O que um frigorífico deve considerar para vender carne orgânica?
Com a crescente demanda por carne orgânica, grandes frigoríficos, como JBS, Minerva, BRF e Marfrig, têm se adaptado para incluir opções desse tipo em seus portfólios. Além disso, pequenos e médios produtores se encontram em uma posição favorável para atender esse mercado, oferecendo produtos mais saudáveis e sustentáveis. Para navegar neste cenário, é crucial compreender os requisitos legais, as certificações necessárias e os desafios enfrentados no processo de comercialização.
Certificações Necessárias para Carne Orgânica
Para que um frigorífico possa vender carne orgânica no Brasil, é essencial seguir a Lei BR 10.831/2003, que regulamenta a produção e comercialização de produtos orgânicos no país. Além disso, se a intenção for exportar para os Estados Unidos, a certificação deve estar em conformidade com a NOP (National Organic Program) do USDA (Departamento de Agricultura dos EUA). Para acessar o mercado europeu, é requerida a adequação à EU 848/2018, que estabelece normas rígidas para alimentos orgânicos.
A obtenção dessas certificações não é apenas uma questão de registro, mas envolve uma série de adaptações na operação do frigorífico. Um bom ponto de partida é consultar especialistas na área de certificação, que podem orientar sobre as melhores práticas e requisitos específicos a serem seguidos.
Processo de Certificação
Adaptar a produção e os métodos de manejo animal para atender os padrões orgânicos requer um compromisso significativo do frigorífico. Normalmente, essas adaptações são feitas com a ajuda de consultorias especializadas. O primeiro passo é realizar uma avaliação das práticas atuais e comparar com as exigências das certidões desejadas.
Após essa análise, o frigorífico deve implementar as mudanças identificadas e, gradualmente, preparar-se para passar pela auditoria de certificação. Isso pode incluir mudanças no fornecimento de alimentos, manejo animal e até mesmo a infraestrutura da unidade de processamento para garantir que os padrões orgânicos sejam respeitados durante todo o ciclo produtivo.
Desafios na Habilitação para Vendas
Um dos principais desafios que os frigoríficos enfrentam ao tentar comercializar carne orgânica é a questão cultural e a falta de entendimento do mercado sobre o que significa realmente “orgânico”. Existe uma forte necessidade de educação do consumidor, tanto em nível local quanto global, sobre os benefícios da carne orgânica e como ela se diferencia dos produtos convencionais.
No Brasil, as normas são um pouco mais flexíveis; bovinos não precisam ser nascidos orgânicos, mas é necessário que passem dois terços de suas vidas sob manejo orgânico. No entanto, para vender na Europa e nos Estados Unidos, os bezerros devem ser orgânicos desde o nascimento, o que demanda um planejamento com antecedência de até cinco anos para atuar efetivamente nesses mercados.
Soluções para Superar Obstáculos
Para superar os desafios de integração ao mercado de carne orgânica, é fundamental que o setor como um todo se una em um esforço colaborativo. Isso inclui a realização de pesquisas para desenvolver e testar novos métodos de produção que atendam aos rigorosos requisitos de certificação. É importante que as soluções considerem a realidade dos trópicos, onde a adaptação das normas globais pode ser necessária.
Um exemplo de como isso pode ser feito é a criação de sistemas experimentais que possam gerar dados específicos sobre o manejo orgânico em diferentes contextos. Assim, é possível estabelecer práticas viáveis que assegurem a qualidade da carne e atendam às exigências sanitárias e de saúde pública.
Benefícios de Oferecer Carne Orgânica
Os frigoríficos que conseguem se adaptar e obter as certificações necessárias para a produção de carne orgânica podem se beneficiar de um mercado crescente e altamente lucrativo. Além do aumento na demanda, esses produtores estão em uma posição diferenciada em relação à concorrência, agregando valor aos seus produtos.
Ao adotar práticas orgânicas, as empresas também podem melhorar sua imagem corporativa, associando-se a conceitos de sustentabilidade e responsabilidade social. Isso é especialmente relevante em um momento em que os consumidores estão cada vez mais conscientes das suas escolhas alimentares e dos impactos que elas têm no meio ambiente.
Mercado de Exportação
Entrar no mercado de exportação de carne orgânica pode ser altamente vantajoso, mas também complexo. É vital entender as exigências específicas de cada mercado. Além das certificações mencionadas, é necessário estar ciente de que diferentes países podem exigir relatórios adicionais e inspeções para garantir que os produtos atendam às suas normas.
Frigoríficos que se prepararem adequadamente poderão acessar mercados que ofertam preços mais altos, além de consolidar parcerias com distribuidores internacionais que valorizam produtos orgânicos. No entanto, como mencionado anteriormente, isso requer um planejamento meticuloso e a implementação de práticas robustas desde a origem do produto até o ponto de venda final.
Perspectivas Futuras no Setor
O futuro do mercado de carne orgânica parece promissor, com um crescimento contínuo na demanda global. Frigoríficos que investem em certificações e aprimoramento da produção não só atenderão as necessidades do mercado, mas também contribuirão para práticas mais sustentáveis no setor. O protagonismo na inovação e na adequação das normas à realidade brasileira pode se transformar em um diferencial competitivo.
Além disso, as tendências apontam para um aumento da conscientização em relação à saúde dos consumidores e ao impacto ambiental da produção animal. Nesse contexto, frigoríficos que se anteciparem a essas mudanças e se adequarem rapidamente poderão colher os frutos de um mercado em expansão.
Em conclusão, os frigoríficos que desejam entrar no mercado de carne orgânica precisam navegar por um conjunto complexo de regulamentações e certificações. Contudo, com planejamento, inovação e um foco na qualidade, é possível não apenas atender a essa demanda crescente, mas também se estabelecer como um líder em um setor que valoriza a saúde, a sustentabilidade e a qualidade dos produtos.
