Paraná puxa a fila no agro: salários 58% acima da média nacional — oportunidades e ganhos em alta

Paraná puxa a fila no agro: salários 58% acima da média nacional — oportunidades e ganhos em alta

O salário médio mensal dos trabalhadores da agropecuária no Paraná chegou a R$ 3.428 no 2º trimestre de 2025 e ficou 58,5% acima da média brasileira do setor, de R$ 2.163. No intervalo de um ano, a remuneração no estado avançou 23% já descontada a inflação, enquanto no país a alta foi de 5,2%. O desempenho amplia a distância entre o Paraná e a média nacional e é atribuído, entre outros fatores, ao aumento da produção agrícola na safra de 2025, segundo dados da PNAD Contínua do IBGE acompanhados pelo Ipardes.

Resultados do trimestre: quanto o Paraná se distanciou do resto do país

Os números do 2º trimestre de 2025 mostram um salto consistente dos rendimentos no campo paranaense. Com R$ 3.428 de média mensal, os ocupados da agropecuária no estado recebem, em média, R$ 1.265 a mais que seus pares no Brasil. A diferença relativa, de 58,5%, evidencia um poder de compra maior e dá fôlego às famílias que dependem do trabalho no setor primário, com reflexos em consumo e serviços em cidades com forte presença de atividades rurais.

A comparação direta com a média nacional ajuda a dimensionar a mudança recente. Há um ano, os rendimentos no país representavam 73,7% da média paranaense. Agora são 63,1%. Em outras palavras, mesmo com avanço no Brasil, o ritmo de crescimento no Paraná foi mais forte. Essa diferença não vem de um único fator: combina produção maior de grãos, expansão de culturas específicas e um mercado de trabalho que tem demandado funções de maior qualificação em várias regiões do estado.

O comportamento do trimestre também consolida uma trajetória que vem sendo observada em ciclos agrícolas recentes. Em 2025, a colheita de grãos, leguminosas e oleaginosas no estado deve alcançar 45,7 milhões de toneladas, 21,8% acima do ano anterior, que havia somado 37,5 milhões de toneladas. Com mais volume produzido e cadeias operando com intensidade, a remuneração média se desloca para cima, sobretudo nas ocupações ligadas a colheita, transporte, armazenagem e operação de máquinas.

  • Rendimento médio agropecuário no Paraná (2º tri/2025): R$ 3.428
  • Rendimento médio agropecuário no Brasil (2º tri/2025): R$ 2.163
  • Variação real em 12 meses no Paraná: +23%
  • Variação real em 12 meses no Brasil: +5,2%
  • Peso do rendimento nacional frente ao Paraná: 63,1% (era 73,7% há um ano)

O que explica o avanço dos rendimentos

O aumento da renda média no Paraná está associado, em primeiro plano, ao crescimento da produção agrícola no ciclo 2025. Com a safra projetada para 45,7 milhões de toneladas, o estado amplia a utilização de estruturas de colheita e beneficiamento, cria jornadas adicionais em etapas de pós-colheita e abre espaço para remunerações mais altas em funções que exigem domínio de tecnologias de campo, como pilotagem de máquinas com recursos de precisão e gestão de armazenagem. Em períodos de pico de atividade, produtores e empresas costumam ofertar salários acima do patamar anterior para garantir equipes completas e reduzir gargalos logísticos.

Outro ponto é a composição da pauta agrícola. Culturas com maior valor por tonelada ou com cadeias industriais ativas no entorno tendem a conceder salários melhores em determinados elos, porque a produtividade por trabalhador aumenta e há incentivos para reter mão de obra. Em 2025, o Paraná projeta altas relevantes em soja e milho, além de incrementos expressivos em cevada e aveia. Essas culturas, combinadas, puxam serviços de transporte curto, manutenção de equipamentos, compra de insumos e comércio local, e esse efeito multiplicador se reflete nos rendimentos médios captados pelas pesquisas domiciliares do IBGE.

Há ainda um componente institucional: o acompanhamento constante dos indicadores por órgãos estaduais e a presença de cooperativas e empresas organizadas em redes de assistência técnica e de compras. Esse arranjo favorece a difusão de métodos que elevam a produtividade, reduz o tempo de parada em etapas críticas e cria espaço para remunerações diferenciadas em ocupações-chave. Com mais produção colhida em menos tempo, as horas de trabalho se tornam mais produtivas e o salário por ocupado tende a subir, movimento que as estatísticas do 2º trimestre de 2025 capturam com clareza.

Produção em alta: soja, milho, cevada e aveia puxam o resultado

Os dados mais recentes indicam que a soja deve crescer 14,2% em 2025, passando de 18,6 milhões de toneladas em 2024 para 21,3 milhões de toneladas. O salto vem acompanhado de uma operação de colheita mais extensa e de uma agenda intensa para unidades de secagem e armazenagem, que precisam girar estoques rapidamente para receber novas cargas. Em paralelo, o milho, somadas a primeira e a segunda safras, tem acréscimo estimado em 33,3%, de 15,1 milhões para 20,1 milhões de toneladas, o que aumenta a necessidade de equipes em campo e em estruturas de logística, do escoamento nas propriedades até os terminais de recepção.

Cevada e aveia também registram crescimento expressivo. As taxas esperadas, de 50,3% e 47,3%, respectivamente, recolocam essas culturas no radar de produtores e indústrias que utilizam o grão como insumo. O Paraná deve concentrar 78,6% da safra brasileira de cevada, o que amplia a relevância do estado em nichos que buscam matéria-prima padronizada, com contratos programados e assistência técnica ajustada ao calendário de colheita. Com maior participação, amplia-se a chance de captura de melhores preços na originação e isso se traduz em maior capacidade de pagamento ao longo da cadeia.

O aumento do volume total colhido, de 37,5 milhões de toneladas em 2024 para 45,7 milhões de toneladas em 2025, reforça a necessidade de mão de obra em etapas operacionais e de gestão. Fora da lavoura, serviços que orbitam a atividade rural ganham intensidade: oficinas para manutenção de tratores e colheitadeiras, comércios de peças e insumos, empresas de tecnologia de aplicação e de monitoramento, e transportadores que fazem a conexão do campo com armazéns e indústrias. Em períodos de maior utilização de ativos, a remuneração tende a refletir a competição por trabalhadores experientes em funções específicas.

Com o avanço sincronizado de várias culturas, o calendário de picos de trabalho se encurta, gerando janelas de alta demanda que sustentam salários por hora maiores, bônus por produtividade e contratações temporárias com piso acima dos meses de entre-safra. É nesses períodos que a diferença entre o rendimento médio de estados com produção aquecida e a média nacional costuma se alargar. Os dados do 2º trimestre ilustram esse efeito no Paraná, em linha com o que Ipardes e IBGE apontam nos levantamentos acompanhados periodicamente.

Comparação entre estados: onde o Paraná se posiciona

O rendimento médio da agropecuária paranaense supera o observado em outras unidades da federação com forte produção agrícola. Em Santa Catarina, a média é de R$ 3.229; no Mato Grosso do Sul, R$ 3.149; em Goiás, R$ 3.071; em São Paulo, R$ 2.989; em Minas Gerais, R$ 2.440; e no Pará, R$ 1.425. O quadro reforça a posição do estado no topo do grupo que reúne mercados dinâmicos no campo, com cadeias organizadas e oferta de serviços vinculados à colheita e ao escoamento da produção.

A comparação também ajuda a entender diferenças estruturais. Em lugares onde a produção se concentra em culturas com maior intensidade de capital e com redes de cooperativas e indústrias próximas, as oportunidades de postos especializados aumentam, e isso puxa a média de remuneração. No Paraná, esse arranjo está presente em diversas regiões, o que contribui para um tecido produtivo no qual a agropecuária dialoga com transformação de alimentos e com serviços técnicos. Esse mosaico ajuda a explicar porque a renda média no estado aparece acima de mercados relevantes como São Paulo e Goiás no recorte do 2º trimestre de 2025.

Outro aspecto é a trajetória recente de expectativa de safra. Em julho, as maiores variações positivas na projeção nacional ocorreram no Mato Grosso, em Minas Gerais e no Paraná. O reforço simultâneo de oferta em praças grandes gera competição por trabalhadores com experiência e tende a manter a remuneração em patamares elevados, principalmente quando há necessidade de reduzir perdas na colheita e acelerar o giro de estoques. No caso paranaense, os dados mostram que esse ambiente se converteu em salário médio maior no recorte da PNAD Contínua.

Efeito renda na economia local: quanto circula por mês

O impacto dos salários do campo se espraia por várias atividades. De acordo com o Ipardes, o Paraná tem 511 mil ocupados na agropecuária. Com salário médio de R$ 3.428, isso significa cerca de R$ 1,75 bilhão injetados mensalmente na economia estadual na forma de remuneração. O cálculo reforça a importância do setor na geração de renda e no suporte a serviços como comércio, transporte, manutenção e atividades financeiras locais, que se beneficiam do dinheiro que entra regularmente nos municípios com forte presença rural.

“Considerando que o Estado apresenta 511 mil ocupados na atividade agropecuária e que o salário médio do setor atinge R$ 3.428, temos aproximadamente R$ 1,75 bilhão injetados mensalmente na economia local sob a forma de salário, o que impulsiona uma série de segmentos produtivos”, afirma Jorge Callado, diretor-presidente do Ipardes. O comentário ajuda a quantificar o chamado efeito multiplicador dos rendimentos do campo, que parte da folha de pagamento e alcança fornecedores de bens e serviços nos centros urbanos próximos às áreas de produção.

Esse poder de difusão da renda também se relaciona ao papel do Paraná na produção nacional. O estado concentra 13,4% do mercado de grãos e aparece como o segundo maior produtor brasileiro. “O território paranaense corresponde a 2,3% da área do país e a nossa participação na produção nacional de grãos ultrapassa 13%, o que não deixa dúvida à elevada produtividade do Estado”, diz o secretário de Planejamento do Paraná, Ulisses Maia. Com uma participação dessa ordem, cada ponto percentual de ganho de produtividade ou de salário no campo tende a se refletir em cifras expressivas nos agregados econômicos locais.

Sazonalidade e calendário de trabalho: como os picos afetam a remuneração

A agropecuária opera com ciclos definidos, e o calendário de plantio e colheita determina períodos de maior demanda por mão de obra. Quando as colheitas de soja e milho se sobrepõem no cronograma, o número de frentes ativas no campo aumenta, o que concentra a busca por operadores de colheitadeiras, motoristas e auxiliares de pós-colheita. Em janelas curtas, o mercado tende a oferecer valores acima do costume para garantir equipes completas, e esse movimento eleva a média captada em pesquisas amostrais. No 2º trimestre, esse efeito costuma ser perceptível em regiões com grande área colhida.

Outro fator é a logística de escoamento. Com volumes maiores chegando aos armazéns, a necessidade de trabalho em recepção, secagem e transferência se intensifica. Empresas e cooperativas ajustam escalas e, em alguns casos, pagam adicionais por turno ou produtividade para atender metas diárias. O resultado se converte em ganhos médios mais altos, especialmente quando a produção cresce ao mesmo tempo em diferentes culturas. A previsão de 45,7 milhões de toneladas para 2025 reforça esse cenário de alta utilização de estruturas ao longo de vários meses, mantendo a renda em patamares elevados no período avaliado.

Essa sazonalidade também aparece na precificação de serviços especializados. Treinamentos de curta duração para operação de máquinas, capacitações em armazenagem e rotinas de manutenção programada costumam ocorrer antes do pico de colheita, com contratação de instrutores e técnicos. Quando a produção efetiva confirma as projeções e os ativos giram no limite, a demanda por esses profissionais se mantém, sustentando remunerações acima da média histórica nas semanas de maior movimentação.

PNAD Contínua: o que a pesquisa mede e como interpretar os dados

A PNAD Contínua, do IBGE, acompanha o mercado de trabalho por meio de entrevistas domiciliares e calcula, entre outros indicadores, o rendimento médio real habitual, já descontada a inflação. O recorte por atividade econômica permite observar quanto recebem, em média, os ocupados na agropecuária. Por ser uma pesquisa amostral, há margens de erro e mudanças sazonais que podem afetar as comparações de um trimestre para outro. Por isso, leituras em janela de 12 meses, como as citadas para 2025, ajudam a captar tendências sem o ruído de curto prazo.

A interpretação dos números precisa considerar que o rendimento médio reflete tanto o salário de quem manteve o emprego quanto o perfil dos novos entrantes. Em momentos de expansão, aumentos na participação de ocupações com maior especialização elevam a média. O inverso também é verdadeiro: se crescem empregos com remuneração típica mais baixa, a média pode cair mesmo sem reduções salariais individuais. No caso do Paraná, a combinação de produção maior e ocupações que exigem experiência e qualificação técnica ajuda a entender o movimento de alta de 23% em termos reais em um ano.

Outro ponto é a diferença entre rendimento médio e mediano. Embora a PNAD forneça o valor médio, a distribuição de salários pode ser assimétrica em algumas regiões ou funções. Isso significa que a experiência de cada trabalhador pode variar em relação à média. Ainda assim, quando as práticas de remuneração sobem de forma disseminada entre produtores, cooperativas e empresas de serviços ligados à agropecuária, o agregado capta essa melhoria, como ocorreu no 2º trimestre de 2025.

Perfil das ocupações: funções mais demandadas e caminhos de qualificação

O avanço da renda no campo paranaense passa por funções que ganharam espaço com o aumento do volume colhido e a adoção de técnicas de precisão. Operadores de máquinas agrícolas, técnicos de armazenagem, encarregados de pátio, motoristas e profissionais de manutenção mecânica aparecem entre as ocupações que se valorizam em fases de colheita intensa. Nessas funções, a experiência e a capacidade de lidar com equipagens modernas fazem diferença e costumam resultar em propostas salariais mais competitivas na comparação com postos menos especializados.

Para quem busca ingressar ou progredir na agropecuária, cursos de curta duração focados em segurança de operação, calibração de equipamentos, boas práticas de colheita e noções de logística são caminhos práticos. Nas regiões com presença de cooperativas, programas internos de treinamento frequentemente oferecem trilhas que vão do básico ao avançado, preparando trabalhadores para assumir responsabilidades com impacto direto nos resultados da safra. Esse tipo de qualificação se alinha ao cenário de 2025, no qual maiores volumes exigem equipes aptas a operar com eficiência durante longas janelas de colheita e pós-colheita.

A valorização também aparece nas carreiras que conectam o campo à indústria de alimentos e insumos. Supervisores de recebimento, analistas de qualidade na pós-colheita e técnicos de manutenção preventiva em unidades de secagem e armazenagem são exemplos de funções cuja importância cresce quando a produção aumenta. Em um ambiente em que cada hora parada pode comprometer a janela ideal, o conhecimento aplicado se traduz em renda maior e estabilidade ao longo de diferentes fases do calendário agrícola.

Perguntas e respostas: como ler os números e o que observar

O que significa dizer que o rendimento no Paraná é 58,5% maior que a média do país?

Significa que, no 2º trimestre de 2025, os ocupados na agropecuária paranaense receberam, em média, R$ 3.428 por mês, ante R$ 2.163 no Brasil. A diferença de 58,5% mostra quanto a renda média do estado está à frente da nacional nesse período. Em termos práticos, ela reflete a composição de vagas, o volume de produção e a intensidade do uso de máquinas e estruturas, fatores que, combinados, tendem a valorizar ocupações específicas e a elevar a média do conjunto.

A leitura desse percentual também ajuda a acompanhar a dinâmica do mercado de trabalho no campo. Quando a distância aumenta, como ocorreu ao longo do último ano, indica que os salários no Paraná avançaram em ritmo mais forte do que a média nacional. Quando diminui, sugere convergência. O dado, por si, não explica tudo, mas é um sinal de como o ciclo produtivo estadual está se comportando em relação ao país.

Por que a produção maior puxa os salários para cima?

Porque produzir mais em janelas curtas aumenta a necessidade de equipes e de eficiência. Para cumprir cronogramas de colheita e reduzir perdas, produtores e cooperativas buscam operadores experientes, técnicos de armazenagem, motoristas e mecânicos. Se a oferta desses profissionais não cresce no mesmo ritmo do volume produzido, os salários sobem por uma combinação de bônus, adicionais por turno e propostas para atrair e reter trabalhadores em fases críticas do calendário agrícola.

Além disso, quando a produtividade por hora aumenta com o uso de equipamentos e processos mais eficientes, a remuneração associada a essas funções tende a ser maior. A PNAD Contínua capta esse efeito ao medir o rendimento médio real dos ocupados, o que ajuda a explicar a alta de 23% no Paraná em 12 meses, contra 5,2% no Brasil, no recorte analisado.

Como a comparação com outros estados deve ser interpretada?

Comparar valores médios de estados com estruturas produtivas distintas exige cautela. Mesmo entre regiões com grande produção agrícola, há diferenças na pauta de culturas, na presença de cooperativas, na logística e no perfil das ocupações predominantes. No 2º trimestre de 2025, o Paraná aparece com média de R$ 3.428 e supera Santa Catarina (R$ 3.229), Mato Grosso do Sul (R$ 3.149), Goiás (R$ 3.071), São Paulo (R$ 2.989), Minas Gerais (R$ 2.440) e Pará (R$ 1.425). O conjunto sugere que, além do volume produzido, o arranjo das cadeias locais favoreceu remunerações maiores no período.

Vale lembrar que a mesma cultura pode ter remuneração diferente dependendo da etapa da cadeia e do nível de qualificação exigido. A interpretação de rankings deve considerar esses elementos e observar a evolução ao longo de vários trimestres para identificar tendências mais sólidas, sem se apoiar apenas em um dado isolado.

Cálculos e verificações: como chegar aos R$ 1,75 bilhão por mês

O valor citado pelo Ipardes para a massa de rendimentos mensais da agropecuária paranaense decorre de uma conta direta: número de ocupados multiplicado pelo rendimento médio. São 511 mil trabalhadores e R$ 3.428 de média mensal. Multiplicando, obtém-se R$ 1.751.708.000, valor arredondado para R$ 1,75 bilhão. Embora seja uma aproximação, a ordem de grandeza traduz o quanto circula mês a mês no estado apenas com base no que a pesquisa capta para salários do setor primário.

Esse montante não inclui outras fontes de receita que podem existir no entorno da produção agrícola, como serviços prestados por empresas terceirizadas e ganhos fora do escopo do rendimento habitual medido pela pesquisa. Ainda assim, o número é útil para dimensionar o impacto imediato da remuneração do trabalho no campo sobre o comércio local, sobre postos de serviços e sobre cadeias que se beneficiam diretamente do ciclo de colheita e de armazenagem espalhado por diferentes regiões do Paraná.

Aonde o dinheiro chega: cidades e cadeias mais influenciadas

O fluxo de renda do campo alcança diferentes perfis de município, dos pequenos polos rurais a cidades médias com forte presença de cooperativas e agroindústrias. Nas semanas de colheita, oficinas, lojas de autopeças, restaurantes, mercados, postos de combustíveis e prestadores de serviços sobem o ritmo. Com pagamentos mensais em dia, a demanda por bens duráveis e por serviços recorrentes, como transporte e manutenção, tende a aumentar. Em praças com maior participação da agropecuária na atividade local, a sensibilidade à variação de salários é imediata, e isso ajuda a explicar a intensidade do efeito visto no 2º trimestre de 2025.

Nas cadeias mais conectadas ao escoamento, há impactos diretos na contratação de motoristas, auxiliares de carga e descarga e profissionais de pátio. Com a expectativa de safra maior, empresas de armazenagem e unidades de recebimento dimensionam turnos e, em pontos com alto volume, ajustam políticas de remuneração para garantir a operação ao longo de todo o dia. No agregado, o conjunto dessas decisões aparece nos dados de rendimento médio captados pelo IBGE, compondo o cenário de salários mais altos no estado.

Participação do Paraná no mapa nacional dos grãos

O Paraná detém 13,4% da produção nacional de grãos, o que o coloca como o segundo maior produtor do país. Esse peso específico ajuda a entender por que um movimento regional tem reflexos perceptíveis nos indicadores nacionais. Ao mesmo tempo, o dado explica a ênfase de autoridades estaduais no ganho de produtividade. Com apenas 2,3% do território brasileiro, o estado atrai atenção por transformar uma área relativamente menor em participação expressiva no volume final de grãos, combinando técnicas de produção, assistência técnica e coordenação de cadeias.

Em julho, a expectativa de safra teve acréscimos relevantes em Mato Grosso, Minas Gerais e no próprio Paraná, numa sinalização de que 2025 deverá ser um ano de alta oferta em praças importantes. Para trabalhadores e empresas, o cenário indica continuidade de demanda por funções de campo e de pós-colheita, além de necessidade de organização logística ao longo dos meses com maior fluxo de cargas. No curto prazo, isso tende a sustentar patamares de remuneração compatíveis com a intensidade de uso de estruturas e com o volume projetado para a safra.

Como acompanhar os próximos indicadores e tirar proveito das informações

Para entender se a tendência de rendimentos se mantém, vale acompanhar as divulgações periódicas da PNAD Contínua, que atualizam o retrato do mercado de trabalho e do rendimento médio real por atividade. Olhar para janelas de 12 meses e para séries dessazonalizadas, quando disponíveis, ajuda a reduzir ruídos típicos de períodos com muitas movimentações de vagas temporárias. Em paralelo, os levantamentos de safra fornecem pistas sobre a intensidade do uso de estruturas e sobre o potencial de demanda por trabalhadores em etapas específicas do calendário agrícola.

Produtores, cooperativas e trabalhadores podem usar essas referências para planejar contratações, ajustar treinamentos e antecipar janelas de maior competição por profissionais. Em locais onde a colheita se concentra em poucos meses, alinhar escalas e formas de remuneração a partir das projeções de volume contribui para reduzir gargalos e para distribuir melhor as jornadas. Ao mesmo tempo, trabalhadores que buscam melhorar a renda podem identificar, nos períodos de pico, oportunidades de funções que pagam acima da média e que valorizam experiência prática.

Em um ambiente com produção aquecida e números de renda em alta, como mostram os resultados do 2º trimestre de 2025 no Paraná, a informação tempestiva é um diferencial. A capacidade de ler o calendário de colheitas, cruzar dados de produção com a dinâmica de vagas e entender o impacto regional dos salários sobre serviços e comércio ajuda a orientar decisões no dia a dia de quem está no campo e ao redor dele.

Glossário comentado: termos que aparecem nos levantamentos

Rendimento médio real habitual

É o valor médio recebido mensalmente pelos ocupados, já com desconto da inflação. O objetivo é mostrar o poder de compra, e não apenas a quantia nominal. Na prática, quando se diz que a renda subiu 23% em termos reais no Paraná em 12 meses, significa que, além de aumentos nominais, houve ganho acima da variação de preços no período, o que amplia a capacidade de consumo dos trabalhadores do setor.

Esse conceito permite comparações no tempo sem o efeito de mudanças no nível geral de preços. Embora não capture todas as particularidades de cada ocupação, ele é útil para acompanhar tendências do mercado de trabalho e para avaliar o impacto de ciclos de produção mais intensos, como o observado em 2025 na agropecuária paranaense.

Safra e entressafra

Safra é o período em que a cultura é colhida; entressafra é o intervalo entre o fim de uma colheita e o início da próxima. No calendário de grãos, diferentes culturas têm janelas que podem se sobrepor. Quando isso acontece, há concentração de trabalho e o mercado tende a remunerar melhor para garantir equipe e cumprir prazos, o que contribui para a elevação do rendimento médio em trimestres com picos operacionais.

Entender essas janelas é importante porque elas explicam variações sazonais nos indicadores de emprego e renda. Em meses de pico, salários, horas trabalhadas e contratações temporárias costumam subir. Nos meses de menor atividade, as médias podem recuar sem que isso represente necessariamente piora estrutural do setor.

Primeira e segunda safras (milho)

A soma da primeira e da segunda safras de milho indica o total produzido ao longo do ano agrícola. Em 2025, a projeção é de 20,1 milhões de toneladas no Paraná, alta de 33,3% sobre 2024. Esse crescimento amplia a demanda por equipes em campo e em estruturas de pós-colheita, com efeitos diretos sobre as remunerações registradas em pesquisas de mercado de trabalho.

Na prática, a segunda safra costuma concentrar operações de colheita em janelas específicas, o que pressiona a procura por operadores de máquinas, motoristas e técnicos. Em anos de boa produtividade, a intensidade dessas operações se reflete nas estatísticas de renda.

Composição setorial da renda

A renda média de um setor depende do peso relativo de cada ocupação. Se postos com salários mais altos ganham participação, a média sobe mesmo que os salários individuais não mudem. O contrário também ocorre. No caso do Paraná em 2025, os dados sugerem maior presença de funções qualificadas durante o ciclo de colheita e de pós-colheita, o que ajuda a elevar o rendimento médio captado pela PNAD Contínua.

Ao interpretar movimentos na média, é útil considerar o papel de cooperativas, agroindústrias e prestadores de serviços técnicos. Eles costumam puxar a demanda por trabalhadores com experiência, e isso se traduz em remunerações mais altas em fases de grande movimentação, como as que marcaram o 2º trimestre de 2025 no estado.



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