Em setembro de 2025, o Porto do Açu, no norte do Rio de Janeiro, realizou a primeira exportação de uma carga originada de Mato Grosso: 25 mil toneladas de milho não transgênico embarcadas para a Europa a partir do Terminal Multicargas (T-Mult). O movimento inaugura um novo corredor de escoamento para produtores do leste mato-grossense e abre espaço para ampliar a competição entre rotas, prazos e janelas de atracação na ponta marítima. A operação exigiu segregação rigorosa do grão desde a origem até o porão do navio, com uso de armazéns dedicados e protocolos para evitar contato com produtos transgênicos.
Porto do Açu entra na logística do milho de Mato Grosso
A estreia do Açu no escoamento do milho vindo de Mato Grosso representa uma mudança prática para agricultores, tradings e transportadoras que atuam no leste do estado. Ao oferecer uma alternativa de embarque no litoral fluminense, o complexo passa a disputar cargas com os portos tradicionalmente usados para grãos. O primeiro lote, de 25 mil toneladas de milho não transgênico, foi consolidado no T-Mult e enviado para o mercado europeu, que demanda padronização específica e documentação detalhada de rastreabilidade.
Segundo a administração do terminal, a operação foi desenhada para manter as características do produto do recebimento até a expedição. O milho Non-GMO requer segregação completa em todas as etapas, o que inclui uso de armazéns exclusivos, limpeza criteriosa de equipamentos e checagens de qualidade. O Açu afirma que consegue oferecer tempos reduzidos de espera para atracação e atendimento ágil aos caminhões, condições que contribuem para a previsibilidade logística de cargas agrícolas.
T-Mult: capacidade atual e metas para 2025
O T-Mult já operou mais de 20 tipos de carga desde o início de suas atividades e, no primeiro semestre de 2025, movimentou 1,2 milhão de toneladas, um avanço de 45% em relação ao mesmo período do ano anterior. Na infraestrutura de armazenagem, o terminal conta hoje com dois armazéns cobertos em área alfandegada, com capacidade estática total de 60 mil toneladas, além de outros dois na retroárea com capacidade equivalente. Esse desenho permite a formação de lotes, a segregação por tipo de produto e a organização de embarques conforme as janelas de navio.
Ainda em 2025, a área de cais operacional do T-Mult passará a 500 metros, com calado de 13,1 metros, e um segundo berço permitirá operar, de forma simultânea, dois navios do tipo Panamax, com capacidade típica de até 75 mil toneladas por embarcação. Com as melhorias, a capacidade de movimentação anual deve alcançar 2,7 milhões de toneladas. A administração do porto projeta que, com a expansão da área de armazenagem, será possível duplicar essa capacidade ao longo dos próximos anos, mantendo o foco em operações de alto giro e em janelas alinhadas com a sazonalidade do agronegócio.
Como foi a primeira operação de milho não transgênico
A operação de setembro envolveu a consolidação do milho vindo do leste de Mato Grosso em armazéns dedicados, a conferência documental do lote e a preparação do navio para receber a carga. Em produtos não transgênicos, o controle começa na origem, com a separação do grão nas fazendas, passa pelas unidades de transbordo e segue nos terminais portuários com auditoria de processos. O objetivo é demonstrar que não houve contato com variedades geneticamente modificadas em nenhuma etapa do fluxo, mitigando o risco de contaminações cruzadas e garantindo a conformidade com os requisitos do comprador.
No cais, o T-Mult adotou rotas de circulação internas e pontos de descarga definidos para o lote, além de procedimentos de limpeza e inspeção dos equipamentos anteriores à operação. Esse conjunto de cuidados atende demandas contratuais e reduz o retrabalho. O resultado foi o embarque de 25 mil toneladas em uma janela única, com o navio deixando o terminal dentro do período planejado. A carga seguiu para a Europa, mercado que costuma exigir documentação detalhada de origem e rastreabilidade quando há cláusula de não transgenia nos contratos.
O que significa Non-GMO na prática logística
O termo Non-GMO indica que o produto é segregado de variedades geneticamente modificadas ao longo de toda a cadeia. Para além do plantio e da colheita, a logística precisa assegurar que equipamentos, armazenagem e transporte não gerem mistura física com outros grãos. Isso é feito por meio de controles operacionais e registros de cada etapa, além de amostragem e laudos conforme exigências contratuais. Em geral, os contratos definem tolerâncias máximas de presença adventícia e o conjunto de documentos aceitos para comprovar a condição requerida.
Na rotina do terminal, a segregação envolve dedicar armazéns, rotas internas e equipamentos a um determinado lote, programar limpezas específicas e padronizar os pontos de coleta de amostras. Dependendo do contrato, podem ser solicitados testes rápidos para triagem e análises laboratoriais para confirmação. A rastreabilidade também passa por notas fiscais, certificados de origem, relatórios de limpeza e checklists das equipes. A soma desses fatores é o que sustenta a entrega do produto conforme especificações de mercado que valorizam a separação por características.
Impacto para produtores do leste de Mato Grosso
Para os produtores localizados no leste de Mato Grosso, a nova alternativa de embarque no Porto do Açu pode influenciar custos, prazos e a gestão de risco. No planejamento de safra, cada rota logística é avaliada pelo conjunto de frete rodoviário, disponibilidade de janelas de navio, filas para atracação e tempo de permanência em pátios. Quando um novo corredor se consolida, ele tende a gerar competição entre terminais, o que, na prática, pode se traduzir em maior previsibilidade de atendimento e ajustes de preço ao longo da temporada de exportação.
Outro ponto é a compatibilidade entre as exigências do comprador e a capacidade dos terminais em cumprir protocolos de segregação. Operações Non-GMO exigem disciplina no campo, no transporte e no porto. Ao demonstrar que consegue embarcar lotes com essa especificação, o Açu sinaliza ao mercado que tem infraestrutura e processo para receber cargas com requisitos diferenciados. Para cooperativas e tradings, isso abre espaço para programar lotes dedicados e ajustar contratos a janelas mais curtas ao longo do calendário de embarques.
Detalhes técnicos: cais, calado e navios Panamax
A ampliação do cais operacional para 500 metros, prevista para 2025, associada ao calado de 13,1 metros, habilita o T-Mult a operar de forma simultânea dois navios Panamax. Essa classe de embarcação é uma referência para o transporte de granéis sólidos, com capacidade típica de até 75 mil toneladas. A possibilidade de atracação em dois berços reduz gargalos, permite janelas mais bem distribuídas ao longo da semana e melhora o sincronismo entre chegada de caminhões, formação de pilhas e ritmo de carregamento.
Além da estrutura de cais, a eficiência logística depende do desenho dos fluxos internos e da capacidade de armazenagem. A presença de armazéns alfandegados e de retroárea com espaço para formar lotes garante a flexibilidade para ajustar o ritmo de recebimento, especialmente em períodos de pico da safra. Em granéis agrícolas, a operação ganha quando há alinhamento entre a disponibilidade de berço, a condição do tempo, a produtividade dos equipamentos de embarque e a cadência de chegada das cargas terrestres. O objetivo é manter o navio pouco tempo no porto, com boa produtividade de porão e sem paradas por falta de carga pronta.
Fluxo do campo ao porto: passo a passo operacional
O escoamento de um lote de milho não transgênico exige coordenação entre fazendas, unidades de armazenagem, transportadores e o terminal. A base é o cronograma de colheita e a programação de janelas de navio. Quando há exigência de segregação, cada etapa recebe atenção adicional para evitar mistura com outros grãos. No porto, a operação se materializa em inspeções, amostragens e registros. O resultado é um dossiê que acompanha a carga e serve de referência para o comprador no destino, reduzindo dúvidas na inspeção de chegada.
Na prática, as equipes trabalham com checklists e sequência de atividades que envolvem documentação, limpeza de equipamentos e confirmação física das condições do lote. Definir quem aprova cada etapa — fornecedor, operador logístico, armazém e terminal — evita retrabalhos e eventuais recusas no embarque. A seguir, um roteiro típico de uma operação Non-GMO, considerando padrões usuais do setor:
- Planejamento de safra e contrato: definição de lotes Non-GMO, volumes, tolerâncias, janelas de embarque e documentação exigida.
- Segregação na origem: colheita separada, limpeza de colhedoras e caminhões de fazenda, identificação de silos dedicados.
- Transporte interno: carregamento em veículos limpos e lacrados, com registros de placa e horários para rastreabilidade.
- Recebimento no armazém: inspeção visual, amostragem, testes conforme contrato e emissão de laudos.
- Formação de lote no porto: designação de armazéns exclusivos, rotas internas definidas e limpeza prévia de equipamentos.
- Programação de navio: alinhamento do plano de carga por porão, taxa de embarque pactuada e janela de atracação.
- Carregamento: execução com controle de amostras, registros de produtividade e checagem contínua de contaminação cruzada.
- Fechamento documental: consolidação de certificados, relatórios e notas para acompanhar o navio.
Agilidade de atendimento e janelas de atracação
O tempo de espera para atracação é um dos fatores que mais pesam no custo final de uma operação de grãos. A administração do Porto do Açu destaca que consegue manter janelas com filas reduzidas e pranchas de embarque acima da média do mercado, o que é determinante para garantir a previsibilidade de saída dos navios. Em operações Non-GMO, essa previsibilidade ganha peso adicional, porque atrasos podem exigir novas amostragens ou provocar ajustes na documentação de embarque, elevando custos e tempo de operação.
No transporte rodoviário, a agilidade no pátio também influencia a satisfação dos fornecedores. O T-Mult indica que atua para atender os veículos de forma rápida, reduzindo filas em horários de pico e mantendo a rotação de docas. A combinação de cais disponível, produtividade de embarque e pátio organizado permite distribuir o fluxo de cargas de acordo com a chegada dos caminhões e com a ordem das janelas previstas para cada navio, minimizando tempos mortos ao longo da cadeia.
Comparativo com rotas tradicionais de escoamento
Historicamente, o milho de Mato Grosso alcança o exterior por diferentes caminhos, dependendo de origem, custos de frete e disponibilidade de janelas. Com a entrada do Açu nesse mapa, os embarcadores terão mais uma variável para considerar na composição de preços e prazos. Em anos de safra cheia, a possibilidade de redirecionar parte do volume para um novo porto ajuda a distribuir a demanda por cais e a reduzir o risco de concentração em poucas rotas, um problema que costuma se refletir em filas e custos adicionais de permanência de navios e caminhões.
No caso de cargas Non-GMO, a escolha do terminal leva em conta a capacidade de segregar armazéns, cumprir protocolos de limpeza e manter a cadência de embarque pactuada em contrato. Esse conjunto de fatores pode ser decisivo para fechar negócios com prazos curtos ou janelas restritas. Ao demonstrar que consegue cumprir essas etapas, o Açu se posiciona como alternativa para nichos específicos de demanda, ao mesmo tempo em que amplia a oferta de infraestrutura portuária para granéis agrícolas.
Mercado e demanda por milho não transgênico
A demanda por milho não transgênico no mercado internacional ocorre principalmente em nichos que adotam especificações comerciais próprias. Nesses contratos, a rastreabilidade e a tolerância à presença adventícia são determinantes. O diferencial de preço, quando existente, tende a refletir o custo da segregação, das análises e da gestão operacional de um fluxo exclusivo. Produtores e tradings avaliam se o prêmio compensa a organização adicional da cadeia, já que é necessário planejar do plantio ao embarque para manter o lote íntegro e conforme o solicitado pelo comprador.
A operação de setembro de 2025 no Porto do Açu serve como vitrine para esse tipo de produto. Ao consolidar um lote de 25 mil toneladas e despachá-lo em janela dedicada, o terminal mostra que pode atender cronogramas específicos e contratos que exigem documentação detalhada. Isso pode atrair novos embarques com exigências semelhantes, contribuindo para dar regularidade ao fluxo de cargas agrícolas com requisitos definidos desde a origem. Para o produtor, a previsibilidade de janela e a clareza de procedimentos são fatores que reduzem riscos e apoiam decisões de venda.
Eficiência de armazenagem e segregação dentro do porto
A presença de armazéns cobertos em área alfandegada e de estruturas na retroárea permite ao T-Mult compor diferentes lotes e ajustar o fluxo conforme a demanda de navios. Em operações Non-GMO, a capacidade estática e a possibilidade de separar fisicamente os grãos ganham protagonismo. Ao programar corredores internos, pontos de descarga e áreas de estocagem dedicadas, o terminal consegue reduzir o risco de mistura e manter a padronização exigida pelos contratos, sem comprometer a produtividade do cais durante a janela do navio.
Outro aspecto é a integração entre equipes de pátio, armazéns e operação de bordo. A comunicação padronizada e o uso de checklists ajudam a antecipar problemas e a organizar a sequência de carregamento por porão, reduzindo paradas e ajustes de última hora. Com mais de 20 tipos de carga já operados desde sua inauguração, o T-Mult se vale dessa experiência para desenhar fluxos sob medida, um diferencial quando o cliente precisa cumprir cláusulas específicas de qualidade e de separação do produto.
Projetos em andamento e próximos passos no complexo
Desde 2020, o Porto do Açu vem ampliando sua atuação com foco no agronegócio. O movimento começou com a instalação de um galpão para operação de fertilizantes e avançou com um armazém dedicado ao segmento, além do desenvolvimento de uma unidade misturadora. Entre os projetos previstos estão um novo terminal de grãos — que poderá ser integrado a uma unidade esmagadora — e a perspectiva de instalar uma planta de fertilizantes nitrogenados conectada ao fornecimento de gás natural. A expansão busca ampliar a gama de serviços disponíveis aos embarcadores e atrair cadeias produtivas complementares ao fluxo atual de cargas.
A longo prazo, o acesso ferroviário é apontado como um fator que pode elevar a competitividade das operações, sobretudo em produtos com vocação para esse modal, como grãos e fertilizantes. Uma ligação por trilhos tende a reduzir custos logísticos e a suavizar a sazonalidade das janelas rodoviárias. Enquanto o projeto ferroviário não se materializa, o terminal ajusta capacidade de cais e armazenagem para acolher volumes crescentes, inclusive em nichos com exigências técnicas como o milho não transgênico.
Quem opera o Porto do Açu e como o complexo se organiza
Localizado no litoral norte do Rio de Janeiro e em operação desde 2014, o Porto do Açu é administrado pela Porto do Açu Operações, fruto de parceria entre a Prumo Logística, controlada pelo EIG, e o Porto de Antuérpia-Bruges Internacional. O complexo é um porto-indústria privado de águas profundas, com áreas destinadas a diferentes cadeias e infraestruturas dedicadas a cargas variadas. Atualmente, 28 empresas estão instaladas no local, incluindo clientes e parceiros que utilizam as estruturas do complexo para operações de minério, petróleo, gás natural e, cada vez mais, produtos ligados ao agronegócio.
A gestão privada e a possibilidade de desenvolver soluções sob medida para clientes são vistas como diferenciais na atração de novos fluxos. A governança do complexo envolve contratos de longo prazo e serviços de apoio que abrangem desde pátio e armazenagem até o atendimento de navios. Ao anunciar a primeira exportação de milho não transgênico originado de Mato Grosso, a administração do porto passa a comunicar ao mercado que tem processos e infraestrutura compatíveis com as especificações exigidas por compradores internacionais desse tipo de produto.
O que observar nas próximas janelas de embarque
A partir da estreia de setembro de 2025, o desempenho das próximas janelas de embarque indicará se o novo corredor vai ganhar regularidade nas safras futuras. Itens como pontualidade de atracação, produtividade de porão, agilidade no pátio e nível de serviço na segregação de armazéns tendem a guiar as decisões das tradings na hora de programar cargas. Para os produtores, a percepção de previsibilidade e a clareza sobre como cumprir os protocolos Non-GMO são decisivas para aderir a contratos com exigências específicas e cronogramas rigorosos.
Também será relevante acompanhar a evolução da capacidade de armazenagem e a entrada do segundo berço no T-Mult até o fim do ano. O ganho de berço e o ajuste do calado permitem atender dois navios Panamax simultaneamente, reduzindo riscos de fila em períodos de pico. Com mais janelas e processos de segregação testados, o terminal tende a ganhar escala em operações agrícolas, oferecendo ao mercado mais uma rota de saída para a produção mato-grossense, inclusive para lotes com requisitos específicos como o milho não transgênico.