Setembro de ouro na carne bovina: recordes em receita e volume — efeitos nos preços e novos mercados, segundo Abrafrigo

Setembro de ouro na carne bovina: recordes em receita e volume — efeitos nos preços e novos mercados, segundo Abrafrigo

As exportações brasileiras de carne bovina registraram novos recordes em setembro de 2025. Segundo a Associação Brasileira de Frigoríficos (ABRAFRIGO), que compila dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex/MDIC), o setor faturou US$ 1,920 bilhão e embarcou 373.867 toneladas, somando carne in natura, industrializados, miudezas comestíveis, sebo e outros subprodutos. Em relação a setembro de 2024, a receita subiu 49% e o volume avançou 17%, mesmo diante do segundo mês de vigência das taxas adicionais impostas pelos Estados Unidos a produtos brasileiros.

No acumulado do ano até setembro, o desempenho também é histórico. As vendas externas do complexo da carne bovina somaram US$ 12,759 bilhões, alta de 35,84% sobre igual período do ano passado, com 2.349.077 toneladas embarcadas, crescimento de 18,7%. O avanço ocorreu com expansão da base de destinos: 130 países aumentaram suas compras enquanto 48 reduziram, indicando um mercado diversificado e com múltiplos vetores de demanda.

A China manteve a liderança e concentrou 47,2% das exportações no acumulado do ano, com US$ 6,021 bilhões e 1.135.786 toneladas. A União Europeia ganhou espaço e foi o segundo principal destino em setembro, com US$ 131,7 milhões e 15.322 toneladas, além de pagar, no mês, o maior preço médio pela carne in natura brasileira, de US$ 8.739 por tonelada. Os Estados Unidos seguiram como segundo maior comprador no acumulado de 2025, apesar da queda em setembro causada pelas sobretaxas.

Panorama de setembro: recordes e composição dos embarques

O resultado de setembro colocou o mês entre os pontos fora da curva da série histórica. A combinação de receita de US$ 1,920 bilhão e volume de 373.867 toneladas indicou não apenas maior apetite dos compradores, mas também melhora no preço médio na comparação anual. A variação positiva de 49% na receita, frente a um aumento de 17% no volume, sugere valorização do produto brasileiro e um mix de vendas com itens de maior valor agregado em participação maior do que no mesmo mês de 2024.

Embora a carne in natura siga como carro-chefe, os dados incluem também industrializados, miudezas comestíveis e sebo. Esse conjunto ajuda a formar uma cesta de exportação mais resiliente, pois atende restrições sanitárias e preferências de consumo distintas em cada destino. Em meses de maior pressão tarifária em um mercado específico, como ocorreu com os Estados Unidos, a presença de canais alternativos e de produtos complementares tende a reduzir a volatilidade do faturamento total.

Em termos de dinâmica mensal, o desempenho de setembro confirma a leitura de um terceiro trimestre aquecido. A China seguiu atuante e a União Europeia ampliou a participação no mês, enquanto o recuo para os Estados Unidos, concentrado em carne in natura e industrializados, foi parcialmente compensado por outros mercados do Hemisfério Norte e da América Latina. A diversificação geográfica foi determinante para a manutenção do ritmo de embarques e para o resultado recorde de receita.

Efeito das sobretaxas dos Estados Unidos

Setembro foi o segundo mês de vigência das taxas adicionais aplicadas pelos Estados Unidos a itens brasileiros. Nesse ambiente, as vendas de carne bovina in natura para o mercado norte-americano caíram 58% em relação a setembro do ano anterior, para US$ 42,2 milhões. Os embarques de carne bovina industrializada recuaram 20%, somando US$ 30 milhões. Já as vendas de sebo e gorduras bovinas diminuíram 7%, para US$ 30,5 milhões. Em conjunto, o total exportado ao país atingiu US$ 102,9 milhões, queda de 41% frente a setembro de 2024.

Mesmo com o recuo mensal, os Estados Unidos permaneceram como segundo maior destino no acumulado do ano. Entre janeiro e setembro de 2025, o país comprou US$ 1,708 bilhão, alta de 55,1% na comparação anual, com volume de 593.118 toneladas, avanço de 50,7%. Essa trajetória evidencia que, no agregado dos nove meses, a demanda se manteve sólida, e que a retração de setembro decorre de um choque regulatório recente, ainda em processo de reprecificação ao longo das cadeias de suprimento e contratos.

A resposta do setor foi redirecionar cargas para mercados com menor barreira no curto prazo, priorizando rotas em que a carne brasileira já conta com habilitações sanitárias e canais logísticos estabelecidos. O ajuste do mix, com maior peso de destinos asiáticos e europeus no mês, ajudou a preservar o nível de receita. O desempenho reforça a importância de portfólio de clientes diversificado e de flexibilidade operacional nas plantas exportadoras para atravessar períodos de maior custo tarifário em mercados específicos.

China segue líder e define o ritmo das compras

A China concentrou 47,2% das exportações do setor até setembro. Em valores, foram US$ 6,021 bilhões, alta de 46,2% sobre 2024, com 1.135.786 toneladas embarcadas, avanço de 21,8%. O país asiático manteve o papel de âncora da demanda por carne bovina brasileira em 2025, com compras consistentes de carne in natura e de cortes que atendem o padrão de consumo local. Considerando apenas a carne in natura, a participação chinesa alcançou 53% no acumulado, sinal do apetite por proteína com menor processamento.

A robustez do fluxo para a China ajudou a equilibrar a balança quando outros mercados desaceleraram. Em meses de ajuste de preço internacional, o volume demandado pelos importadores chineses costuma dar sustentação às cotações pagas ao exportador brasileiro, reduzindo a amplitude das oscilações de receita. Para as plantas habilitadas, a previsibilidade das janelas de compra e o escalonamento de pedidos oferecem condições favoráveis para planejamento de abate e composição de carga.

Outro elemento relevante é o mix de cortes. A demanda chinesa contempla tanto dianteiro quanto traseiro, com especificações que permitem aproveitamento integral do animal para exportação. Esse perfil ajuda a elevar a rentabilidade média do embarque quando combinado a destinos que remuneram melhor cortes premium, como a União Europeia. A complementaridade entre mercados amplia a eficiência comercial dos frigoríficos, ainda que exija coordenação fina entre compras, desossa e logística internacional.

União Europeia ganha espaço e paga mais por tonelada

A União Europeia foi o segundo maior destino dos embarques de carnes e derivados em setembro de 2025, com US$ 131,7 milhões, alta de 106% sobre setembro de 2024, e 15.322 toneladas, avanço de 83%. Além de ampliar as compras no mês, o bloco pagou o maior preço médio pela carne bovina in natura brasileira, de US$ 8.739 por tonelada. Esse diferencial de preço reflete exigências de qualidade, rastreabilidade e cortes de maior valor por parte de países como Itália, Países Baixos e Espanha.

No acumulado de janeiro a setembro, as exportações para a União Europeia somaram US$ 676 milhões, crescimento de 63,5%, com 83.679 toneladas, alta de 44,4%. O desempenho coloca o bloco como o terceiro maior comprador no ano. Para a indústria, a abertura de pedidos europeus em setembro sinaliza uma janela comercial importante no segundo semestre, quando redes de varejo e foodservice reforçam estoques para datas de maior consumo. O valor médio por tonelada tende a sustentar a receita, mesmo quando o volume não é o maior entre os destinos.

Para atender ao mercado europeu, os frigoríficos intensificam o foco em especificações de corte e em padrões de entrega. As cargas demandam acondicionamento e prazos ajustados às rotas transatlânticas. A previsibilidade de recebimento e a mitigação de custos logísticos, como armazenagem e frete marítimo, são peças-chave para preservar o diferencial de preço. O reforço de compras do bloco ao longo do terceiro trimestre contribuiu de forma direta para o recorde de receita de setembro.

Outros destinos em destaque: EUA, México, Chile e Rússia

Apesar da queda mensal nas vendas para os Estados Unidos, o país se manteve como segundo maior importador no acumulado de 2025, com US$ 1,708 bilhão e 593.118 toneladas, altas de 55,1% e 50,7%, respectivamente. O histórico positivo ao longo do ano atenua o impacto da retração de setembro e mostra que há espaço para recomposição parcial, a depender de ajustes tarifários, renegociações comerciais e calendário de compras dos importadores norte-americanos no quarto trimestre.

O México foi um dos destaques, com crescimento vigoroso no ano: 94.266 toneladas, alta de 195%, e US$ 513,31 milhões em receita, avanço de 251% entre janeiro e setembro. O país ampliou a demanda por carne brasileira, atraído por preços competitivos e disponibilidade de cortes para indústria e varejo. O ritmo de compras já o coloca como destino estratégico na América do Norte, reduzindo a dependência de um único mercado quando há pressões regulatórias na região.

O Chile ocupou a quarta posição no acumulado, com 90.910 toneladas, alta de 17,5%, e US$ 497 milhões, avanço de 37%. A proximidade geográfica e as rotas consolidadas via Pacífico facilitam o giro de estoques e a reposição rápida das redes de supermercados e de foodservice chilenos. A preferência por cortes com melhor custo-benefício e o dinamismo do varejo local sustentaram as compras ao longo de 2025, contribuindo para o desempenho agregado do setor no Brasil.

A Rússia foi o quinto maior cliente no acumulado do ano, com 85.082 toneladas e US$ 364,93 milhões, altas de 31% e 59%. A demanda do país se mostrou consistente, com pedidos que alternam lotes de carne in natura e produtos industrializados. Em um cenário de realocações comerciais globais, o mercado russo funciona como uma alternativa para absorção de volumes quando há restrições pontuais em outros destinos, ajudando a manter a regularidade dos embarques brasileiros.

Preços, mix de produtos e valor agregado por tonelada

O salto de 49% na receita em setembro, contra 17% no volume, indica ganho de preço médio e um mix mais favorável. A referência de US$ 8.739 por tonelada de carne in natura paga pela União Europeia no mês evidencia o papel de destinos que remuneram cortes premium e exigem padrões rigorosos. Esse diferencial convive com mercados de grande volume, como a China, cujo apetite por dianteiro e por carnes com menor processamento gera escala e ajuda a dar vazão constante à produção.

A composição entre carne in natura, industrializados, miudezas e sebo também contribui para o resultado. Produtos industrializados, embora menores em volume, frequentemente apresentam maior valor por tonelada, ao passo que miudezas e gorduras têm demanda específica em cada mercado. Em setembro, a queda de industrializados para os Estados Unidos foi compensada por outros destinos e por maior peso de mercados com maior preço médio, limitando a perda de receita na comparação mensal com aquele país.

No front operacional, frigoríficos ajustam o mix com base em janelas de compra e prazos de entrega. Quando há oportunidade de preço na Europa, a desossa direciona cortes que atendem especificações daquele mercado, enquanto o restante da carcaça é destinado a destinos asiáticos e latino-americanos. Essa dinâmica de alocação, mais eficiente, tende a elevar o valor médio por animal exportado e a reduzir o risco de concentração em um único comprador.

Metodologia dos dados e leitura dos indicadores

Os números reportados são da ABRAFRIGO, com base nas estatísticas da Secex, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). As informações contemplam os registros oficiais de exportação e incluem carne in natura e industrializada, miudezas comestíveis e sebo, além de outros subprodutos. Essa metodologia permite comparar mês contra mês e o acumulado do ano, oferecendo visibilidade sobre receita em dólares e volumes totais embarcados em toneladas.

Para interpretar a evolução, é relevante observar simultaneamente receita e volume. Quando a receita cresce mais que o volume, como ocorreu em setembro, há indício de melhora de preços, de mudança no mix para itens de maior valor ou de ambos. Já aumentos proporcionais sugerem estabilidade do preço médio, enquanto variações em direções opostas apontam para efeitos específicos, como descontos para girar estoques, alterações cambiais refletidas em decisões de compra ou ajustes logísticos e tarifários em destinos relevantes.

Outro ponto de atenção é a sazonalidade dos embarques. O segundo semestre costuma concentrar pedidos adicionais de alguns mercados, por conta de datas de maior consumo e da necessidade de recomposição de estoques. Desvios em relação a esse padrão podem estar associados a eventos regulatórios, como as taxas adicionais aplicadas pelos Estados Unidos em 2025, ou a mudanças no comportamento de compra de grandes importadores, como a União Europeia e a China, o que afeta o desenho mensal das exportações.

Logística, janelas de embarque e operação dos frigoríficos

O desempenho de setembro também reflete engrenagem logística ajustada ao pico de demanda. Embarques para a Europa requerem planejamento de contêineres refrigerados, consolidação de cargas e coordenação com armadores para evitar gargalos. Para a Ásia, a janela de trânsito é mais longa e exige controle rigoroso de prazos para garantir a qualidade na chegada. Em ambos os casos, previsibilidade de rota e eficiência portuária pesam na formação do preço final ao importador e na margem do exportador.

O redesenho do destino das cargas diante de tarifas extras em um mercado específico, como os Estados Unidos, demanda flexibilidade na formação dos lotes e no atendimento dos requisitos documentais. Plantas com múltiplas habilitações sanitárias e com histórico de fornecimento a diferentes regiões conseguem redirecionar volumes com menor perda de tempo. Esse atributo foi decisivo para que o setor preservasse a receita total em setembro, mesmo com recuos pontuais em categorias específicas para o mercado norte-americano.

Frete marítimo, disponibilidade de contêineres e custos de armazenagem seguem variáveis relevantes para o resultado mensal. Em momentos de demanda aquecida, a competição por espaço nos navios aumenta e pode encarecer o transporte. A gestão integrada entre compras de gado, programação de abate, desossa e logística ajuda a reduzir perdas e a capturar oportunidades de preço em mercados que remuneram melhor determinados cortes, como observado nas vendas para a União Europeia em setembro.

Números por produto: in natura, industrializados, miudezas e sebo

A leitura por categoria mostra movimentos distintos. A carne bovina in natura seguiu como destaque, especialmente pela demanda chinesa e europeia. Industrializados serviram de válvula de equilíbrio para alguns destinos da América do Norte e da América Latina. Miudezas comestíveis e sebo conservaram espaço relevante em países com indústria transformadora ativa, onde há uso intensivo desses insumos. Esse arranjo elevou o aproveitamento do animal e contribuiu para a estabilidade do faturamento mesmo em um mês com barreiras adicionais em parte das vendas para os Estados Unidos.

Em setembro, as vendas para os Estados Unidos recuaram em três frentes: in natura (-58%), industrializados (-20%) e sebo/gorduras (-7%), somando US$ 102,9 milhões. O efeito foi parcialmente compensado por maiores volumes e melhores preços obtidos em mercados europeus e asiáticos. A capacidade de compor cargas com diferentes categorias, conforme a especificação de cada cliente, manteve o ritmo de embarques próximos ao topo da série, garantindo o recorde de receita do mês e contribuindo para o saldo do ano.

No planejamento para os meses seguintes, a tendência é de manutenção dessa estratégia de diversificação por produto, com ajustes táticos a depender da janela de compras de cada destino. O equilíbrio entre cortes de maior valor e itens de giro constante, como dianteiro e miudezas, segue como fator central para preservar margens e assegurar a regularidade dos fluxos logísticos, principalmente em rotas longas.

Participação de mercados e concentração do faturamento

A concentração das vendas nos principais compradores permanece elevada, mas com sinal de ampliação da base. A China lidera o ranking no acumulado, enquanto os Estados Unidos ocupam a segunda posição e a União Europeia figura como terceiro maior comprador em 2025. México, Chile e Rússia compõem o grupo de destinos com avanço expressivo. No total, 130 países aumentaram as compras e 48 reduziram, quadro que reduz o risco de um choque isolado derrubar a receita total em um determinado mês.

Na prática, a participação de 47,2% da China no acumulado e de 53% nas compras de carne in natura até setembro expressa a relevância do mercado asiático para a indústria brasileira. Ao mesmo tempo, a elevação da presença europeia em setembro e a expansão mexicana no ano reforçam a tese de que a estratégia multimercado está em curso. O resultado é uma distribuição mais equilibrada entre volume e preço médio, o que ajuda a sustentar a receita em cenários de maior competição internacional.

Para os próximos embarques, players monitoram prazos de homologação de plantas, ritmo de emissão de certificados, disponibilidade de navios e eventuais revisões tarifárias. A manutenção de canais ativos com países que ganharam relevância em 2025, como o México, e a consolidação do patamar de compras da União Europeia serão fatores observados de perto por frigoríficos e tradings ao longo do quarto trimestre.

Fatores de atenção no curto prazo

O mercado acompanha o desdobramento das taxas adicionais nos Estados Unidos, a cadência de compras chinesas e o apetite europeu por cortes premium no fim do ano. A recomposição de estoques em redes de varejo e de alimentação fora do lar em diversos destinos pode gerar picos pontuais de demanda. Ao mesmo tempo, a concorrência de outros exportadores permanece no radar, exigindo agilidade na negociação de preços e no atendimento a especificações de qualidade e prazos de entrega.

No Brasil, a coordenação entre disponibilidade de gado, escalas de abate e programação de contêineres segue determinante para sustentar volumes elevados de exportação. Em 2025, a indústria mostrou capacidade de ajuste rápido de rotas e de mix, o que ajudou a neutralizar efeitos adversos de natureza tarifária em um destino relevante. A continuidade desse padrão operacional, combinada à diversificação de mercados, será decisiva para manter a receita em patamares elevados no encerramento do ano.

Com recordes em setembro e marcas históricas no acumulado até o mês, o setor chega ao último trimestre de 2025 com bases sólidas. A demanda de grandes compradores permanece ativa, e a presença de novos destinos em ascensão, como o México, amplia alternativas comerciais. O foco recai agora sobre a manutenção do preço médio, a fluidez logística e a evolução das condições regulatórias em mercados-chave, fatores que tendem a definir o fôlego dos próximos embarques.



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