Após resultados da JBS, o que mercado espera para 2T de BRF e Marfrig?
A JBS (BDR: JBSS32) divulgou seu primeiro resultado como frigorífico listado na Bolsa de Nova York, apresentando um lucro líquido de US$ 528,1 milhões no segundo trimestre, um aumento de 60,6% em relação ao mesmo período do ano anterior. Apesar dos desafios enfrentados nos negócios de carne bovina nos EUA, outros segmentos da empresa demonstraram robustez, gerando expectativas e servindo como termômetro para os resultados de seus concorrentes.
Análise dos Resultados da JBS
O CEO Global da JBS, Gilberto Tomazoni, em entrevista à Reuters, evidenciou a fragilidade nos negócios de carne bovina nos EUA, onde o custo do boi para os frigoríficos aumentou consideravelmente, impactando as margens da empresa. Essa unidade representa aproximadamente um terço das vendas totais da JBS.
Entretanto, a diversificação da JBS permitiu que outros segmentos compensassem as perdas nos EUA. As operações de carne bovina brasileira e australiana apresentaram resultados positivos, demonstrando a importância de uma estratégia diversificada para mitigar riscos em diferentes mercados.
Tomazoni expressou satisfação com a margem Ebitda ajustada de 8,4% no segundo trimestre, mesmo diante dos desafios enfrentados em alguns negócios. O Ebitda ajustado atingiu R$ 9,9 bilhões (US$ 1,75 bilhão), superando a expectativa do Itaú BBA, que era de R$ 8,9 bilhões.
Impacto da Diversificação e Ganhos Contábeis
Os analistas do Itaú BBA destacaram que parte desse resultado positivo, cerca de US$ 190 milhões, originou-se de ganhos contábeis, sugerindo que o desempenho operacional da JBS no trimestre foi praticamente em linha com as expectativas. A estratégia de diversificação da empresa foi considerada vantajosa, especialmente em um período desafiador para a carne bovina nos EUA e um trimestre atípico para a carne suína no mesmo país.
A alocação de capital para compensar o consumo de fluxo de caixa foi vista como positiva pelo banco. A potencial reclassificação da JBS continua sendo um gatilho significativo para a valorização das ações no próximo ano, embora os investidores possam hesitar em antecipar esse movimento devido às incertezas nas margens das operações de carne bovina e de frango nos EUA para o ano fiscal de 2026.
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A XP Investimentos também avaliou os resultados da JBS como melhores do que o esperado, marcando um início sólido após a listagem nos EUA. O mercado doméstico dos EUA, juntamente com o forte desempenho das exportações da JBS Australia e JBS Brasil (Friboi), contribuíram para esse resultado positivo. A Seara também surpreendeu positivamente, apesar dos impactos da gripe aviária, que se espera que continuem no terceiro trimestre.
A queima de caixa da JBS ficou ligeiramente melhor do que a expectativa da XP, totalizando US$ 55 milhões, em comparação com os US$ 118 milhões esperados. Além disso, a empresa anunciou um novo programa de recompra de ações (10% do free float) e outra aquisição focada em valor agregado nos EUA, totalizando um investimento de US$ 835 milhões neste ano, além de um dividendo de US$ 1,2 bilhão neste trimestre.
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O Bradesco BBI também destacou a diversificação da JBS como o principal ponto positivo dos resultados do segundo trimestre. A deterioração do ciclo da pecuária nos EUA acabou beneficiando outras unidades de negócios, reforçando a visão de que as margens da avicultura devem permanecer resilientes.
Por outro lado, o BBI apontou que a compressão das margens da carne bovina nos EUA pode neutralizar os ganhos em outras divisões. A recorrência desses níveis de margem é incerta, especialmente considerando que a JBS teve um desempenho inferior ao da Tyson em 1,90 ponto percentual no trimestre. Essas margens pressionadas podem limitar o espaço para revisões positivas nas projeções de lucro da empresa.
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Visão do Bradesco BBI e Reclassificação de Múltiplos
Diante desse cenário, o BBI acredita que os gatilhos de curto prazo para a valorização das ações da JBS tendem a ser mais restritos. No entanto, o banco mantém uma visão construtiva sobre o papel, sustentada pela assimetria atrativa da tese, que está mais relacionada ao potencial de reclassificação de múltiplos do que à dinâmica de resultados de curto prazo. Essa análise embasa a recomendação de compra para JBSS32.
A diversificação geográfica e de produtos da JBS demonstra ser um fator crucial para a estabilidade e o crescimento da empresa, especialmente em momentos de turbulência em mercados específicos. A capacidade de compensar perdas em um segmento com ganhos em outros é uma vantagem competitiva significativa.
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Expectativas para BRF e Marfrig
Enquanto a JBS já apresentou seus resultados, o mercado aguarda ansiosamente os números do segundo trimestre de BRF (BRFS3) e Marfrig (MRFG3), que serão divulgados nesta quinta-feira (14), após o fechamento do mercado. Os resultados da JBS servem como um importante indicador para entender as tendências e desafios que as outras empresas do setor podem ter enfrentado.
Para a BRF, o Bradesco BBI projeta um trimestre sólido, com uma receita líquida de R$ 15,3 bilhões (+4% em relação ao ano anterior) e Ebitda de R$ 2,5 bilhões (-5% em relação ao ano anterior). A margem Ebitda é estimada em 16,4% (-130 pontos-base em relação ao trimestre anterior e -150 bps em relação ao ano anterior), com um lucro líquido ajustado de R$ 726 milhões (-5% em relação ao ano anterior).
Considerando que as restrições às exportações devido ao surto de gripe aviária no Brasil impactaram metade do trimestre, a visão é de bons resultados. No segmento Internacional, espera-se uma queda de 12% em relação ao ano anterior (em linha com os dados da Secex), com a margem Ebitda contraindo para 15,8% (-320 bps em relação ao trimestre anterior e -520 bps em relação ao ano anterior), refletindo preços de exportação mais baixos, um mix de produtos menos favorável e custos de ração mais altos.
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Projeções para o Mercado Doméstico e Marfrig
A expectativa é de que parte dos volumes afetados pelas restrições nas exportações seja redirecionada para o mercado doméstico, que deve continuar a se beneficiar da forte demanda do consumidor e da melhor execução comercial da BRF. No geral, projeta-se um crescimento de 8,5% em relação ao ano anterior nos volumes domésticos, com a margem Ebitda sustentada em fortes 17,3% (+20 bps em relação ao trimestre anterior e +170 bps em relação ao ano anterior).
Para a Marfrig, o BBI projeta resultados sequencialmente estáveis na América do Sul e ligeiramente melhores na América do Norte. Excluindo as operações descontinuadas, os analistas esperam que a Marfrig reporte uma receita líquida de R$ 22,7 bilhões no segundo trimestre (+14% em relação ao ano anterior e -2% em relação ao trimestre anterior) e receita ajustada.
A projeção é de Ebitda de R$ 557 milhões (-26% na base anual e +26% trimestralmente) com margem de 2,5% (-140 bps ano a ano e +50 bps trimestralmente). Na América do Sul, espera-se receitas de R$ 4,1 bilhões e Ebitda ajustado de R$ 461 milhões (margem de 11,2%), praticamente estáveis em relação ao trimestre anterior, com crescimento de 12% e 38% anualmente, respectivamente.
Expectativas para o Desempenho da Marfrig
Espera-se que os resultados da divisão da Marfrig na América do Sul acelerem no terceiro trimestre, impulsionados pelo crescimento de volumes e preços. Na América do Norte, o ambiente desafiador para o mercado de carne bovina dos EUA continua, mas as operações da Marfrig devem continuar apresentando desempenho superior, impulsionadas por uma margem Ebitda que deve expandir 0,8% em relação ao trimestre anterior (-210 bps na base anual). Também são esperadas tendências melhores para a divisão no futuro.
O Itaú BBA também compartilha a expectativa de resultados melhores do que o esperado pelo consenso de mercado para Marfrig e BRF, após um trimestre parcialmente afetado por restrições nas exportações de carne de frango brasileira. O impacto foi amenizado por uma reorganização eficiente das exportações e aumento de estoques no setor.
A atenção dos investidores deve se voltar para a consolidação das operações caso a fusão seja aprovada na próxima assembleia, o que pode reduzir o foco nas questões operacionais do trimestre. No caso da Marfrig, apesar da pressão na rentabilidade nos EUA, espera-se que a operação apresente melhora frente aos pares, com avanço de 0,5 ponto porcentual de margem Ebitda em relação ao primeiro trimestre.
O Impacto da Gripe Aviária e Estratégias de Mitigação
O surto de gripe aviária no Brasil representou um desafio significativo para as empresas do setor, especialmente para a BRF, que teve parte de suas exportações impactadas. No entanto, a empresa demonstrou agilidade ao redirecionar volumes para o mercado doméstico e otimizar sua execução comercial, minimizando as perdas.
A capacidade de adaptar-se rapidamente a mudanças nas condições de mercado é fundamental para o sucesso das empresas do setor. A BRF, ao redirecionar volumes e focar no mercado interno, demonstrou resiliência e capacidade de resposta.
A Relevância da Consolidação das Operações
A possível fusão das operações da Marfrig tem gerado grande expectativa no mercado. A aprovação da fusão na próxima assembleia pode representar um marco importante para a empresa, permitindo uma consolidação de suas operações e potencialmente reduzindo o foco nas questões operacionais de curto prazo.
A consolidação de operações pode trazer diversos benefícios, como a otimização de processos, a redução de custos e o aumento da eficiência. A atenção dos investidores está voltada para os próximos passos da Marfrig em relação a essa possível fusão.
Cenário Competitivo e Desempenho Comparativo
A comparação entre o desempenho da JBS e de seus concorrentes, como a Tyson, é relevante para entender o cenário competitivo do setor. O fato de a JBS ter apresentado um desempenho inferior ao da Tyson em 1,90 ponto percentual no trimestre levanta questionamentos sobre a recorrência desses níveis de margem e o potencial de revisões positivas nas projeções de lucro da empresa.
A análise comparativa do desempenho das empresas do setor é fundamental para identificar as melhores práticas e os desafios a serem superados. A JBS, apesar de ter apresentado bons resultados em alguns segmentos, precisa lidar com a pressão nas margens da carne bovina nos EUA para garantir um desempenho consistente no longo prazo.
Perspectivas Futuras
O futuro das empresas do setor de frigoríficos é incerto, mas algumas tendências parecem claras. A diversificação geográfica e de produtos continuará sendo fundamental para mitigar riscos e garantir a estabilidade. A capacidade de adaptar-se rapidamente a mudanças nas condições de mercado, como o surto de gripe aviária, será crucial para o sucesso.
Além disso, a consolidação de operações e a busca por eficiência serão cada vez mais importantes para enfrentar a crescente concorrência e as pressões sobre as margens. As empresas que conseguirem se adaptar a essas tendências estarão melhor posicionadas para prosperar no longo prazo.