O Futuro da Indústria: A Tendência da Bioeconomia

O Futuro da Indústria: A Tendência da Bioeconomia



ARTIGO POR LUIS ADOLFO BECKSTEIN, MESTRE EM ECONOMIA E CONSULTOR DE INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS

A Importância da Bioeconomia Circular para o Desenvolvimento Sustentável

A bioeconomia circular é um conceito que está cada vez mais presente nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas e nas estratégias para alcançar uma matriz energética mais verde. No entanto, é preciso destacar que a bioeconomia e a economia circular não são a mesma coisa.

Segundo a Comissão Europeia, a bioeconomia engloba a produção de recursos biológicos renováveis, assim como a conversão de recursos e resíduos em produtos de valor agregado de base biológica e bioenergética. Por outro lado, a economia circular é definida como o espaço econômico onde o valor dos produtos, materiais e recursos é mantido na economia pelo maior tempo possível, com a minimização da geração de resíduos. Portanto, a bioeconomia circular é a área em que esses dois campos se intersectam.

É importante ressaltar que a bioeconomia circular só alcançará todo o seu potencial com políticas adequadas para superar os desafios decorrentes de seu estágio inicial de desenvolvimento. Mais de 50 nações, incluindo a União Europeia, Estados Unidos, China, Índia e África do Sul, chegaram a um consenso para lançar estratégias sustentáveis. Essas estratégias são impulsionadas pela bioeconomia, que é impulsionada por pesquisas inovadoras em ciências da vida e biotecnologia.

De acordo com estimativas atuais, serão necessários até US$2 trilhões de investimentos globais anuais nas próximas três décadas para agricultura, produtos químicos verdes, biocombustíveis, bioenergia e serviços biotecnológicos.

A Importância da Bioeconomia nas Indústrias do Petróleo e Química

No Brasil, a indústria de petróleo representa cerca de 10% do PIB e a indústria química cerca de 3%, de acordo com o Ipea e a Abiquim, respectivamente. Um estudo recente da ABBI (Associação Brasileira de Bioinovação) concluiu que a implementação total da bioeconomia no país pode gerar uma receita adicional de até US$284 bilhões por ano.

Diante desse cenário, o Brasil tem espaço para desenvolver políticas de transição para a indústria química com foco na bioeconomia circular. É necessário racionalizar e canalizar os recursos do petróleo para impulsionar as vantagens comparativas dinâmicas, permitindo que a indústria nacional seja competitiva e supere as barreiras de países desenvolvidos no futuro.

De acordo com a Agência Internacional de Energia, a indústria química foi o único setor em que o uso de petróleo aumentou em 2020, representando cerca de 15% da demanda global por petróleo. O uso de materiais leves, como plásticos, é um importante caminho para melhorar a eficiência energética de veículos, edifícios e construções. Atualmente, cerca de 15% do peso de um automóvel é composto por plásticos, mas esse percentual pode chegar a 40% em menos de 10 anos.

Os plásticos desempenham um papel fundamental na eficiência energética, mas é essencial lidar adequadamente com seu descarte inadequado. O estudo da OCDE, “Perspectivas Globais sobre Plásticos: Cenários de Política até 2060”, fornece possíveis soluções para os plásticos de uso único. A circularidade na bioeconomia é fundamental para resolver os problemas de descarte de resíduos, sejam eles fósseis ou bioplásticos.

Existem dois tipos de bioplásticos: os drop-in e os biodegradáveis. Os bioplásticos drop-in são materiais não biodegradáveis, idênticos aos seus equivalentes fósseis, mas obtidos a partir de matérias-primas renováveis. Já os plásticos biodegradáveis são produtos cujo processo de degradação depende de condições ambientais específicas.

Para promover uma bioeconomia sustentável, é necessário adotar os conceitos de redução, reuso, reciclagem e recuperação, conforme definido pela Fundação Ellen MacArthur. A reciclagem e a degradação sustentável são essenciais para alcançar uma economia circular eficaz. É importante ressaltar que a reciclagem de plásticos drop-in e a decomposição de plásticos biodegradáveis são soluções complementares, não concorrentes.

Enfrentamos desafios distintos quando se trata de plásticos, desde o uso em painéis de carros, que são utilizados por longos períodos, até os plásticos de uso único. As soluções para esses desafios variam, sendo que a reciclagem muitas vezes é cara e energicamente intensiva, enquanto a biodegradabilidade depende de condições extremamente específicas.

O Brasil possui décadas de experiência em bioeconomia, desde os tempos do Proálcool nos anos 1970. No entanto, uma bioeconomia sustentável vai além de simplesmente substituir recursos fósseis por recursos biológicos. É necessário adotar insumos de baixo carbono, cadeias de suprimentos sustentáveis e tecnologias de conversão disruptivas. Isso requer financiamento adequado e anos de pesquisa e desenvolvimento.

Portanto, para estabelecer uma “economia” baseada em recursos renováveis, é crucial criar modelos de negócios que possam fornecer produtos com escalabilidade e custos competitivos em relação aos produtos não biológicos. Caso contrário, não estaremos criando uma “economia”, mas sim nichos de mercado onde apenas os consumidores de alta renda estarão dispostos a pagar prêmios por produtos diferenciados.

Enquanto países desenvolvidos têm promovido legislações para impulsionar suas indústrias e restringir a liberdade das indústrias de países em desenvolvimento, o governo chinês anunciou o 14º Plano Quinquenal para o Desenvolvimento da Bioeconomia. Esse plano estabelece metas e ações para o desenvolvimento da bioeconomia nos setores de energia, química, agricultura e medicina.

O Brasil possui recursos únicos, mas para alcançar seu potencial máximo, é necessário criar um plano que coordene os esforços de agentes públicos e privados, possibilitando os investimentos necessários para enfrentar esse desafio. Somente assim será possível criar uma “nova economia” que integre a indústria química, a bioeconomia e a circularidade.

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