A Influência da Troca do Plástico

A Influência da Troca do Plástico

Artigo por Yuri Tomina Carvalho, líder do Cazoolo, lab de design de embalagens circulares da Braskem

Até que o tratado global do plástico fique pronto, no fim deste ano, as discussões em torno da utilização do material serão cada vez mais acaloradas. Isso porque a preocupação sobre o lixo plástico e o volume crescente do produto nos oceanos deve ser um ponto prioritário na agenda da indústria, das universidades, do poder público e da sociedade.

Entretanto, reduzir a discussão à simples exclusão do plástico ou sua substituição por outro material não se mostra como a solução mais interessante para o futuro do planeta. Afinal, além dos benefícios do plástico em diversas aplicações e segmentos, deve-se analisar e ponderar uma série de impactos ambientais na produção, distribuição e uso de materiais alternativos.

Nesse sentido, um estudo divulgado recentemente pela Universidade de Sheffield aponta que a substituição do plástico aumentaria a emissão dos gases de efeito estufa.

O trabalho acadêmico teve foco unicamente na liberação de carbono para a atmosfera, sendo analisados plásticos e seus substitutos em diversas aplicações. Desse modo, inclui áreas de embalagens, bens de consumo duráveis, construções, setor automotivo e têxtil.

O resultado do estudo mostra que, em 15 das 16 aplicações avaliadas, o uso do plástico implica em emissões menores durante o ciclo de vida do produto. Assim, a economia de emissão chega até a 90%.

Com isso, fatores como a menor intensidade energética durante a produção e a eficiência de peso do material contribuíram para a redução da pegada ambiental. Isso acontece, sobretudo em comparação com alternativas como vidro, papel ou metal.

Vantagens dos plásticos na redução de emissões

Além disso, os plásticos demonstraram melhores resultados nos processos de fase inicial (upstream), incluindo produção e transporte, em 10 das 16 aplicações. E essa vantagem decorreu da menor intensidade energética e do menor peso dos plásticos, o que destaca a eficiência na mitigação das emissões.

Ainda, os resultados da pesquisa sugerem que a otimização do uso do plástico, ao estender a vida útil dos produtos, aumenta as taxas de reciclagem e melhora os sistemas de coleta de resíduos.

Bem como oferece estratégias mais eficazes para reduzir as emissões associadas. Vale lembrar que as embalagens plásticas desempenham um papel crucial na preservação da qualidade dos alimentos em uma ampla gama de categorias. O que ajuda a prevenir a deterioração e as emissões de GEE (Gás de Efeito Estufa) geradas.

Desse modo, o plástico consegue prolongar a vida dos alimentos em relação à segurança na hora do consumo. Assim, sem afetar o sabor e o valor nutricional do produto.

Assim, reduzindo desperdício de comida e, ao mesmo tempo, o uso de conservantes químicos. Um benefício que acaba não sendo medido quando se compara a outros materiais. E o impacto ambiental dos alimentos que consumimos diariamente – carne de gado, cacau e café, por exemplo – são altos, uma vez que envolve várias etapas de manejo e transporte.

Por isso, a embalagem sustentável se configura como aquela previamente ponderada e avaliada que ofereça a proteção adequada ao produto ao menor custo de impacto ambiental desde o início de sua produção ao fim do ciclo de vida. Essa análise se mostra muito importante para os produtos chegarem aos consumidores com segurança e com o menor uso de recursos naturais.

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Alternativas ao plástico: Mitos e realidades

Quando pensamos em substituir o plástico por outros materiais, muitas vezes imaginamos que qualquer alternativa seria automaticamente mais sustentável. Mas será que isso é verdade? O vidro, por exemplo, é frequentemente visto como uma opção mais ecológica. No entanto, o processo de produção do vidro demanda uma quantidade substancial de energia, o que pode resultar em emissões de gases de efeito estufa ainda maiores.

No caso do papel, a situação também é complexa. Embora seja biodegradável, a produção de papel envolve o corte de árvores e o uso intensivo de água e energia. Além do mais, o papel geralmente necessita de recobrimentos plásticos ou químicos para ser impermeável, o que adiciona ainda mais camadas de impacto ambiental.

Os desafios da reciclagem de plásticos

Um dos maiores desafios na abordagem da questão do plástico é o processo de reciclagem. Embora o plástico seja, teoricamente, reciclável, as taxas reais de reciclagem são preocupantemente baixas em muitas partes do mundo. Isso se deve a uma série de fatores, incluindo a falta de infraestrutura adequada, a contaminação de materiais e a complexidade dos processos de separação.

Mas não é só isso. Diferentes tipos de plásticos têm diferentes métodos de reciclagem, o que complica ainda mais a situação. Plásticos de baixa qualidade geralmente são enviados para aterros sanitários, enquanto plásticos de alta qualidade podem ser reciclados, mas esses processos ainda são caros e muitas vezes não são economicamente viáveis.

Iniciativas de reciclagem inovadoras

Felizmente, algumas iniciativas estão surgindo com o objetivo de superar essas barreiras. Empresas e startups ao redor do mundo estão desenvolvendo novas tecnologias para melhorar a eficiência da reciclagem de plásticos. Uma das inovações mais promissoras é a reciclagem química, que quebra os plásticos em seus componentes básicos, permitindo que sejam reutilizados para fabricar novos produtos com praticamente a mesma qualidade.

Outra solução potencial é a implementação de sistemas de reciclagem de laço fechado (closed-loop). Nesse modelo, os plásticos são coletados, processados e utilizados novamente para fazer os mesmos produtos, fechando assim o ciclo de vida do material. Esse modelo não só reduz a demanda por novos plásticos, como também minimiza a quantidade de lixo plástico.

Impacto social da substituição do plástico

Além dos impactos ambientais, a substituição do plástico possui ramificações socioeconômicas que raramente são discutidas. Milhões de pessoas em todo o mundo dependem da indústria do plástico para seu sustento. Desde trabalhadores em fábricas de produção até catadores de materiais recicláveis, a total eliminação do plástico pode resultar em grandes perdas de emprego.

Além disso, as alternativas ao plástico muitas vezes são mais caras, o que pode colocar uma carga adicional sobre os consumidores, especialmente em países em desenvolvimento. Nesse sentido, substituir o plástico por outro material não é apenas uma questão de impacto ambiental, mas também de justiça social e econômica.

A educação como ferramenta de transformação

Uma das estratégias mais eficazes para abordar o impacto social da substituição do plástico é a educação. Programas educativos que ensinam as pessoas sobre a importância da reciclagem e da gestão adequada de resíduos podem ter um impacto significativo. Além disso, educar a população sobre as complexidades das alternativas ao plástico pode ajudar a criar um entendimento mais equilibrado e fundamentado.

Organizações governamentais e não-governamentais podem desempenhar um papel crucial nesse aspecto, promovendo campanhas de conscientização e oferecendo treinamento para profissionais do setor. Informar a sociedade sobre as verdadeiras implicações da substituição do plástico pode facilitar a transição para práticas mais sustentáveis, ao mesmo tempo em que minimiza os impactos sociais adversos.

A inovação contínua: O futuro dos materiais sustentáveis

O futuro dos materiais sustentáveis não se limita a simplesmente encontrar substitutos para o plástico. A inovação contínua é chave para desenvolver novas soluções que são tanto ambientalmente responsáveis quanto economicamente viáveis. Pesquisadores estão constantemente explorando bioplásticos, que são feitos de materiais orgânicos e podem oferecer uma alternativa renovável aos plásticos convencionais.

Outras áreas de inovação incluem a nanotecnologia, que tem o potencial de criar materiais compostos mais leves e fortes que poderiam substituir não só plásticos, mas também outros materiais tradicionais como metais e vidro. Esse tipo de desenvolvimento pode não apenas reduzir o impacto ambiental, mas também trazer melhorias em termos de eficiência de energia e segurança.

Conclusão: Uma abordagem equilibrada e informada

A discussão sobre a substituição do plástico é complexa e multifacetada. Não é uma questão de simplesmente banir o plástico, mas de entender melhor suas funções e identificar formas mais sustentáveis e eficientes de utilizá-lo e, quando possível, substituí-lo.

Por isso, uma abordagem equilibrada e informada é crucial. Analisar o ciclo de vida dos materiais, considerar os impactos sociais e ambientais e investir em inovação são passos fundamentais para enfrentar os desafios ambientais de nosso tempo. Assim, podemos trabalhar juntos para um futuro mais sustentável, onde o plástico e suas alternativas são usados de maneiras que minimizem seu impacto negativo e maximizem seus benefícios.