O Cenário Econômico Brasileiro em 2024: Um Primeiro Olhar
Os primeiros meses de 2024 trouxeram boas novas para a economia brasileira, que surpreendeu ao exibir um dinamismo maior do que o antecipado por analistas. O Brasil ingressou em um ano promissor, com a indústria de transformação colhendo os frutos de uma nova política industrial pautada pela chamada Nova Indústria Brasil (NIB). Este movimento visou revigorar principais setores como a indústria automotiva, alimentícia, de construção civil e farmacêutica, todos essenciais para o fortalecimento do mercado de trabalho e o aumento de receitas fiscais.
Por sua vez, a inflação apresentou um comportamento favorável durante a maior parte do ano. Em agosto, foi registrada até uma deflação, alimentando a perspectiva de que a economia poderia encerrar o ano de forma positiva, mesmo em face de um agronegócio com contribuições menos expressivas. Esse quadro otimista, no entanto, não permaneceu inabalável, trazendo à tona preocupações sobre o futuro próximo do país.
Desafios e Adversidades Emergentes para 2025
À medida que o ano de 2024 avançava para o seu segundo semestre, o clima de confiança começou a dar lugar a uma apreensão crescente sobre o que viria a seguir. Embora a inflação se mantivesse controlada, o dólar iniciou uma tendência de alta, e a taxa básica de juros, a Selic, apresentava sinais de aumento. Tais mudanças acenderam um sinal amarelo no mercado financeiro quanto à capacidade do Brasil em equilibrar suas contas públicas em curto prazo.
Após um hiato de crescimento econômico baixo, entre 0,5% ao ano entre 2012 e 2021, o Brasil havia elevado sua expansão para cerca de 3% ao ano nos três anos mais recentes. A economia brasileira figurou entre as seis mais crescentes do G20. Entretanto, a iminente elevação dos juros e a volatilidade cambial ameaçavam investimentos e a competitividade da indústria nacional – o motor que nutria uma série de atividades na economia local.
Impactos da Política Monetária e a Pressão Cambial
O déficit fiscal projetado para 2024, apesar de estar em uma faixa não alarmante de 0,18% do PIB, acendeu debates em torno de um possível agravamento em 2025. Com uma expectativa de elevação para 0,4% do PIB no ano seguinte, superando a banda de tolerância de 0,25%, emergia a necessidade de um contingenciamento de recursos públicos. Esse cenário requeria um alinhamento abrangente entre todas as esferas de poder para evitar que o desequilíbrio fiscal se tornasse um entrave permanente ao crescimento.
Além disso, a manutenção de valores elevados para a Selic inflacionava o serviço da dívida brasileira. Cada ponto percentual acrescido à Selic adiciona em torno de R$ 50 bilhões anuais aos gastos governamentais. Com aumentos profundos nos juros de 2024 para 2025, o desembolso adicional poderia ultrapassar os R$ 150 bilhões anuais, anulando os ganhos das políticas de ajuste recente aprovadas.
O Papel do Câmbio na Equação Econômica
A trajetória de alta do dólar exerce uma pressão significativa sobre os custos de produção domésticos, principalmente para a indústria de transformação que depende de insumos importados. Se, por um lado, tal desvalorização cambial pode beneficiar alguns exportadores, por outro, eleva custos de maquinários e componentes essenciais, potencialmente aumentando os preços finais ao consumidor e limitando a inovação das empresas que dependem de bens de capital estrangeiros.
O debate em torno da política fiscal e monetária se intensificou, haja visto que, mesmo com cortes de despesas propostas pelo Executivo, a contenção de R$ 70 bilhões em dois anos apenas não eliminava a necessidade de um pacto mais abrangente. Esse pacto precisaria integrar o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional, o Judiciário, além dos governos estaduais e municipais.
Uma Proposta de Pacto Nacional pelo Crescimento
Entramos, então, na discussão sobre um “pacto nacional” que envolve todos os Poderes, empresários e trabalhadores. A proposta visa consensuar metas fiscais e políticas econômicas estruturantes, assegurando que o equilíbrio das contas públicas não inviabilize os investimentos no país. Diversos setores da economia, principalmente a indústria, mostraram-se dispostos a negociar, desde que hajam garantias contra juros impeditivos.
Executado já nos primeiros meses de 2025, esse movimento poderia neutralizar a apreensão do mercado, estabilizar o câmbio a níveis compatíveis com a competitividade externa e prevenir que a manutenção dos juros elevados torne a dívida pública mais onerosa. Em vez do crescimento ser freado pela disciplina fiscal, medidas de incentivo à inovação, infraestrutura, educação e tecnologia poderiam assegurar uma elevação sustentável do PIB.
Para Onde Seguir: Um Chamado à Ação Coletiva
No fim das contas, a lição tirada da trajetória brasileira indica que quando governo, setor privado e sociedade civil alcançam um consenso mínimo, o ambiente econômico se vê mais resistente a choques internos e externos. A economia conseguiu progredir de forma significativa quando as condições do mercado e as políticas setoriais foram favoráveis ao setor de transformação e à confiança interna.
O desafio imediato é encontrar o equilíbrio entre a responsabilidade fiscal e o desenvolvimento econômico. A coordenação efetiva entre os níveis de governo, o setor produtivo e a força de trabalho é crucial para dissipar expectativas negativas e fazer avançar o país rumo a um novo ciclo de expansão inclusiva e duradoura. Essa estratégia precisa ser articulada no início do ano para garantir um fluxo de crescimento sustentável que se espalhe por todos os setores produtivos do Brasil.
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