China reduz compras e exportações brasileiras de frango caem no semestre. É possível recuperar?

China reduz compras e exportações brasileiras de frango caem no semestre. É possível recuperar?









China compra menos e exportação brasileira de frango cai no semestre. Dá para recuperar?

China compra menos e exportação brasileira de frango cai no semestre. Dá para recuperar?

A missão brasileira de seguir batendo recordes nas exportações de carne de frango está ficando cada vez mais desafiadora.
Com mercados fechados em função do registro da doença de Newcastle no Rio Grande do Sul e chineses comprando menos proteína do Brasil, a entidade que representa a indústria, ABPA, anunciou hoje que está revisando suas projeções de crescimento.

A produção e a exportação de carne de frango do Brasil estavam sendo projetadas para crescer cerca de 5% este ano em relação a 2023. Agora, a entidade acredita que o avanço será de 2%.

Os números da ABPA indicam uma produção de no máximo 15,1 milhões de toneladas e exportação de 5,25 milhões de toneladas. Ambos as projeções, se confirmadas, vão representar novo recorde para o frango brasileiro.

Até chegar lá, a indústria tem alguns desafios. Um deles é recuperar a leve perda já acumulada de janeiro a junho, período em que ainda nem vigoravam as restrições relacionadas ao registro de Newcastle.

Os embarques no primeiro semestre atingiram 2,589 milhões de toneladas, abaixo das 2,63 milhões de toneladas do mesmo período do ano passado, o que representa um recuo de 1,6%. Em receita, a queda foi maior, influenciada pela apreciação do dólar. As exportações contabilizaram US$ 4,637 bilhões, queda de 10,3% em relação a 2023.

“Nós esperamos já zerar esta queda com o resultado de julho, quando pretendemos exportar mais de 450 mil toneladas”, afirmou o presidente da ABPA, durante encontro com jornalistas nesta quinta-feira em São Paulo.

O dirigente explicou que em julho do ano passado a exportação foi de 430 mil, por isso já espera que os números deixem o campo negativo.

O resultado menor foi influenciado por diversos fatores, entre eles os problemas no Rio Grande do Sul, afetado pelas enchentes, que teve queda de 4,8% nos embarques. O estado do Espírito Santo que teve registro de gripe aviária em ave silvestre, com restrição de acesso a diversos mercados, também caiu 36%.

Outro fator importante foi a queda nas importações chinesas de carne de frango. O país asiático comprou 29% menos do Brasil. Ainda assim, seguiu como o principal mercado para o frango brasileiro no semestre, respondendo por 11% das exportações.

No caso da carne suína, a queda nas exportações brasileiras para a China chegou a 40%. Segundo os diretores da ABPA, esse cenário se deve a questões internas da economia chinesa, mas deve se reverter em breve.

O diretor de mercados da ABPA, Luís Rua, disse que a suinocultura chinesa no ano passado teve muito prejuízo. “Eles produziam 55 milhões de toneladas, caíram pra 36 milhões de toneladas no auge da crise e voltaram para 57 milhões. Essa oferta adicional fez com que a suinocultura não rentabilizasse”, explicou.

Já em 2024, segundo ele, o abate está sendo reduzido em 6% na China. “Isso fez com que os preços de alguns cortes que eram de US$ 1,9 mil por tonelada agora estejam em US$ 2,7 mil, então a perspectiva daqui pra frente é muito positiva, tanto em volume quanto em receita”.

Rua espera que os volumes exportados de frango para a China no segundo semestre voltem a pelo menos empatar com o mesmo período do ano passado, mas espera “condições negociais” melhores.

Cai para 10 número de países com embargo

Nos primeiros dias após a confirmação da doença de Newcastle no Rio Grande do Sul, o Brasil chegou a ter exportações interrompidas para 44 mercados.

Agora, segundo o presidente da ABPA, são apenas 10 países, sendo que 4 deles estão com as compras suspensas de todo o Brasil: China, México, Argentina e, mais recentemente, a Macedônia do Norte.

Já as exportações de carne de aves do Rio Grande do Sul, além destes 4, também estão suspensas para o Chile, Arabia Saudita, Rússia, Peru, Uruguai, Cuba e Bolívia. Segundo a ABPA, os bolivianos, por exemplo, não haviam importada nada de frango gaúcho no ano passado, nem neste primeiro semestre, mas divulgaram a medida, por questões sanitárias do país. Além dos 10 países, alguns mercados seguem com compras suspensas apenas de plantas que fiquem a um raio de 10km do local onde houve o registro da doença, por isso nem são considerados na lista, já que não representam volume significativo.

Nesse cenário, a ABPA reiterou que o impacto, no pior cenário, será uma queda de 60 mil toneladas por mês nas exportações de frango, em função das restrições sanitárias de alguns mercados.

Pesam nesta conta principalmente os embarques mensais para a China, cerca de 45 mil toneladas e para o México, pouco mais de 10 mil toneladas.

Ricardo Santin disse que a previsão de seguir aumentando a exportação de frango e batendo recordes leva em conta o fato de que boa parte das 60 mil toneladas acabam sendo vendidas para outros países.

“Quando fizemos esse cálculo levamos em conta mercados europeus que até já retiraram as restrições. Sabemos que o que não embarga para a China pode ir para Hong Kong, Filipinas, entre outros, por isso, realmente acho que essa perda não vai acontecer”, reforçou.

Os 44 mercados que chegaram a ser divulgados, segundo Luís Rua, consideravam restrição a produtos específicos como gelatina ou processados. “No caso da carne são realmente 10 países”.

O governo brasileiro já comunicou a Organização Mundial de Saúde Animal de que o caso de Newcastle foi “encerrado”, à medida que todas as medidas sanitárias foram tomadas e todos os demais animais testados deram negativo para a doença. Santin ressaltou, no entanto, que a reabertura de mercado agora depende de cada país.

“Hoje mesmo foram enviadas informações adicionais ao México, esperamos que venha uma resposta na semana que vem”, disse. Dados extras também foram enviados recentemente para a China, segundo ele. Recentemente, Santin chegou a dizer que a reabertura deveria levar “15 dias”.

A ABPA também divulgou os dados e projeções para a carne suína. Os embarques de janeiro a junho 614 mil toneladas, alta de 4,1%. Em receita houve queda de 8% em relação ao ano passado, com US$ 1,3 bilhão. A China é o maior comprador, respondendo por 21% dos embarques, mas reduziu as importações do Brasil em 40,3% no período.

A projeção para 2024 é de um aumento de 1% na produção, que chegaria a 5,2 milhões de toneladas e de 7,7% na exportação de carne suína, que pode alcançar 1,3 milhão de toneladas.

Impacto das restrições sanitárias e climáticas

Mas o problema na queda das exportações brasileiras de frango não se limita apenas ao fator econômico interno da China. Há questões sanitárias e climáticas no Brasil, especialmente no Rio Grande do Sul e Espírito Santo, que contribuíram significativamente para os números menos positivos do semestre.

No Rio Grande do Sul, a combinação das enchentes e do surto de Newcastle resultou em uma redução drástica nos embarques, caindo 4,8%. Por outro lado, o Espírito Santo também enfrentou suas próprias dificuldades, com um registro de gripe aviária em aves silvestres que levou à restrição de acesso a vários mercados importantes e a uma queda de 36% nas exportações.

Doença de Newcastle: um obstáculo sério

A doença de Newcastle, uma enfermidade viral altamente contagiosa que afeta aves, não só provocou preocupações sanitárias práticas, mas também afetou psicologicamente os mercados. A China e outros mercados importantes interromperam temporariamente as importações da carne de frango brasileira nesse contexto.

Este evento reforça a necessidade de se investir em vigilância sanitária rigorosa e programas de vacinação. Fortalecer medidas de biossegurança pode ajudar a prevenir surtos futuros e a manter a integridade das exportações brasileiras.

Enchentes no Rio Grande do Sul

As severas enchentes também tiveram um impacto deleterio. A infraestrutura de transporte foi gravemente afetada, dificultando a logística e o transporte de produtos prontos para exportação. O efeito cascata é evidente: desde dificuldades em acessar os portos até atrasos nas entregas, resultando em perda de confiança por parte dos compradores internacionais.

Para mitigar esses riscos no futuro, é crucial investir em infraestrutura resiliente e estratégias de resposta rápida. Isso não só ajuda a minimizar as perdas durante os eventos climáticos, mas também reforça a segurança e a confiança no comércio internacional.

Estratégias para recuperação no segundo semestre

Apesar dos desafios, há várias frentes na qual a indústria pode se concentrar para recuperar o terreno perdido. Reavaliar e renovar os acordos comerciais com os mercados já estabelecidos é uma prioridade. Assim como explorar novos mercados emergentes que podem estar necessitando de fontes adicionais de proteína animal.

Uma abordagem inovadora também pode ser adotada para melhorar a competitividade no mercado global, aumentando a eficiência e a qualidade dos processos de produção. Tecnologia, pesquisa e desenvolvimento podem desempenhar um papel fundamental neste aspecto.

Diversificação dos mercados

Expandir os horizontes da exportação para além dos mercados tradicionais, como a China, é uma estratégia vital. Mercados emergentes na África e no Oriente Médio, por exemplo, oferecem oportunidades promissoras para a carne de frango brasileira.

Diversificar os parceiros comerciais pode aliviar a pressão sobre os produtores e reduzir a dependência de mercados específicos. Além disso, uma estratégia diversificada pode aumentar a resiliência do setor contra futuros choques econômicos ou sanitários.

Inovação em tecnologia e logística

A incorporação de novas tecnologias nos processos de produção e logística pode aumentar a eficiência e reduzir os custos operacionais. Utilizar sistemas avançados de monitoramento e rastreamento pode garantir que os produtos cheguem aos seus destinos com rapidez e segurança.

Investir em melhoria das condições de armazenamento e transporte também é essencial. Com isso, garante-se a manutenção da qualidade dos produtos ao longo da cadeia de suprimentos, aumentando a confiança dos clientes internacionais na carne de frango brasileira.

O papel do governo e das entidades reguladoras

O governo e entidades reguladoras, como a ABPA, têm um papel crucial na facilitação do comércio e na reabertura de mercados. A negociação e resolução das barreiras comerciais, especialmente as sanitárias, são processos delicados que requerem ação governamental concertada e diplomática.

A comunicação transparente e ativa com organizações internacionais, como a Organização Mundial de Saúde Animal, é outra estratégia valiosa. Provar que os protocolos sanitários foram seguidos à risca e que a situação está sob controle pode ajudar a reabrir mercados e a restabelecer a confiança global na carne de frango brasileira.

Incentivos fiscais e subsídios

O fornecimento de incentivos fiscais e subsídios aos produtores pode oferecer algum alívio em tempos de crise. Isso pode incluir reduções de impostos para exportação e apoio financeiro direto para investimentos em infraestrutura e tecnologia.

Esses incentivos também podem estimular a inovação e a competitividade, preparando o setor para responder mais eficazmente aos desafios futuros e às possíveis interrupções no mercado.

Reforço nas campanhas de marketing internacional

Criar e fortalecer campanhas de marketing voltadas para a imagem e a qualidade da carne de frango brasileira pode fazer uma diferença significativa. Mostrar que o Brasil é um parceiro confiável e que a carne de frango atende a altos padrões de qualidade e segurança é fundamental para recuperar e expandir a base de consumidores.

Participar de feiras internacionais, seminários e eventos do setor também pode abrir novas portas e estreitar relações comerciais, aumentando a presença internacional do frango brasileiro.

Conclusão: A resiliência da indústria avícola brasileira

A indústria de carne de frango no Brasil é um pilar importante da economia do país, e resiliente diante dos desafios atuais. Mesmo com a queda nas exportações para a China e outras dificuldades, há estratégias e oportunidades para recuperação e crescimento.

Foco em diversificação de mercados, inovação tecnológica, melhoria da logística e intervenção governamental são vitais para superar os obstáculos. A comunicação eficiente e os esforços conjuntos de todas as partes interessadas serão essenciais para garantir que o setor não apenas se recupere, mas também possa continuar a bater recordes no futuro.