Indústria brasileira lidera em renováveis: corta custos, atrai investimentos e turbina exportações

Indústria brasileira lidera em renováveis: corta custos, atrai investimentos e turbina exportações

A adoção de fontes renováveis avançou de forma consistente na indústria brasileira entre 2023 e 2025. Levantamentos recentes apontam que 85% das empresas no país aplicam ao menos uma prática de economia circular, enquanto 48% declararam investir em projetos de transição energética em 2024. No consumo nacional, a indústria respondeu por 31,8% da energia demandada em 2023 e elevou o índice de renovabilidade de sua matriz para 64,7% no mesmo ano. Com a expansão do Mercado Livre de Energia e a consulta pública do Ministério de Minas e Energia, aberta até 21 de outubro de 2025, o movimento tende a se acelerar, com impacto direto em custos, previsibilidade e competitividade.

Panorama 2023–2025: dados que explicam o avanço

A Confederação Nacional da Indústria (CNI), em parceria com o Centro de Pesquisa em Economia Circular da USP, apurou em 2024 que 85% das indústrias brasileiras adotam alguma prática ligada ao reaproveitamento de materiais ou ao desenho de processos que geram menos perdas. Em um outro recorte, a pesquisa CNI/Nexus indicou que 48% das empresas consultadas investiram em ações para migrar parte do suprimento para fontes renováveis em 2024, ante 34% em 2023. Esses números mostram uma curva de adoção consistente, puxada por metas internas de eficiência, redução de custos operacionais e mecanismos de contratação mais flexíveis.

No Balanço Energético Nacional (BEN) de 2023, elaborado pela EPE, a indústria foi responsável por 31,8% do consumo final de energia. O dado reforça o peso do segmento na demanda nacional e ajuda a dimensionar o efeito de qualquer mudança de fonte. O índice de renovabilidade na matriz energética industrial chegou a 64,7% em 2023, avanço que conviveu com uma variação moderada do consumo no período 2022–2023, de 2,9%, inferior ao ritmo observado em serviços (6,4%). Ao mesmo tempo, a matriz elétrica do país seguiu diversificando: eólica e solar somadas já respondem por 23,7% da geração de eletricidade, com crescimento anual de 12,4% e 39,6%, respectivamente, enquanto o gás natural aumentou 23,9% e a participação hídrica recuou um ponto percentual.

  • 85% das indústrias adotam ao menos uma prática de economia circular (CNI/USP, 2024).
  • 48% investiram em transição para fontes renováveis em 2024, contra 34% em 2023 (CNI/Nexus).
  • Indústria consome 31,8% da energia do país (BEN/EPE 2023).
  • Índice de renovabilidade no uso industrial: 64,7% em 2023 (BEN/EPE).
  • Eólica e solar somam 23,7% da geração elétrica; avanço de 12,4% e 39,6% entre 2023 e 2024.

O que muda no chão de fábrica: eficiência, modernização e gestão

Diagnósticos energéticos mais detalhados e a digitalização do controle de processos abriram espaço para ganhos rápidos. Em 2024, os itens mais citados pelas empresas incluem redução da geração de resíduos (89%), otimização do consumo de energia (86%) e modernização de maquinário para ganhos operacionais (81%). Na prática, isso se traduz em motores de alto rendimento, inversores de frequência, sistemas de recuperação de calor e ajustes finos em linhas com alto consumo específico. O efeito aparece no curto prazo: queda do kWh por unidade produzida, menor parada não programada e menos descarte.

A agenda interna também prioriza o uso racional de água e a melhoria de processos. Segundo a CNI, 79% das fábricas reduziram ou eliminaram a poluição de água e outros 79% otimizaram o uso hídrico com reuso, medição setorizada e automação de válvulas. Por fim, 77% relataram revisão de fluxos produtivos para elevar o desempenho operacional. Ao combinar essas frentes com contratação de energia de menor variabilidade de preço, as organizações conseguem amortecer choques tarifários, estabilizar margens e planejar expansão com mais previsibilidade.

  • Reduzir a geração de resíduos: 89%.
  • Otimizar o consumo de energia: 86%.
  • Modernizar maquinários para ganhos operacionais: 81%.
  • Reduzir ou eliminar a poluição da água: 79%.
  • Otimizar o uso da água: 79%.
  • Aperfeiçoar processos produtivos: 77%.

Fontes em alta: como cada alternativa entra no mix

A energia hídrica segue estruturante, mas a diversificação é o traço mais visível do período recente. A geração eólica ganhou fôlego com complexos no Nordeste, contratos de longo prazo e fator de capacidade acima de 40% em diversas áreas. A solar evoluiu em dois movimentos: usinas centralizadas em mercado livre e geração distribuída para autoconsumo em telhados e solo. Na prática, o mix traz segurança contra sazonalidades, reduz exposição a bandeiras tarifárias e melhora o balanço entre base e ponta, sobretudo quando há gestão de demanda no horário de pico.

Biomassa aparece como solução aderente a ramos que geram resíduos orgânicos, caso de papel e celulose, sucroenergético e alimentos. A cogeração com vapor de processo, quando bem dimensionada, eleva a eficiência global ao aproveitar calor residual. O gás natural, por sua vez, tem impacto relevante na firmeza do sistema e na indústria térmica intensiva. Para projetos de médio e longo prazo, o hidrogênio de baixo carbono entra no radar como insumo e vetor energético para processos específicos, ainda em escala piloto ou com contratos de fornecimento dedicados.

Mercado Livre de Energia: contratos, abertura e o que observar

O Mercado Livre de Energia permite que consumidores negociem preço, prazo e indexadores diretamente com geradores e comercializadores. Essa flexibilidade atraiu empresas com perfil de carga previsível e capacidade de gestão. Entre 2023 e 2025, avançaram os contratos de longo prazo (PPA) atrelados a usinas eólicas e solares, além de modelos de autoprodução. Para além do preço, o desenho do contrato define exposição a PLD, sazonalização, modulação e garantias. A recomendação é alinhar curva de consumo e perfil de geração, com cláusulas para períodos de manutenção e paradas programadas.

A proposta de abertura total do mercado, em consulta pública com prazo até 21 de outubro de 2025, indica que consumidores de menor porte poderão escolher o fornecedor no futuro. Para a indústria, a mudança tende a ampliar a oferta de contratos, melhorar a competição e reduzir volatilidade. Antes de migrar, vale checar condições de demanda contratada, encargos de uso do sistema, prazos de comunicação ao distribuidor e possíveis investimentos na medição. Também é importante definir governança para gestão do portfólio de energia, com metas, indicadores e responsabilidades claras.

O papel da indústria do plástico no avanço da energia renovável

O segmento do plástico aparece como um dos vetores de modernização. O Perfil 2025 da ABIPLAST destacou a expansão do setor, com geração de empregos e investimentos em reciclagem e atualização de parque fabril. Em energia, as plantas têm adotado contrato no mercado livre, usinas solares para autoconsumo e medidas de eficiência em extrusoras, injetoras e sopradoras. Em locais com disponibilidade de biomassa, há projetos de caldeiras com recuperação de calor e substituição de combustíveis em rotomoldagem e termoformagem, reduzindo o consumo específico por tonelada produzida.

Na etapa logística, a gestão de demanda elétrica e a troca de iluminação por LED inteligente ajudam a baixar picos e custos associados a ponta. Sistemas supervisórios acompanham curvas de carga em tempo real e orientam ajustes de produção em horários mais vantajosos. O encadeamento com a cadeia de reciclagem também vem evoluindo com triagem avançada, contratos de fornecimento estáveis e rastreabilidade. O resultado aparece no custo total por unidade e na previsibilidade de fornecimento, ponto chave para atender grandes compradores e cumprir especificações técnicas negociadas.

 

Como financiar projetos: modelos, prazos e garantias

A decisão entre investir com capital próprio, contratar um PPA de longo prazo ou aderir à autoprodução depende do apetite a risco e da estratégia de cada companhia. Para projetos fotovoltaicos de telhado, o payback típico de mercado costuma variar entre 3 e 6 anos em plantas com alto fator de utilização e tributos locais previsíveis. Em usinas dedicadas para mercado livre, contratos de 10 a 15 anos tendem a ancorar a viabilidade. A estrutura de garantias deve considerar volatilidade de preço, cronograma de entrada em operação e eventuais ajustes regulatórios.

Linhas de crédito direcionadas a eficiência energética e geração elétrica podem reduzir custo financeiro quando há comprovação de economia mensurável. Modelos de locação operacional e as-a-service transferem parte do risco técnico ao fornecedor e aliviam balanço. Já os consórcios entre empresas de um mesmo polo industrial viabilizam escala e melhoram o poder de barganha na conexão à rede. Em todos os casos, auditoria independente e medição de desempenho são condições para liberar parcelas de financiamento com segurança.

  • PPA de longo prazo: proteção contra volatilidade e previsibilidade de caixa.
  • Autoprodução: offset de encargos e maior controle do ativo.
  • Eficiência energética: CAPEX menor e retorno rápido.
  • Leasing e modelos as-a-service: menor desembolso inicial.

Medição e verificação: como provar resultados e evitar surpresas

Indicadores precisos ajudam a separar ganhos estruturais de variações conjunturais. Entre os KPIs mais usados estão consumo específico (kWh por unidade produzida), fator de capacidade das usinas contratadas, custo nivelado de energia (LCOE), custo médio ponderado por fonte e atendimento da curva de carga. Para projetos térmicos, o balanço de massa e energia quantifica ganhos com recuperação de calor e melhora da eficiência global. A implantação de um plano de medição e verificação cria série histórica e dá base para renegociar contratos.

Sistemas SCADA e plataformas de analytics consolidam dados de medidores, CLPs e inversores. Alertas de desvio identificam degradação de módulos, falhas de comunicação, sombreamento fora do padrão e anomalias de tensão. Em PPAs, a conciliação de medição no ponto de conexão com o faturamento mensal evita divergências. No mercado livre, vale acompanhar sazonalização, sobras e déficits contratuais para reduzir exposição ao preço de liquidação de diferenças. Auditorias periódicas asseguram que o desempenho declarado corresponde ao obtido em campo.

Riscos e cuidados: conexão, licenças e operação diária

Projetos podem atrasar por restrições na rede ou por processos de conexão com prazos mais longos. Estudos de acesso bem feitos evitam surpresas de última hora, como reforços exigidos pela distribuidora. No caso de autoprodução remota, conferir disponibilidade de ponto, perdas na transmissão e encargos é essencial. Contratos que preveem penalidades por atraso devem atribuir responsabilidades de forma equilibrada entre gerador e consumidor, com marcos objetivos de entrega.

Na operação, o ajuste fino entre geração e consumo reduz sobras e déficits. Em eólica e solar, a previsibilidade meteorológica melhora com modelos de curtíssimo prazo, o que ajuda a programar cargas flexíveis e manutenção. Equipamentos de proteção e seccionamento precisam estar alinhados às normas técnicas e aos requisitos da distribuidora. Planos de contingência para falhas de comunicação e perdas de medição garantem continuidade do faturamento e evitam glosas.

Passo a passo: do diagnóstico ao contrato de longo prazo

1) Levantamento de dados. Reúna histórico de consumo por unidade e centro de custo, medições de demanda, curvas de carga e projeção de produção. 2) Identificação de oportunidades. Mapeie eficiência e substituição de fontes, com cenários de curto, médio e longo prazo. 3) Avaliação regulatória. Verifique elegibilidade para o mercado livre, prazos de migração e exigências de medição. 4) Seleção de modelo. Compare PPA, autoprodução, geração distribuída e compra no mercado cativo, considerando sensibilidade de preço e riscos.

5) Engenharia e conexão. Encomende o projeto básico e os estudos de acesso; valide cronograma de suprimento de equipamentos e licenças. 6) Negociação contratual. Defina indexadores, garantias, curva de entrega, sazonalização e cláusulas de força maior. 7) Implantação e comissionamento. Estabeleça marcos objetivos, testes de performance e plano de O&M. 8) Medição e verificação. Implante sistema de monitoramento, KPIs e rotinas de auditoria. 9) Gestão contínua. Revise portfólio de contratos ao longo do tempo e capture oportunidades de mercado.

Casos setoriais: onde os ganhos aparecem primeiro

No agronegócio e alimentos, a combinação de biomassa com cogeração atende simultaneamente demanda térmica e elétrica. Em papel e celulose, a recuperação de licor negro e o uso de cavacos e cascas ajudam a reduzir compra de energia em horários caros. Já na metalurgia e no cimento, projetos de eficiência em fornos e moinhos, aliado a contratos firmes no mercado livre, diminuem a exposição a picos tarifários e garantem previsibilidade de produção.

O setor químico e o de plástico têm apostado em modernização de linhas, substituição de motores e automação para cortar perdas elétricas. Em paralelo, contratos de eólica e solar distribuem risco sazonal entre regiões com complementaridade climática. A adoção de medição setorizada e de indicadores por família de produto facilita a identificação de gargalos e sustenta decisões de investimento em geração própria ou contratada.

Custos e payback: como montar a conta sem ilusões

Três variáveis dominam a análise: investimento inicial (CAPEX), custo operacional (OPEX) e curva de geração ou de economia. Em solar de telhado, fatores como orientação, sombreamento, temperatura média e qualidade dos inversores alteram a produção ao longo do ano. Em eólica, o regime de ventos e o fator de disponibilidade pesam no resultado. Para biomassa, preço e sazonalidade do insumo, além da logística, definem o custo final. Modelos conservadores evitam frustração de retorno e ajudam a planejar caixa.

Indexadores contratuais (IPCA, IGP-M) e fórmulas de reajuste devem ser projetados em cenários de inflação diferentes. Em PPAs, a análise de crédito da contraparte influencia o custo de capital. Em autoprodução, a governança de O&M é decisiva para manter a performance e preservar garantias. A regra prática é construir um caso base com premissas realistas e criar faixas de sensibilidade para preço de energia, câmbio e produtividade do ativo. Assim, a decisão final reflete risco e retorno esperados.

Inovação aplicada: digital, materiais e operação em tempo real

Sensores de baixo custo e comunicação confiável transformaram o acompanhamento energético. Medidores inteligentes registram dados em intervalos curtos, permitindo análises de correlação entre produção, clima e consumo. Algoritmos de previsão ajudam a programar cargas flexíveis e a aproveitar melhor a geração em horários de maior preço. Em plantas com várias linhas, dashboards com KPIs por turno e por máquina facilitam ações imediatas e reduzem o tempo entre a detecção de um desvio e a correção.

Materiais e equipamentos também evoluíram. Módulos fotovoltaicos com maior eficiência por área, inversores com funções de rede e trackers com menor OPEX ampliam o rendimento em plantas solares. Nas eólicas, sistemas de monitoramento preditivo identificam vibração fora do padrão e programam manutenção antes da falha. Em cogeração, melhorias em isolamento e recuperação de calor elevam a eficiência térmica global. Esses avanços tecnológicos, quando combinados com contratos bem estruturados, entregam resultados mais estáveis ao longo do ciclo de vida do ativo.

Pessoas e governança: por que a capacitação acelera resultados

Equipes de manutenção, engenharia e compras precisam falar a mesma língua. Isso inclui entender os termos dos contratos de energia, reconhecer riscos de exposição ao PLD e interpretar relatórios de medição. Treinamentos focados em leitura de curvas de carga e operação dos sistemas reduzem falhas simples e evitam multas. A alta liderança, por sua vez, deve definir metas claras e criar rituais de acompanhamento, com reuniões periódicas e indicadores compartilhados com a operação.

A governança cobre ainda a contratação de serviços terceirizados. É comum que o resultado dependa de SLAs que tratam de disponibilidade, tempo de resposta e performance mínima. Auditorias independentes validam a entrega de energia e de economia prometidas. Ao fim, o que sustenta a mudança é a combinação de pessoas treinadas, metas alcançáveis e dados confiáveis para tomada de decisão. Sem isso, mesmo projetos bem dimensionados perdem eficiência com o tempo.

Glossário rápido e dúvidas frequentes

PPA. Sigla para Power Purchase Agreement, contrato de compra e venda de energia no longo prazo entre gerador e consumidor, comum no mercado livre. Autoprodução. Modelo em que o consumidor investe diretamente na usina e usufrui de benefícios regulatórios. LCOE. Custo Nivelado de Energia, métrica que compara custos totais de geração ao longo da vida do projeto. Fator de capacidade. Relação entre a energia efetivamente gerada e a máxima possível em determinado período.

O que considerar antes de migrar para o mercado livre? Perfil de consumo, contratos vigentes, prazos de comunicação à distribuidora e custos de medição. Autoprodução vale a pena para toda empresa? Nem sempre; depende de escala, perfil de carga e acesso à rede. Como medir ganhos? Defina KPIs, implante medição confiável e compare com linha de base. Quando revisar o portfólio? Pelo menos uma vez ao ano ou ao fim de marcos contratuais, sempre que houver mudança relevante de produção ou preços.

Brasil em posição de destaque: por que o país atrai projetos

O Brasil combina recursos naturais abundantes, cadeia industrial estabelecida e experiência regulatória acumulada ao longo de décadas no setor elétrico. A presença de fontes complementares, como hídrica, eólica e solar, reduz riscos de suprimento e permite contratos com diferentes perfis de entrega. Em várias regiões, fatores de capacidade atrativos e disponibilidade de áreas ajudam a viabilizar projetos em valores competitivos. A expansão da transmissão, embora desafiadora, cria corredores para novos empreendimentos e melhora o escoamento da geração.

Para a indústria, esse ambiente significa acesso a energia com preços mais previsíveis e maior espaço para inovação de processo. O ciclo de investimentos abre oportunidades para fornecedores de equipamentos, construtoras e empresas de serviços especializados. Ao mesmo tempo, a concorrência entre tecnologias e modelos contratuais tende a beneficiar quem planeja com antecedência e mantém um portfólio diversificado. O resultado é uma base energética mais sólida para sustentar expansão de produção, exportações e novos negócios.

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