O Valor Bruto de Produção (VBP) da piscicultura do Paraná alcançou R$ 2,29 bilhões em 2024, alta de 10,4% frente a 2023, segundo o Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento (Seab). A tilápia responde por mais de 80% dessa receita e a produção continua fortemente concentrada no Oeste do Estado. O Boletim de Conjuntura Agropecuária referente à semana de 12 a 18 de setembro de 2025 também destaca o desempenho de frango, ovos, suínos e floricultura, além de registrar ajustes recentes no uso do solo.
Boletim aponta crescimento de 10,4% na piscicultura do Paraná
O boletim do Deral confirma a sequência de expansão da piscicultura paranaense. O VBP de R$ 2,29 bilhões em 2024 consolidou a atividade como uma das mais dinâmicas do agronegócio local, com variação positiva de 10,4% em relação a 2023. O avanço reflete maior eficiência de produção, escala nos abates industriais e ganho de valor em cortes prontos para o consumidor, como filés e postas, além do aproveitamento de subprodutos que agregam receita ao processamento.
Segundo o Deral, a tilápia segue como carro-chefe da atividade, respondendo por mais de quatro quintos do valor gerado. A base produtiva está ancorada em polos integrados no Oeste, onde cooperativas, indústrias e produtores mantêm calendário de abate regular e padronização de lotes. A combinação de genética, nutrição e manejo ajustado aos padrões industriais sustenta a oferta contínua. No litoral, Paranaguá se destaca como área de pesca de captura, com protagonismo do camarão e participação de espécies marinhas variadas, compondo a oferta pesqueira do Estado.
Tilápia domina o valor gerado e produção se concentra no Oeste
A tilápia é a base econômica da piscicultura no Paraná. Com mais de 80% do VBP do setor, essa espécie garante escala para frigoríficos especializados, abastece redes varejistas e viabiliza contratos com food service. Em termos financeiros, a participação acima de 80% indica que, de R$ 2,29 bilhões, pelo menos R$ 1,83 bilhão tem origem direta na cadeia da tilapicultura. Essa concentração facilita padronização de cortes, planejamento de ração e uso de tecnologias de processamento, fatores que ajudam a explicar a continuidade do crescimento em 2024.
A região Oeste reúne a maior parte da criação em tanques escavados e sistemas de viveiros, próximos de plantas de abate e centros de distribuição. O encurtamento das rotas logísticas entre granjas de peixes e frigoríficos reduz perdas e melhora o rendimento de carcaça. O ambiente de integração com fornecimento de alevinos, assistência técnica e compra programada do peixe pronto acelera a profissionalização. Com isso, o calendário de engorda se alinha à demanda e reduz períodos de ociosidade nas unidades industriais.
Paranaguá se destaca na pesca de captura com foco no camarão
Enquanto a piscicultura predomina no interior, Paranaguá figura como polo de pesca de captura. O camarão lidera a pauta local e é seguido por diferentes espécies marinhas que abastecem peixarias regionais e serviços de alimentação. A proximidade com infraestrutura portuária e de frio favorece a conservação do produto e dá agilidade à distribuição, inclusive para centros consumidores fora do litoral paranaense. O perfil das embarcações e a organização do desembarque ajudam a uniformizar oferta ao longo do ano.
A captura tem dinâmica própria, distinta da aquicultura. A oferta depende de janelas sazonais, clima e esforço de pesca, o que exige planejamento de compradores e processadores para equilibrar estoques e atender a contratos. Mesmo com essas particularidades, a presença do camarão na pauta de Paranaguá amplia a diversidade de produtos disponíveis ao consumidor paranaense e reforça a complementaridade entre pesca e cultivo.
Avicultura: Paraná lidera abates e produção de carne no 1º semestre de 2025
O Paraná manteve a liderança nacional na avicultura de corte entre janeiro e junho de 2025. De acordo com o IBGE, o Estado respondeu por 34,4% dos frangos abatidos no período, totalizando 1,132 bilhão de cabeças. Na sequência aparecem Santa Catarina (453,833 milhões), Rio Grande do Sul (375,939 milhões), São Paulo (365,648 milhões) e Goiás (257,600 milhões). A distribuição confirma o eixo Sul-Sudeste como principal origem da oferta, com complementaridade do Centro-Oeste.
Em volume de carne, o Paraná também liderou no semestre, com 2,480 milhões de toneladas. Santa Catarina somou 943.686 toneladas, Rio Grande do Sul 682.364 toneladas, São Paulo 824.159 toneladas e Goiás 575.470 toneladas. Os números reforçam a importância de matrizes, fábricas de ração e parques frigoríficos integrados, que sustentam abate contínuo e aproveitamento de subprodutos. Para o consumidor, a escala se traduz em oferta consistente de cortes resfriados e congelados, além de linhas processadas.
Ovos: sétimo no consumo, liderança em incubação no 1º semestre
A Pesquisa Trimestral de Produção de Ovos (POG), do IBGE, mostra que o Paraná foi o sétimo produtor nacional de ovos para consumo no primeiro semestre de 2025, com 102,102 milhões de dúzias. Esse segmento abastece diretamente o varejo e serviços de alimentação e reflete a demanda doméstica por proteína acessível. A posição, embora não esteja entre as três primeiras, guarda coerência com a organização geográfica da cadeia de postura comercial no país.
O desempenho muda de figura quando se trata de ovos para incubação. Entre janeiro e junho de 2025, o Paraná liderou a produção desse insumo para a avicultura de corte, com 129,177 milhões de dúzias, o equivalente a 30,8% do total nacional no período. O dado traduz a força do parque de matrizes e incubatórios locais, essenciais para o abastecimento de pintos de corte que alimentam o ciclo de abate nos frigoríficos do próprio Estado e de regiões vizinhas.
Suinocultura tem semestre recorde e amplia participação
A suinocultura paranaense registrou um primeiro semestre histórico em 2025. A produção atingiu 612,4 mil toneladas, crescimento de 9,3% frente ao mesmo período do ano anterior. Foram abatidos 6,4 milhões de animais, o maior número já apurado para um semestre no Estado. O resultado combina expansão de plantéis terminadores, ganhos de produtividade e melhor aproveitamento industrial, com comercialização de cortes in natura e itens processados.
Maio de 2025 se destacou como o mês de maior produção da série, com 107,6 mil toneladas e 1,11 milhão de suínos abatidos. Como historicamente o segundo semestre concentra volumes maiores, o setor trabalha com a possibilidade de um novo recorde anual. A disponibilidade de milho e farelo de soja, somada à capacidade dos frigoríficos, será determinante para o ritmo de abates até dezembro.
Floricultura amplia faturamento e diversifica oferta
A floricultura do Paraná alcançou VBP de R$ 271,7 milhões em 2024, alta de 1,8% frente a 2023. Gramados e plantas perenes ornamentais representam 73,6% do valor. Orquídeas e crisântemos respondem por 9,1% e 4,6%, respectivamente. O segmento abrange 31 espécies cultivadas e se distribui por polos como Curitiba, Maringá, Londrina, Toledo e Cascavel, com produtores presentes em mais de 100 municípios paranaenses.
A rede de atacadistas regionais e centrais de abastecimento sustenta a comercialização semanal, enquanto floriculturas, paisagismo residencial e manutenção de áreas verdes urbanas garantem fluxo de demanda. A combinação de variedades de ciclo curto e longo ajuda o produtor a equilibrar risco e receita ao longo do ano. O ticket médio por unidade e a previsibilidade de encomendas corporativas pesam na formação do faturamento do setor.
Uso do solo: expansão agrícola no longo prazo e ajustes recentes
As séries históricas do Deral indicam aumento da área agrícola de 4,36 milhões de hectares em 1985 para 6,69 milhões de hectares em 2024 no Paraná. No mesmo intervalo, a silvicultura passou de 353 mil hectares para 1,13 milhão de hectares. O avanço de lavouras e florestas plantadas ocorreu principalmente sobre antigas áreas de pastagens, reorganizando o mapa produtivo do Estado. Em 2024, houve redução do uso agrícola das terras, movimento que o boletim aponta como parte de uma tendência observada desde os anos 2000.
No recorte de ocupação territorial, o boletim cita que a fração de áreas não destinadas à agropecuária cresceu em 219 mil hectares nos últimos 26 anos, passando de 26% para 27% do território estadual. O dado sinaliza uma recomposição de usos e confirma que, mesmo com ajustes, a renda no campo aumentou no período, à medida que a produtividade e a agregação de valor em cadeias como aves, suínos e peixes compensaram as mudanças de área cultivada.
Piscicultura em números: dinâmica de custos, abates e mercado
O desempenho da piscicultura está ligado ao custo de ração, ao desempenho zootécnico e à capacidade de abate. Na tilápia, conversão alimentar eficiente e ganho de peso constante ajudam a reduzir o custo por quilo. O calendário de povoamento e despesca permite ajustar lotes à programação das plantas industriais, evitando acúmulo de estoque vivo nos viveiros. Em períodos de maior demanda, como feriados prolongados e festas de fim de ano, a indústria amplia a produção de cortes porcionados e produtos com maior valor agregado.
A padronização de tamanho — por exemplo, faixas de 700 g a 1,2 kg por peixe para filetagem — melhora o rendimento de carcaça e a produtividade da linha. Em paralelo, subprodutos como cabeça, carcaça e pele encontram destinação industrial, contribuindo para a receita total. O mercado interno segue como principal destino, mas a competitividade de cortes resfriados e congelados no varejo nacional é o fator que sustenta a escala ao longo do ano, com o food service absorvendo volumes relevantes em redes regionais e restaurantes.
Integração entre cadeias: peixe, frango, suínos e ovos
O boletim evidencia a interdependência das cadeias agroindustriais do Estado. A liderança em frango e ovos para incubação indica robustez em matrizes, nutrição e sanidade, fatores que também beneficiam a piscicultura por meio de logística, mão de obra qualificada e serviços compartilhados. No caso dos suínos, a escala industrial e a gestão de contratos com produtores integrados criam um ambiente familiar para estratégias semelhantes no peixe, especialmente na tilápia.
A presença de cooperativas e agroindústrias com atuação multissetorial facilita investimentos cruzados em fábricas de ração, transporte refrigerado e centros de distribuição. Essa estrutura ajuda a manter rotas eficientes que atendem simultaneamente abatedouros de aves, suínos e pescado. A profissionalização do campo e o uso de indicadores de desempenho — conversão, mortalidade, ganho médio diário — consolidam uma cultura de gestão que se dissemina entre as cadeias.
Serviço ao produtor: pontos de atenção para manter o ritmo
Para quem atua na piscicultura, a recomendação prática é alinhar cronograma de manejo com a programação de abate. O planejamento começa pelo povoamento equilibrado dos viveiros, com lotes homogêneos para reduzir variação de peso na despesca. Acompanhamento de qualidade da água, biometria quinzenal e ajustes de arraçoamento ajudam a antecipar ganho de peso e identificar desvios. No fechamento de contrato, o produtor deve observar datas de retirada, faixa de peso combinada e descontos aplicados, garantindo previsibilidade de receita.
Na relação com a indústria, a padronização de caixas, gelo e tempo de transporte preserva o rendimento até a chegada ao frigorífico. É importante manter registro simples de custos — ração, energia, alevinos e mão de obra — para avaliar margem por ciclo. Em momentos de custo de insumo mais alto, vale priorizar lotes com melhor conversão e evitar alongar ciclos desnecessariamente. A proximidade com assistência técnica da integração ou de cooperativas reduz riscos e acelera correções no manejo diário.
Manejo e processamento: como ganhar valor no peixe cultivado
O valor percebido na gôndola está ligado à apresentação do produto. Lotes destinados à filetagem pedem carcaças com proporção adequada de filé e espessura uniforme. A indústria busca calibres que otimizem o corte e reduzam perdas, e comunica essas preferências ao campo por meio de padrões de entrega. A rastreabilidade dos lotes é outro diferencial: quando o frigorífico identifica origem, data de abate e lote de ração, a gestão de qualidade fica mais ágil e transparente para toda a cadeia.
Na venda, cortes porcionados, pelados e congelados têm boa aceitação por simplificarem a preparação doméstica. Embalagens com instruções claras de conservação e preparo ajudam a reduzir dúvidas do consumidor e a fidelizar marcas. Já o aproveitamento de aparas para caldos, petiscos e outros itens contribui para a formação de preço competitivo sem abrir mão da margem. O objetivo é transformar cada quilo produzido em maior faturamento por meio de apresentação e conveniência.
Métricas do boletim: o que cada indicador mostra
O VBP mede o valor monetário gerado pela produção “da porteira para fora”, considerando preços e quantidades. No caso da piscicultura, o indicador captura a receita bruta do setor em 2024. Já os dados de frango e suínos do primeiro semestre de 2025 tratam de abates oficiais e volume de carne obtido, oferecendo uma fotografia de curto prazo do ritmo industrial. A POG traz recorte específico para ovos de consumo e para incubação, categorias distintas e com destinos diferentes na cadeia produtiva.
Ao ler os números, é importante separar ano-base e período de referência. Piscicultura e floricultura são apresentados em VBP de 2024. Abates de frango, produção de carne e ovos referem-se a janeiro a junho de 2025, enquanto a suinocultura também considera esse intervalo e destaca maio de 2025 como mês de maior produção da série. Essa distinção evita confusão entre séries anuais e recortes trimestrais ou semestrais, permitindo acompanhar tendência e curto prazo ao mesmo tempo.
Efeitos no varejo e no food service
A combinação de maior VBP na piscicultura e alta nos abates de frango e suínos tende a manter abastecimento fluido no varejo paranaense. O consumidor encontra variedade de cortes, desde filés de tilápia e frango resfriado até itens de suínos e linhas processadas. Para redes de restaurantes, estabilidade de oferta e padronização de peso por peça facilitam fichas técnicas e contratos de fornecimento. Em momentos de demanda mais forte, itens porcionados e embalagens menores ganham giro, principalmente em supermercados de bairro.
No litoral, a presença de camarão de captura adiciona diversidade à oferta e atende nichos específicos, com impacto sazonal em cardápios. Para o interior, o foco segue na tilápia e nos cortes de aves e suínos, com destaque para produtos prontos para preparo rápido em casa. A indústria acompanha a elasticidade de preços e ajusta mix conforme preferência regional, equilibrando linhas de maior valor agregado com opções de entrada.
Logística e custos: o papel das rotas curtas na rentabilidade
A concentração da tilápia no Oeste favorece rotas curtas entre viveiros e plantas de abate, diminuindo tempo de jejum pré-transporte e baixando perdas. O gelo adequado, aeração durante o deslocamento e janelas de coleta bem definidas preservam o rendimento até a filetagem. Essa eficiência logística também é vista na avicultura e na suinocultura, em que as granjas se organizaram no entorno dos frigoríficos, formando corredores de coleta diária e reduzindo custos fixos por viagem.
Em mercados competitivos, centavos por quilo fazem diferença na margem. Combustível, conservação da frota e planejamento de cargas influenciam o custo final do produto. A expansão de centros de distribuição próximos a rodovias e a sincronização com janelas de recebimento industrial evitam filas e retrabalho. Para o produtor, isso significa maior previsibilidade de retirada do lote e menor risco de alongar o ciclo além do peso-alvo.
Capacitação e assistência técnica: impacto direto no resultado do campo
A rotina do viveiro se beneficia de protocolos simples e regulares. A medição de oxigênio dissolvido, a checagem de transparência da água e o ajuste de arraçoamento por temperatura são práticas que estabilizam o ganho de peso e reduzem mortalidade. Em paralelismo com frango e suínos, a padronização de registros ajuda a equipe técnica a identificar gargalos e orientar mudanças pontuais de manejo, como densidade, renovação de água e uso de aeração mecânica nos períodos mais quentes.
Programas de capacitação continuada, muitas vezes oferecidos por cooperativas, integradoras e instituições de ensino, disseminam técnicas de baixo custo e alto impacto, como dimensionamento de viveiros, boas práticas de despesca e protocolos de transporte. A troca de experiências entre produtores de diferentes cadeias também acelera a adoção de soluções que já se provaram eficientes em aves e suínos, adaptadas ao contexto do peixe cultivado.
Sinais para os próximos meses: fatores que podem influenciar o ritmo
Até o fim de 2025, a disponibilidade e o preço de ração seguem como principais variáveis para a piscicultura, enquanto avicultura e suinocultura monitoram custos de milho e farelo de soja. Na demanda, datas sazonais e campanhas no varejo tendem a sustentar a saída de produtos porcionados e congelados. A capacidade dos frigoríficos e o fluxo de mão de obra nos abates serão observados para manter o calendário industrial em dia, especialmente em semanas de maior movimento.
No campo, a atenção recai sobre manejo de lotes que entram em fase final de engorda entre outubro e dezembro. A sincronização com a programação de abate e a manutenção da qualidade do peixe no transporte podem fazer diferença no rendimento industrial. No conjunto, os dados do boletim — com VBP da piscicultura em alta, liderança consolidada em frango e ganho de tração na suinocultura — indicam que o Paraná entra no último trimestre com oferta estruturada e espaço para capturar oportunidades de mercado.