O aumento da disponibilidade local de politereftalato de etileno – conhecido como PET – ajudará o Brasil a alcançar índices mais elevados de utilização da resina. Embora a demanda nacional desse nobre poliéster alcance a invejável marca de 620 mil t/ano, o índice de consumo per capita é calculado em 2,91 kg/hab/ano, quase a metade do verificado na vizinha e alquebrada Argentina (5,94 kg), ou um terço do consumido pelos habitantes dos EUA (8,35 kg), e ainda inferior aos 4,4 kg do Chile.
“Há muito espaço para o PET avançar no mercado nacional e a entrada em operação de novas fábricas da resina impulsionará esse crescimento”, afirmou Auri Marçon, presidente da Associação Brasileira da Indústria do PET (Abipet), entidade que congrega toda a cadeia produtiva desse insumo, desde os fabricantes da resina, seus convertedores e recicladores, bem como os fornecedores de equipamentos e tecnologia, além de representantes de usuários, como a indústria de bebidas. O papel da entidade é apoiar o desenvolvimento dos vários segmentos de mercado que possam consumir a resina.
Marçon chama a atenção para o fato de as fábricas inauguradas recentemente no Brasil, de 2007 para cá, terem sido construídas com as tecnologias mais avançadas do mundo para a fabricação de PET. Além disso, possuem grande capacidade de produção, com escala mundial. Somadas essas características, o seu custo de produção é muito competitivo em termos globais.
Em Suape, Pernambuco, o grupo M&G, de origem italiana, opera desde 2007 uma unidade de produção de PET, que começou com 400 mil t/ano de capacidade, ampliada para 550 mil t/ano em 2011. Essa unidade conta com tecnologia de policondensação em estado sólido da própria companhia, que também opera unidade semelhante em Altamira, no México, alcançando capacidade total de cerca de um milhão de t/ano nas Américas.
Na mesma cidade pernambucana foi instalada a Petroquímica Suape (PQS), projeto integrado de produção de ácido tereftálico purificado (PTA), resina PET e fibras têxteis de poliéster. Trata-se de uma subsidiária integral da Petrobras, fruto de investimentos estimados em US$ 5 bilhões. A unidade de PTA conta com tecnologia fornecida pela Invista e tem capacidade nominal para 640 mil t/ano. Os filamentos têxteis têm tecnologia Lurgi e TMT, enquanto a produção da resina PET segue a linha da policondensação em estado sólido (SSP), porém licenciada pela Bühler e pela Lurgi.
Além das diferenças de tecnologia, cabe mencionar que a fábrica da M&G foi construída com um reator único, enquanto a da PQS contará com dois trens separados de polimerização, ambos com 225 t/ano. O primeiro deles deu partida em agosto do ano passado e o segundo deve iniciar a operação ainda em 2015. O PTA está sendo produzido desde agosto de 2013 e tem sido usado em parte para alimentar a fábrica da M&G, que também se abastece com PTA vindo de sua unidade mexicana.
Portanto, não será por falta de tecnologia nem de capacidade produtiva que a cadeia do PET perderá competitividade. “Falta resolver a questão dos tributos, ainda muito elevados, e o peso do custo Brasil”, comentou Auri Marçon. Segundo informou, a qualidade da resina nacional é elevada e atende perfeitamente os requisitos dos clientes mais exigentes, como a Coca-Cola e a AmBev, além de satisfazer os transformadores que elaboram as pré-formas das embalagens. A qualidade do PET nacional, tanto nas resinas como nos semiacabados, melhorou muito. “Até na reciclagem do material pós-consumo o avanço foi grande”, confirmou Marçon. Nesse ponto, ainda falta melhorar o sistema de coleta seletiva de lixo para ampliar o reprocessamento do material.
Usos qualificados – Fruto da reação entre o PTA e o monoetilenoglicol (MEG), o poliéster nasce amorfo. Nessa condição, apresenta baixa viscosidade e suas propriedades de resistência e transparência ainda ficam longe das desejadas. Para chegar ao ponto ideal, esse material ainda precisa passar por uma etapa de cristalização para revelar as características técnicas que lhe permitiram conquistar vários mercados.
“O PET foi desenvolvido incialmente como plástico de engenharia, pois sua transparência e resistência, mesmo em peças de paredes estreitas, ressaltando sua leveza, permitiram disputar aplicações com o policarbonato, um excelente material, porém caro”, afirmou Marçon. Como o PET é muito resistente à temperatura e aos esforços mecânicos, mesmo com paredes delgadas, ele foi adotado imediatamente pela indústria de bebidas e de alimentos como material de embalagem.