Valor de Mercado para Materiais Recicláveis Registra Declínio Significativo

Por que os trabalhadores da reciclagem estão sofrendo com a redução dos ganhos?

No último ano, os trabalhadores do ramo da reciclagem têm enfrentado uma queda significativa nos seus ganhos. Três empresas de Passo Fundo, associadas à prefeitura da cidade e especializadas na separação e destinação dos resíduos recicláveis, registraram uma redução de até R$1 no preço pago por quilo de resíduos.

A redução dos ganhos afetou principalmente os materiais como garrafas PET, latinhas e papelão. Em dezembro de 2022, o valor pago por um quilo de latinha era de R$5,20, mas atualmente não passa de R$5.

Os recicladores relatam que, para tentar alcançar os valores que recebiam no ano anterior, sua jornada de trabalho teve que ser ampliada. Antes, eles conseguiam faturar R$130 mil produzindo 100 toneladas, de acordo com a cooperativa Recibela (Recicladores do Parque Bela Vista). No mês de janeiro deste ano, a entidade vendeu 112,5 toneladas de material reciclado, com uma receita de R$114,6 mil. No entanto, em outubro, o volume de material reciclado atingiu 140 toneladas, mas a receita foi de apenas R$99 mil. Comparado ao primeiro mês de 2023, houve uma redução de R$31 mil.

Quais são os fatores responsáveis pela redução dos valores dos produtos para reciclagem?

Vinicius Luís Balbino, assessor do Projeto Transformação, que presta atendimento às cooperativas do município, explica que a queda nos preços se deve à maior competitividade do mercado. Isso resulta em um aumento na oferta de matéria-prima reciclada.

“Até poucos anos atrás, a reciclagem era quase que exclusiva da população mais pobre. Agora, temos uma mudança chave: os resíduos passaram a ter uma valorização econômica interessante e atrativa para as grandes empresas, que passaram a vender os resíduos gerados por elas”.

Balbino ainda destaca que “Antes nós tínhamos aqui em Passo Fundo só as cooperativas de reciclagem, hoje nós temos as cooperativas e empresas de fora da cidade que buscam o resíduo no município e revendem fora. Desse modo, nós lidamos com uma concorrência muito grande”.

Durante a pandemia, o valor de compra estava mais alto devido às restrições internacionais, o que levou as empresas brasileiras a recorrerem à matéria-prima reciclada dentro do país.

Quais foram os resultados no segundo semestre do ano?

Em outubro de 2022, houve uma queda nos preços devido à isenção dos impostos para a importação de matéria-prima industrial, o que também afetou os materiais recicláveis.

Como resultado, o Brasil bateu recorde em importações de plástico, vidro e papelão, fazendo com que as grandes empresas deixassem de comprar esses materiais no território brasileiro.

Segundo dados do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis, esse cenário causou um colapso no mercado e afetou a renda dos recicladores e das cooperativas.

Entretanto, mesmo após o fim da isenção dos impostos em agosto deste ano, o mercado não sofreu alterações significativas.

“Depois da pandemia, o país passou a importar resíduos de fora em vez de utilizar o que é produzido aqui, pelo fato de ser mais barato. Isso faz com que sejamos obrigados a baixar os preços para sermos competitivos”.

Quais são as soluções para aumentar a renda dos recicladores?

As cooperativas têm estudado maneiras de aumentar a quantidade de resíduos reciclados. Um exemplo é a Recibela, que também recicla óleo de cozinha, enquanto a Cootraempo desenvolve trabalhos paralelos, como a criação de objetos com artefatos encontrados no lixo. A cooperativa oferece oficinas de artesanato e entrega enfeites encomendados.

Um dos clientes do grupo é o Natal Tecnológico do Boqueirão Legal, que encomenda os objetos desde a primeira edição, há 15 anos. Em 2023, o grupo confeccionou mais de 200 sinos de natal.

Jaqueline Nunes Carmo, atuante do grupo e também trabalhadora na reciclagem cooperativa, destaca: “O que fazemos ali é algo gratificante, porque de certa forma estamos deixando a cidade mais bonita”.

Além dessa alternativa para gerar renda extra, as integrantes da oficina têm a oportunidade de vender os enfeites de forma autônoma, sendo frequentemente contratadas por outras empresas da cidade.