A decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de aplicar uma taxação de 50% sobre produtos brasileiros importados preocupa setores da economia nacional. Um dos mercados mais afetados deve ser o da carne bovina, cujas exportações para o país norte-americano vinham crescendo nos últimos anos.
Entendendo o Impacto da Taxação Americana
Reação Inicial do Setor Frigorífico
O setor frigorífico brasileiro recebeu com surpresa a notícia da taxação de 50% imposta pelos Estados Unidos à carne bovina importada do Brasil. A medida, anunciada de forma inesperada, gerou apreensão e levou as empresas a avaliarem os possíveis desdobramentos no curto e médio prazo. A prioridade agora é entender como essa nova barreira tarifária afetará o fluxo de exportações e quais estratégias podem ser adotadas para minimizar os impactos negativos.
Diego Magnabosco, diretor de Vendas do frigorífico Frigosul, ressalta que o setor está analisando os impactos da notícia, que pegou a todos de surpresa. A taxação inesperada sobre os produtos brasileiros, e especificamente sobre a carne, exige uma resposta rápida e estratégica para mitigar os possíveis prejuízos.
Mercado Norte-Americano e a Escassez de Proteína
A carne brasileira vinha conquistando espaço no mercado norte-americano devido à crescente demanda por proteína e à relativa escassez de produção interna nos Estados Unidos. A qualidade e o preço competitivo da carne brasileira a tornaram uma opção atraente para os consumidores e importadores americanos, impulsionando o crescimento das exportações nos últimos anos. No entanto, a nova taxação ameaça essa trajetória ascendente e coloca em xeque a competitividade do produto brasileiro.
Magnabosco lembra que os EUA operam com uma cota anual de 60 mil toneladas de carne brasileira isenta de imposto. Essa cota, geralmente esgotada rapidamente, já havia sido totalmente consumida em março de 2025. A partir desse volume, já valia um imposto de 20%, o que já impactava o custo do produto. Agora, com a nova medida, a situação se agrava consideravelmente.
Possíveis Estratégias e Acomodação do Mercado
Realocação da Produção e o Mercado Interno
Diante da nova taxação, uma das estratégias em avaliação pelo setor frigorífico é a realocação da produção destinada ao mercado americano para outros destinos, tanto no mercado interno quanto em outros países. O aumento da oferta de carne no mercado interno pode gerar uma pressão para baixo nos preços, beneficiando os consumidores brasileiros. No entanto, é fundamental encontrar outros mercados externos para absorver o excedente de produção e evitar uma queda acentuada nos preços da carne.
Magnabosco acredita que, num primeiro momento, uma parte dessa carne deve ser direcionada para o mercado interno, pressionando os preços para baixo. No entanto, o setor entende que essa situação não será uma tragédia para o mercado da carne. Haverá uma acomodação, com o volume de carne sendo recolocado em outros mercados, além do interno. Apesar da pressão, não se espera um impacto que trave o mercado da carne.
Diversificação de Mercados e Estabilidade do Setor
A diversificação de mercados é vista como uma alternativa crucial para mitigar os impactos da taxação americana e garantir a estabilidade do setor frigorífico brasileiro. A busca por novos clientes e o fortalecimento das relações comerciais com outros países podem compensar a perda de competitividade no mercado americano. A prioridade é identificar mercados com demanda crescente por carne bovina e que ofereçam condições comerciais favoráveis para os exportadores brasileiros.
As exportações brasileiras de carne somam cerca de 250 mil toneladas por mês, das quais 15 mil são destinadas aos Estados Unidos, o que representa apenas 6% do total exportado e cerca de 2,5% da produção nacional. O mercado dos EUA causa um impacto, mas não se espera desempregos. O preço deve se ajustar um pouco para baixo e todo o mercado interno e externo deve absorver esse volume, que não é suficiente para justificar o fechamento de uma planta frigorífica, segundo Magnabosco.
Impacto Regional e Estratégias de Expansão
Concentração Regional e Efeitos da Taxação
O impacto da taxação americana pode variar significativamente entre os diferentes estados brasileiros, dependendo do grau de dependência de cada região em relação ao mercado americano. Estados com uma maior concentração de frigoríficos que exportam para os Estados Unidos, como Goiás, tendem a sentir mais os efeitos da medida, enfrentando dificuldades para realocar a produção e manter os níveis de emprego. É fundamental que o governo federal e os governos estaduais trabalhem em conjunto para oferecer suporte às empresas e minimizar os impactos negativos nas regiões mais afetadas.
Magnabosco destacou que alguns estados, como Goiás, podem sentir mais os efeitos da taxação por concentrarem frigoríficos com forte presença no mercado americano, o que exige uma atenção especial e medidas de apoio específicas para essas regiões.
Expansão Internacional e Novos Mercados
Apesar da taxação americana, muitas empresas do setor frigorífico brasileiro continuam apostando na expansão internacional e na conquista de novos mercados. A diversificação geográfica das exportações é vista como uma forma de reduzir a dependência de mercados específicos e garantir um fluxo constante de receita. O foco está em identificar países com demanda crescente por carne bovina e que ofereçam oportunidades de negócios promissoras para os exportadores brasileiros.
A unidade do Frigosul em Aparecida do Taboado exporta atualmente 40% da sua produção, mas não atua no mercado norte-americano. O principal destino da carne da planta é a China. O grupo, que possui clientes em cerca de 30 países, está em fase de expansão da presença internacional. A empresa está exportando para o Uruguai, para o Chile, e aumentando a exportação no Oriente Médio, para Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Argélia, segundo o diretor.
Cenário da Pecuária e Negociações Governamentais
Impacto da China e o Mercado Interno
O diretor do frigorífico Frigosul ressalta que o impacto da medida seria muito mais grave caso viesse da China, principal parceira do Brasil no setor de carnes, responsável por cerca de 50% das compras externas. Em relação aos EUA, é a perda de um cliente, e isso nunca é positivo. O mercado chinês é crucial para a estabilidade do setor, e qualquer alteração nas relações comerciais com a China teria um impacto significativo na pecuária brasileira.
Magnabosco explicou que a taxação ocorre em um momento delicado para o setor, com o fim da safra e aumento da oferta de gado devido à estiagem. Essa conjuntura já pressiona o preço do boi, atualmente em torno de R$ 310,00. Com o novo cenário, Diego estima uma possível queda entre 5% e 10% nos preços, o que exige atenção e estratégias para minimizar as perdas.
Reação Diplomática e o Papel da ABIEC
A ABIEC (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes) está atuando ativamente para buscar uma solução diplomática para a questão da taxação americana. A entidade está realizando reuniões com representantes do governo e do setor privado para avaliar o cenário e definir a melhor estratégia de negociação. O objetivo é convencer o governo americano a reconsiderar a medida e restabelecer as condições comerciais favoráveis para a carne brasileira.
Como membro do conselho da ABIEC, Magnabosco informou que a entidade está realizando reuniões para entender o cenário e pedir ao governo a melhor condução das negociações para discutir a situação. A ABIEC enxerga o mercado americano como crescente para a carne brasileira e, portanto, não pode ser perdido. A orientação da ABIEC é de união, de reconciliação e de retomada do mercado americano, com o governo atuando nas negociações.
Perspectivas para o Futuro da Pecuária Brasileira
Transformação da Pecuária e Investimentos no Setor
A pecuária brasileira passou por uma transformação significativa nos últimos anos, migrando de um modelo extensivo para um sistema mais intensivo, com foco na produtividade e na qualidade da carne. Essa evolução permitiu aumentar a eficiência da produção e atender às exigências de mercados cada vez mais sofisticados. A expectativa é de que o setor continue investindo em tecnologia e inovação para se manter competitivo no cenário internacional.
Magnabosco demonstrou confiança no futuro da pecuária nacional, que passou de um modelo extensivo para intensivo, com foco na produtividade. Há pessoas tirando soja embaixo do pivô e colocando boi. O boi mudou o patamar de 35 dólares para 55 a 60 dólares, o que viabiliza hoje tanto a pecuária a pasto quanto a pecuária em confinamento, segundo ele.
Novos Mercados e Estabilidade a Longo Prazo
A busca por novos mercados e o fortalecimento das relações comerciais com países como Japão e Coreia do Sul são vistos como estratégias fundamentais para garantir a estabilidade do setor pecuário brasileiro a longo prazo. A diversificação geográfica das exportações reduz a dependência de mercados específicos e protege o setor de flutuações econômicas e políticas. A expectativa é de que o Brasil continue expandindo sua presença no mercado internacional de carne bovina, consolidando sua posição como um dos principais players globais.
A expectativa é de que mercados como Japão e Coreia do Sul passem a importar carne brasileira, o que deve garantir estabilidade ao setor. Quem está com projeto de pecuária pode tirar da gaveta e investir, porque a gente acredita muito nesse mercado, concluiu Magnabosco.