O balanço de agosto confirma um primeiro semestre histórico para a carne suína brasileira. Entre janeiro e junho de 2025, as exportações de produto in natura somaram mais de 630 mil toneladas e US$ 1,626 bilhão — altas de 19,2% em volume e 34,8% em receita frente ao mesmo intervalo de 2024. No agregado, o desempenho sustentou margens positivas para a indústria, apoiadas por demanda externa firme, câmbio favorável e ganhos de eficiência ao longo da cadeia.
Considerando todos os produtos, entre in natura e processados, os embarques atingiram 722 mil toneladas e US$ 1,723 bilhão no semestre, crescimentos de 17,6% e 32,6%, respectivamente, segundo dados setoriais. Santa Catarina liderou as vendas externas, seguida por Rio Grande do Sul, Paraná, Mato Grosso e Minas Gerais. No mapa de destinos, Filipinas e Japão ampliaram participação, enquanto China e Hong Kong reduziram compras. No mercado interno, julho teve consumo mais lento, mas o segmento mostrou resiliência, com reação de preços em praças acompanhadas por bolsas regionais e por indicadores de referência.
Panorama do semestre: volume recorde e receita acelerada
O semestre fechou com números que superaram as expectativas traçadas no início de 2025. As 630 mil toneladas de carne suína in natura embarcadas de janeiro a junho vieram acompanhadas de US$ 1,626 bilhão em receita. A combinação de maior volume e melhor composição de preços, com ampliação de cortes de maior valor e incremento de vendas a mercados que pagam mais, elevou o faturamento em ritmo superior ao avanço físico das remessas. Em termos médios, o ticket por tonelada no in natura ficou próximo de US$ 2,58 mil, enquanto, ao incluir processados, a média aproximada foi de US$ 2,39 mil por tonelada — referências que ajudam a dimensionar a qualidade do mix vendido no período.
No recorte por categoria de produto, a presença de processados contribuiu para amortecer oscilações de preços e abriu portas em nichos com exigências específicas. Esse movimento é típico de semestres com demanda diversificada e reforça a estratégia de descommoditização parcial da pauta, sem perder competitividade nos cortes básicos. A avaliação da indústria aponta que a combinação entre contratos fixos e vendas spot ajudou a capturar janelas de oportunidade, especialmente na virada do primeiro para o segundo trimestre.
A melhora de receita também dialoga com a estabilidade operacional nas plantas exportadoras. Fatores como regularidade no fornecimento de animais terminados, melhor aproveitamento de carcaça e gestão fina de custos logísticos, do frete interno ao frete marítimo, sustentaram margens ao longo do semestre. Em um ambiente competitivo, a disciplina na programação de abates e a calibragem de escalas foram decisivas para evitar gargalos e perdas de eficiência.
Quem comprou mais e quem recuou: a virada de Filipinas e Japão
O mapa das exportações mudou de forma perceptível. Filipinas e Japão ganharam espaço e se consolidaram entre os principais destinos, com destaque para a ascensão do mercado japonês, que assumiu, em junho, a terceira posição em toneladas e se manteve em segundo lugar em receitas naquele mês. O avanço japonês reflete preferências por cortes e padrões de qualidade específicos, que valorizam o produto brasileiro quando há aderência a especificações e certificações requeridas pelos importadores.
Na outra ponta, China e Hong Kong reduziram volumes ao longo do semestre. Esse ajuste seguiu uma tendência já observada desde 2024, com realocação de compras e maior competição de outros fornecedores. Para os exportadores, a resposta foi ampliar a diversificação de destinos e aprofundar relações comerciais em mercados do Sudeste Asiático, além de reforçar entregas sob contratos de médio prazo em países com alto poder aquisitivo, caso do Japão, que remunera melhor cortes específicos e exige consistência na entrega.
A entrada mais forte de Filipinas no mix — com demanda por carne suína in natura em volumes relevantes — contribuiu para o patamar de embarques acima de 100 mil toneladas mensais em boa parte do semestre. Para a indústria, esse tipo de pulverização é estratégico, pois reduz a dependência de um único grande comprador e cria amortecedores diante de mudanças regulatórias ou variações de consumo em um país específico.
Recordes mensais: cinco meses seguidos acima de 100 mil t
Uma das marcas de 2025 foi a constância em níveis recordes. Pela primeira vez, entre fevereiro e junho, as exportações de carne suína in natura superaram 100 mil toneladas em cinco meses consecutivos. Além de sinalizar apetite da demanda, o padrão indica que o setor conseguiu manter a operação logística em alta rotação, o que requer disponibilidade de contêineres refrigerados, alinhamento entre originação, frigoríficos e terminais portuários, e sintonia fina com armadores para minimizar rolagens de embarque.
A média mensal do semestre, próxima de 105 mil toneladas no in natura, ajuda a dimensionar o salto de escala. Em contextos como esse, o planejamento de produção e a calibragem do mix de cortes tornam-se ainda mais críticos. Dar fluidez à expedição de volumes recordes sem pressionar custos exige janelas de embarque bem distribuídas e antecipação de documentação, inclusive sanitária e aduaneira, para evitar custos adicionais de armazenagem e estadia de contêineres.
- Programação de abates: escalas alinhadas ao calendário de embarques reduzem formação de estoques e preservam frescor de produto.
- Gestão de frota e frete interno: rotas multimodais e uso de janelas noturnas em regiões congestionadas ajudam a manter prazos.
- Documentação e certificação: preparação antecipada de certificados e laudos evita atrasos na liberação portuária.
Tarifas dos EUA: impacto direto limitado e reflexos no mercado de proteínas
No dia 9 de julho de 2025, foi anunciado pelo governo dos Estados Unidos o acréscimo de 50% nas tarifas aplicadas a importações provenientes do Brasil, com vigência a partir de 1º de agosto. Houve recuos pontuais para alguns itens, mas, até 31 de julho, a carne bovina seguia com a sobretaxa prevista para agosto. O efeito direto sobre a suinocultura brasileira é limitado, já que o país exporta pouco suínos para os EUA: em 2024, foram 18,4 mil toneladas de in natura (menos de 1,5% do total), e, no primeiro semestre de 2025, apenas 7,4 mil toneladas (1,17% do total).
Os reflexos, porém, aparecem por meio de vasos comunicantes entre proteínas. A bovinocultura de corte tem os Estados Unidos como segundo principal destino, com cerca de 12% das exportações. Logo após o anúncio, o indicador de boi gordo Cepea/Esalq recuou quase R$ 5 e ficou abaixo de R$ 300 por arroba em São Paulo, somando a pressão da notícia ao ritmo fraco de vendas internas naquele momento. Esse ajuste pode reorganizar temporariamente a disputa de espaço na gôndola, com efeitos de substituição entre carnes em alguns canais de varejo e food service, ainda que de forma desigual entre regiões e faixas de renda.
Em julho, a carne suína navegou esse ambiente com relativa estabilidade. O setor sentiu três semanas seguidas de recuo de preço em certas praças, mas sem ruptura nas referências principais. A leitura predominante nas empresas foi a de cautela, com reforço de promoções táticas para preservar giro e participação de mercado, e manutenção de contratos de exportação, que seguiram tracionando a produção.
Preços internos, consumo e margens: julho mais frio, agosto de retomada
Segundo levantamento de mercado, o consumo doméstico de carne suína arrefeceu em julho, período marcado por férias escolares e mudança de rotina de compras das famílias. A menor ida aos supermercados desloca parte das vendas para formatos de porcionados e produtos de conveniência, enquanto o food service ajusta cardápios e ticket médio. Ainda assim, a suinocultura preservou margens operacionais em muitos casos, amparada por exportações firmes e dinâmica de custos mais previsível em comparação com ciclos anteriores.
A última reunião da Bolsa de Suínos de Belo Horizonte (BSEMG), em 31/07, registrou alta de R$ 0,30/kg (+3,85%) frente à semana anterior. O movimento sugere retomada de fôlego às vésperas do início de agosto, reforçando a percepção de que o ajuste de julho foi pontual. Em mercados regionais acompanhados por entidades de classe e centrais de abastecimento, a reposição de estoques para o retorno às aulas costuma favorecer cortes para preparo rápido, o que beneficia a carne suína em linhas de custo-benefício atrativas para o consumidor.
Do lado dos frigoríficos, o casamento entre escalas e janelas de embarque manteve o uso de capacidade em patamares saudáveis no semestre. A gestão de margens considerou não só o preço do animal vivo, mas também o rendimento industrial por lote, a eficiência no desossa, a recuperação de subprodutos e o aproveitamento comercial de miúdos e cortes secundários. Essa visão integrada ajuda a diluir custos fixos e a preservar rentabilidade em cenários de oscilação de preço na saída.
Estados líderes e participação no bolo exportador
A liderança de Santa Catarina no semestre foi clara: 374,3 mil toneladas, avanço de 11% contra 2024. O estado respondeu por cerca de 51,8% do total exportado ao se considerar todos os produtos (722 mil toneladas), refletindo escala industrial, tradição exportadora e forte integração entre produtores e indústrias. Rio Grande do Sul veio na sequência, com 158,9 mil toneladas (+21,29%), ou aproximadamente 22,0% de participação. Paraná, com 111,3 mil toneladas (+38,81%), alcançou cerca de 15,4% do total, consolidando-se como terceira força e ampliando presença em mercados exigentes.
Na faixa intermediária, Mato Grosso exportou 18,5 mil toneladas (+5,46%), enquanto Minas Gerais somou 18,4 mil toneladas (+54,71%). Somados, esses dois estados ficaram próximos de 5,1% do montante embarcado. O restante se distribuiu por outras unidades da federação com presença industrial relevante e rotas logísticas competitivas. A malha portuária do Sul e do Sudeste seguiu como principal corredor de escoamento, e a expansão de terminais especializados em contêineres refrigerados ajudou a sustentar o salto de volumes sem comprometer prazos de trânsito.
A diversidade regional reforça a resiliência da pauta exportadora. Cada polo tem um mix distinto de cortes, certificações e mercados atendidos, o que reduz o risco de concentração e aumenta a capacidade de resposta a mudanças regulatórias e preferências de consumo no exterior. Para a cadeia, a colaboração entre federações, associações e indústrias é uma vantagem competitiva que se traduz em padronização, previsibilidade e construção de reputação junto aos compradores.
Como a indústria se organiza para a segunda metade do ano
Com um semestre forte e um julho ajustado, a estratégia para a segunda metade do ano passa por consolidar ganhos e ampliar a diversificação. No comércio exterior, a prioridade é manter o ritmo de mercados que remuneram melhor, como o Japão, e aprofundar a presença no Sudeste Asiático, com Filipinas no radar. Em paralelo, o relacionamento com clientes em mercados tradicionais segue com atenções à logística e à previsibilidade de volumes, fatores críticos para assegurar espaço nas prateleiras e contratos de fornecimento.
No mercado doméstico, a agenda de ações promocionais e o trabalho conjunto com o varejo e o food service ganham peso. Linhas de cortes porcionados, campanhas em datas sazonais e educação de preparo influenciam a frequência de compra e ajudam a cimentar o lugar da carne suína no carrinho das famílias. Para a indústria, o equilíbrio entre exportações e mercado interno é uma forma de otimizar margens em um contexto de custos sob controle e receita perene de contratos externos.
Em finanças, o foco recai sobre proteção de fluxo de caixa, gestão de capital de giro e uso disciplinado de instrumentos de mitigação de risco, como contratos antecipados com clientes externos, travas de câmbio e políticas de hedge direcionadas aos principais insumos, com atenção especial a milho e farelo de soja. Essa abordagem melhora a previsibilidade de margens e reduz a exposição a choques de preço ao longo dos próximos meses.
Competitividade industrial: eficiência, mix e captura de valor
A competitividade do segmento exportador se expressa em três frentes. A primeira é a eficiência industrial: rendimento de carcaça, produtividade por hora, taxa de aproveitamento e redução de perdas. Cada ponto percentual a mais de rendimento faz diferença na margem por cabeça abatida. A segunda é o mix de produtos: cortes especiais, porcionados para food service e aproveitamento de subprodutos compõem uma cesta que eleva o valor por tonelada. A terceira é a capacidade comercial de precificar risco e capturar melhor preço em janelas de demanda, seja por meio de contratos indexados, seja pela diversificação de clientes por região e canal.
No semestre, o fortalecimento do relacionamento com mercados de alto valor ficou evidente pela ascensão do Japão em junho. Entregas consistentes e cumprimento rigoroso de especificações são diferenciais que geram prêmio. Ao mesmo tempo, mercados com maior sensibilidade a preço — como alguns países do Sudeste Asiático — trazem escala e ajudaram a sustentar a série de embarques acima de 100 mil toneladas. O balanço entre esses dois perfis é o que permitiu às empresas elevar receita total em ritmo superior ao ganho de volume.
Gestão de oferta e granja: o que pesou nas margens do produtor
Do ponto de vista do produtor integrado, a previsibilidade de lotação e o calendário de retirada foram pontos-chave para atravessar o semestre com saúde financeira. Em sistemas independentes, a disciplina de vendas e o alinhamento com a indústria mitigaram o risco de excesso de peso em momentos de menor giro no varejo. O intervalo entre desmame e terminação, aliado a indicadores zootécnicos como conversão alimentar e ganho médio diário, influenciou de forma direta o custo por quilo produzido, variável decisiva para a margem.
A escala também fez diferença. Granjas com padronização de lotes e maior previsibilidade de entrega conseguiram negociar melhor e reduzir custos logísticos. Nos meses em que o mercado doméstico ficou mais silencioso, a proximidade com plantas exportadoras manteve as retiradas regulares e evitou alongamento de estadia. Para o produtor, a chave foi seguir indicadores semanais de preço, avaliar oportunidades de contratos e monitorar os calendários de abate da indústria, que em 2025 funcionaram como bússola para decisões de curto prazo.
Perguntas e respostas: o que o leitor quer saber agora
O que explica a alta de receita maior que a de volume?
A receita cresceu mais que o volume por três motivos principais: melhor mix de destinos, com maior peso de mercados que pagam prêmio; composição de cortes com maior valor agregado; e dinâmica de preços internacionais favorável em momentos-chave do semestre. O resultado disso é um ticket médio por tonelada que se manteve acima do observado no ano anterior, especialmente no in natura, onde as referências ficaram próximas de US$ 2,58 mil por tonelada no semestre.
Outro fator foi a execução logística eficiente, que reduziu custos indiretos e perdas de valor por atrasos. Em cadeias refrigeradas, cada dia a mais de trânsito ou espera pesa no custo e, em casos extremos, na qualidade percebida pelo cliente. Ao enxugar essas ineficiências, a indústria preservou preço líquido na origem e converteu mais receita em margem.
Qual o papel do câmbio na competitividade?
A taxa de câmbio atua como variável de ajuste. Em um semestre com exportações robustas, o câmbio mais depreciado melhora o preço em reais por tonelada exportada e ajuda a compensar variações pontuais de preço em dólar. Para quem planeja fluxo de caixa, travas parciais de câmbio em contratos de médio prazo podem reduzir a volatilidade e proteger margens, desde que casadas com o calendário de embarques e recebimentos.
Do lado do mercado interno, o câmbio também influencia o poder competitivo de carnes importadas e o custo de alguns insumos industriais e logísticos. Em 2025, a gestão de exposição cambial se manteve como ferramenta de rotina para frigoríficos exportadores, com políticas calibradas à luz do cronograma de vendas e das necessidades de capital de giro.
Há risco de efeito duradouro das tarifas dos EUA sobre o setor?
O impacto direto sobre a suinocultura é restrito, dado o baixo peso das vendas de suínos para os EUA. O ponto de atenção fica nos reflexos sobre a proteína bovina e eventuais mudanças na competição por espaço no varejo e no food service. Até 31/07, a referência de boi gordo em São Paulo se ajustou para baixo, e isso pode ter criado, de forma temporária, um ambiente promocional diferente entre as carnes. O setor monitora esse desdobramento para ajustar volumes e calendários de oferta no mercado interno.
Do ponto de vista de exportação, a estratégia é manter foco em mercados onde a carne suína brasileira já tem tração e reputação, como Japão e países do Sudeste Asiático. Essa concentração inteligente melhora a previsibilidade e reduz a exposição a choques exógenos fora do controle do setor.
Como ficou a demanda no varejo durante as férias escolares?
Julho costuma apresentar mudanças no padrão de consumo das famílias, com menor frequência de idas ao supermercado e maior busca por praticidade. Isso afeta a dinâmica das gôndolas e desloca parte da atenção para porcionados e itens com preparo rápido. Em 2025, o setor reportou suavidade nas vendas domésticas durante o mês, mas sem ruptura. Na última semana de julho, praças importantes já registraram recomposição de preços, sinalizando normalização com a volta às aulas.
Para a indústria, a recomendação foi intensificar ações com varejo e atacarejo, planejando encartes, ponta de gôndola e pacotes promocionais que mantenham a carne suína na cesta. Na soma com exportações firmes, essa tática ajuda a preservar o ritmo de abates e evitar aumento de estoques.
Quais estados puxaram a fila e por quê?
Santa Catarina, com 374,3 mil toneladas, respondeu por algo em torno de 51,8% das exportações totais de janeiro a junho (considerando in natura e processados). A combinação de parque industrial robusto, histórico exportador e conformidade com exigências dos principais mercados explica o protagonismo. Rio Grande do Sul, com 158,9 mil toneladas, se manteve como segundo maior exportador, enquanto o Paraná, com 111,3 mil toneladas, ganhou espaço de forma acentuada, refletindo investimentos industriais e qualificação da base produtiva.
Mato Grosso e Minas Gerais, com participações próximas, mostraram dinamismo, ainda que em patamares menores. A malha logística e a proximidade a portos eficientes foram diferenciais para todos os estados líderes, em especial nos meses de maiores volumes, quando a disputa por janelas operacionais é mais intensa.
Mercado interno: espaço na gôndola e no food service
A competição entre proteínas no varejo se dá corte a corte e faixa de preço a faixa de preço. A carne suína tem se beneficiado de um posicionamento que combina sabor, versatilidade de preparo e preço por quilo competitivo. Em redes de supermercados, o sortimento de cortes fatiados e temperados facilita a adoção por consumidores que buscam conveniência, enquanto no açougue tradicional a orientação do balconista segue determinante para a escolha final.
No food service, do prato executivo ao delivery, a carne suína expandiu presença em sanduíches, pratos orientais e variações regionais. Essa capilaridade no cardápio reduz a sazonalidade do consumo e oferece alternativas em momentos de ajuste do orçamento das famílias. Em 2025, a indústria reforçou o trabalho com redes e operadores independentes, focando padronização de cortes, regularidade de entrega e materiais de apoio ao preparo, com impacto direto na percepção de valor.
Logística e operação: como entregar mais pagando menos
Embarques recordes exigem logística afinada. No semestre, a programação antecipada de contêineres, o uso de janelas noturnas para chegada a portos e a coordenação com armadores foram práticas recorrentes entre as empresas. Cada ponto ganho na taxa de ocupação de contêiner refrigerado e cada hora economizada na janela de atracação representam redução de custo e mitigação de risco de atraso na entrega.
No transporte interno, a adoção de rotas alternativas e a distribuição mais granular de cargas ao longo da semana melhoraram a fluidez. Outro aspecto foi a capacitação de times de documentação para emissão ágil de certificados e laudos. Em mercados que demandam critérios sanitários rígidos, a documentação sem falhas é tão importante quanto a temperatura de conservação do produto. Essa combinação de fatores operacionais contribuiu de forma silenciosa para a manutenção das margens observadas no semestre.
Métricas que o setor vai acompanhar
Depois de um semestre de recordes, a atenção recai sobre alguns indicadores: evolução mensal dos embarques in natura, especialmente o comportamento de julho e agosto; manutenção do apetite de mercados que pagam prêmio, como o Japão; e acomodação do consumo doméstico após as férias. Além disso, segue no radar a disputa por espaço nas gôndolas diante de ajustes de preço relativos entre proteínas, fator que pode redefinir as táticas promocionais nas próximas semanas.
No front de custos, o monitoramento dos principais insumos de alimentação animal permanece central para produtores e integradoras. A previsibilidade de preço ao longo do ciclo de engorda ajusta decisões de compra e políticas de estocagem. Para a indústria, a observação do frete interno e do frete marítimo — somados a taxas e serviços portuários — compõe a fotografia completa das margens ao longo do semestre.
Metodologia e notas sobre os números do semestre
Os dados consolidados de janeiro a junho de 2025 consideram dois recortes: carne suína in natura, com 630 mil toneladas e US$ 1,626 bilhão, e o agregado de todos os produtos, entre in natura e processados, com 722 mil toneladas e US$ 1,723 bilhão. As variações percentuais são calculadas em relação ao mesmo período de 2024. As referências por estado mostram Santa Catarina na liderança (374,3 mil t), seguida por Rio Grande do Sul (158,9 mil t), Paraná (111,3 mil t), Mato Grosso (18,5 mil t) e Minas Gerais (18,4 mil t). Cálculos de participação e valores médios por tonelada foram estimados a partir desses totais e servem como aproximações úteis para leitura do desempenho.
Quanto ao ambiente de preços, julho apresentou demanda doméstica mais fraca, fenômeno comum no período de férias, e a reunião da BSEMG em 31/07 registrou alta de R$ 0,30/kg, apontando reversão parcial do ajuste. Sobre as tarifas anunciadas pelos Estados Unidos em 09/07, com vigência a partir de 01/08, observa-se impacto direto limitado na suinocultura, dado o baixo peso das vendas para aquele destino no semestre. As referências citadas são válidas para as datas mencionadas e ajudam a contextualizar o balanço fechado ao fim de julho e divulgado em agosto, quando o setor confirmou recordes e margens positivas.