelos e campos exigidos para emissão correta. Enquanto isso, empresas podem adotar rotinas internas de conferência em duas etapas: a primeira no fechamento do pedido, alinhada ao comprador; a segunda no pré-embarque, checando numerações, assinaturas e datas.
A equivalência entre sistemas de inspeção também é tema recorrente. Para evitar divergências, é recomendável manter dossiês atualizados de auditorias, com registros fotográficos, relatórios e planos de ação. Esses materiais aceleram respostas a solicitações pontuais das autoridades e demonstram controle de processo. Em lotes de proteína animal, rastrear desde a origem até o container é um diferencial na análise documental.
- Conferir idioma e campos obrigatórios de certificados e rótulos;
- Garantir consistência entre documentos comerciais e sanitários;
- Manter comunicação ativa com o importador para validações prévias.
No caso de frutas e pescados, tratamentos pós-colheita, temperaturas, data de processamento e vida de prateleira devem constar nos documentos e ser compatíveis com a logística escolhida. Qualquer ajuste de última hora, como troca de navio, requer atualização dos papéis e sinalização imediata ao importador e às autoridades competentes para evitar retenções.
Visitas técnicas e capacitação: o que esperar nas próximas semanas
A partir do memorando, a tendência é iniciar um calendário de visitas técnicas, virtuais e presenciais. Essas missões servem para verificar in loco procedimentos de inspeção, avaliar instalações, alinhar terminologia regulatória e nivelar expectativas. Em paralelo, podem ser oferecidos treinamentos conjuntos sobre emissão de certificados, preenchimento de formulários e uso de sistemas eletrônicos, reduzindo erros que geram exigências complementares.
Capacitações costumam incluir simulações de incidentes sanitários, com definição de papéis, prazos e canais de comunicação entre os serviços oficiais. Esse tipo de exercício acelera a resposta em situações reais e ajuda a testar fluxos de informação. Para o setor privado, workshops são oportunidade para tirar dúvidas com as autoridades e alinhar processos internos às novas orientações.
Empresas que pretendem participar das primeiras janelas de auditoria ganham ao preparar com antecedência inventários de não conformidades e planos de ação. Uma estratégia é manter um checklist dinâmico com as exigências mexicanas e um responsável por atualizar o status de cada item. Assim, quando a missão chegar, a planta estará pronta para apresentar evidências de forma organizada, o que tende a reduzir pendências.
Integração com políticas públicas e combate à insegurança alimentar
As delegações trataram de programas sociais relacionados a acesso a alimentos. A experiência brasileira em ampliar a oferta e melhorar a eficiência de compras públicas foi citada como referência a ser compartilhada com o México. O intercâmbio deve envolver tanto desenho de políticas quanto ferramentas operacionais, como especificações de qualidade, modelos de chamadas públicas e monitoramento de entregas.
Esse diálogo complementa a agenda comercial. Ao mesmo tempo em que facilita exportações e abre mercado, o acordo incentiva soluções para garantir regularidade de abastecimento e preços estáveis. A integração entre programas sociais e cadeias produtivas pode criar demanda adicional para pequenos e médios produtores, desde que cumpram os requisitos de qualidade e documentação.
O compartilhamento de dados e metodologias de monitoramento ajuda governos a calibrar ações. Indicadores de cobertura, qualidade de entregas e custos por unidade são úteis para avaliar resultados e orientar ajustes. Ao adotar mecanismos semelhantes, países conseguem comparar experiências e incorporar melhorias com mais rapidez.
Perguntas frequentes do setor produtivo sobre o acordo
Empresas e produtores tendem a levantar dúvidas comuns após a assinatura de um memorando. Uma delas é sobre prazos: quando as mudanças começam a valer? A resposta é que o acordo cria o ambiente jurídico para as equipes técnicas atuarem, mas os efeitos práticos surgem à medida que cada ação é implementada — por exemplo, quando um novo certificado é publicado ou uma planta é habilitada. Por isso, acompanhar as comunicações oficiais do Mapa e da Sader é essencial.
Outra pergunta recorrente trata de custos. A harmonização de requisitos tende a reduzir gastos com retrabalho e armazenagem, mas pode haver investimentos iniciais em adequações de rotulagem, sistemas de rastreabilidade e treinamento de equipes. Essas despesas costumam ser compensadas pela previsibilidade do fluxo de exportação e pela possibilidade de acessar compradores que exigem padrões mais rígidos de qualidade e documentação.
Também é comum dúvida sobre como participar de missões e auditorias. Em geral, autoridades publicam calendários e critérios de seleção, considerando representatividade setorial e preparo das plantas. Manter documentação atualizada, responder rapidamente a solicitações e demonstrar aderência a requisitos técnicos aumenta a chance de ser incluído nas primeiras rodadas de visitação e habilitação.
Próximos passos e acompanhamento das ações
A partir da assinatura do memorando, as equipes técnicas devem consolidar um Plano de Trabalho com metas, prazos e responsáveis. A proposta é priorizar dossiês com maior impacto imediato para o comércio, como ajustes de certificados e habilitações pendentes, e, em paralelo, avançar na agenda estrutural de pesquisa, capacitação e integração de sistemas. Relatórios periódicos vão indicar o andamento e eventuais necessidades de realinhamento.
Para o setor privado, o acompanhamento dos marcos é determinante. Quando novas versões de certificados são publicadas, é preciso atualizar processos internos e comunicar fornecedores e clientes. Em habilitações de plantas, a preparação prévia costuma fazer diferença, reduzindo tempo entre a auditoria e o início dos embarques. O diálogo com associações setoriais e com órgãos de promoção comercial ajuda a captar oportunidades.
Com uma base jurídica definida e um canal técnico permanente, Brasil e México ganham instrumentos para responder mais rápido a demandas de mercado e questões regulatórias. A cooperação tende a se traduzir em cronogramas mais claros, custos reduzidos e maior estabilidade de negócios, refletindo em previsibilidade para produtores, indústrias e compradores ao longo da cadeia agropecuária.