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Eletromobilidade: eu vejo o futuro repetir o passado

A Embraer revelou e o TecMundo publicou na semana passada as primeiras imagens de um protótipo de aeronave elétrica de decolagem e pouso vertical (eVTOL), que está em desenvolvimento pela Eve, o setor de mobilidade urbana da EmbraerX (braço de inovação da empresa sediada em São José dos Campos, no interior de São Paulo). Ainda sem nome oficial, a máquina de aspecto futurista surge como alternativa aos helicópteros e táxis aéreos tradicionais de transporte individual para as pessoas em grandes metrópoles.

Com expectativa de funcionamento sem piloto, o protótipo conta com dez hélices movidas por motores elétricos. Por mais que o protótipo seja chamado de “carro voador”, ele mais se parece com um drone amplificado, especialmente pela localização das hélices (oito na horizontal e duas na vertical).

Mais do que um “aperitivo” do que pode vir a ser, em poucos anos, a nossa eletromobilidade, projetos como este acabam resgatando aspectos já centenários sobre modais e aparatos elétricos desenvolvidos pela humanidade.

Os elétricos já existem há mais de 100 anos

Muitos lugares já tinham transporte elétrico há mais de 100 anos, antes de serem abandonados e substituídos por veículos a gasolina ou diesel (seja no transporte individual ou de passageiros). A imagem que ilustra esta coluna resgata um registro de uma mulher se locomovendo em uma scooter elétrica em 1916! Mas por que a eletromobilidade foi deixada de lado no início do século 20, e nas décadas posteriores, e agora é vista como futurismo?

A questão é complexa, mas, em linhas gerais, podemos destacar dois pontos fundamentais: a falta de incentivo, na época, ao desenvolvimento de projetos de mobilidade elétrica em larga escala para o mercado consumidor que estava crescendo; e o fomento à indústria de exploração e venda de combustíveis fósseis, impulsionada após as duas Grandes Guerras Mundiais, divisor de águas nesse período.

Dessa forma, não era interessante economicamente investir em carros, bicicletas, ônibus e demais veículos elétricos, já que o setor dos combustíveis fósseis (antes da propagação da consciência ambiental e sustentável planetária como vemos nos últimos 30 anos) estava em franca ascensão pelo mundo.

Incentivos em São Paulo

Falando em incentivo à eletromobilidade, a Assembleia Legislativa de São Paulo aprovou em março o projeto de lei 1956/2019, que propõe uma política de incentivo aos veículos elétricos e híbridos em São Paulo. Só falta o governador assinar.

O projeto prevê várias medidas de estímulo ao crescimento do uso de veículos elétricos, com abertura de uma linha de crédito prioritária para incentivo à produção, IPVA zerado para carros elétricos (tal como já acontece no Paraná há algum tempo) e cortado pela metade para veículos híbridos, pelos próximos cinco anos.

Outra medida é a substituição gradual da frota do governo estadual. Até 2025, 10% dos veículos da Polícia Militar, da Polícia Civil e do Detran deverão ter propulsão elétrica. No transporte coletivo, a porcentagem proposta até 2025 é de 5%.

Para 2035, o projeto paulista planeja que cerca de 90% dos veículos do estado sejam elétricos

Segundo o texto, como informa a Automotive Business, fica a cargo do governador definir o cronograma dessas substituições, bem como as parcerias com universidades, iniciativa privada e institutos de pesquisa para prover a infraestrutura de suporte aos VEs.

O futuro é promissor, dadas as vantagens ambientais e econômicas dos veículos elétricos, que já abordamos anteriormente nesta coluna. Vale reforçar mais uma vez que o Brasil possui estrutura para comportar uma ampla rede de carros elétricos circulando pelo país. A questão é mais cultural e comportamental, já que não é simples abandonar um modal tradicional de transporte individual e coletivo à combustão, que tem sido cultuado como bem de consumo desde a época dos nossos avós. Só não se esqueça que os pioneiros do início do século 20 já tinham scooters elétricas!

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Beto Marcelino, colunista quinzenal do TecMundo, é engenheiro agrônomo, sócio fundador e diretor de relações governamentais do iCities, empresa de projetos e soluções em cidades inteligentes, que organiza o Smart City Expo Curitiba, maior evento do Brasil sobre a temática com a chancela da FIRA Barcelona.