Uma semana após Donald Trump anunciar tarifas de 50% para os produtos brasileiros, os frigoríficos de Mato Grosso do Sul e de outras partes do Brasil já suspenderam o abate de bovinos que seriam direcionados ao mercado americano. De acordo com Jaime Verruck, secretário de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação de Mato Grosso do Sul (Semadesc), o volume deve ser redirecionado ao mercado interno e a outros países, provocando queda nos preços ao consumidor final e aos produtores.
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Segundo fontes do setor, grandes empresas como JBS e Marfrig já suspenderam o abate de gado com destino aos EUA e estão redirecionando a produção para novos mercados.
— Não vamos conseguir manter as exportações aos EUA com esse valor de taxa. Não vamos manter o processo de exportação. A cadeia produtiva já sente os impactos, e os frigoríficos já começaram a alterar suas escalas de produção, com a suspensão do abate para o mercado americano. Estamos atentos e preocupados. O segmento é relevante para o Estado — disse Verruck.
Alberto Sérgio Capucci, vice-presidente do Sindicato das Indústrias de Frios, Carnes e Derivados de Mato Grosso do Sul (Sincadems), disse que o pedido para suspender o abate partiu dos próprios compradores americanos logo após o anúncio de Trump.
-A suspensão do abate para a exportação dos EUA atinge todos os frigoríficos que exportam para os Estados Unidos e não apenas os de Mato Grosso do Sul. Será um momento de redirecionamento da produção, que terá efeitos no preço da carne e do boi – disse Capucci.
Segundo Verruck, os EUA representam atualmente 7,3% das exportações de carne bovina brasileira. Em 2024, os Estados Unidos se consolidaram como o segundo maior destino das exportações de carne bovina de Mato Grosso do Sul, respondendo por 18,42% do total comercializado e o equivalente a US$ 235,5 milhões e 49,6 mil toneladas embarcadas. O país ficou atrás apenas da China, que liderou o ranking com 24,18% das exportações, somando US$ 309 milhões e 66 mil toneladas.
No primeiro semestre de 2025, os Estados Unidos permaneceram como o segundo maior destino da carne bovina exportada por Mato Grosso do Sul, com US$ 235,5 milhões e 49,6 mil toneladas embarcadas. Isso representa 9,21% do valor total e 8,78% do volume físico exportado pelo Estado no período. A China manteve a liderança, com US$ 309 milhões (12,09%) e 66 mil toneladas (11,71%).
— Estamos acompanhando com preocupação, pois é um mercado relevante e de alto valor agregado, que permite margens adequadas. E, consequentemente, permite aos frigoríficos fazerem um bom mix de produtos e preços ao produtor de Mato Grosso do Sul.
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O secretário lembrou que a carne bovina opera sob um sistema de cotas nos Estados Unidos. Acima de 65 mil toneladas, há uma taxação de 26,4%. E, segundo ele, com um adicional de 50%, as exportações se tornam inviáveis.
— As empresas que já abateram hoje não conseguem mais enviar para os EUA até primeiro de agosto. Portanto, há aumento de estoque nos frigoríficos de MS. Todas essas empresas já deixaram de abater para os EUA.
Segundo o secretário, como consequência, no curto prazo haverá redução no abate, pela impossibilidade de alocação desse produto em outros mercados de forma rápida:
— A realocação para outros países não é tão rápida. A outra consequência é a recolocação desse produto no mercado interno. Como é um produto perecível, pode haver uma redução de preço ao consumidor e também uma redução de preço ao produtor.
Verruck lembra que o objetivo é continuar vendendo aos EUA.
— Isso seria fundamental. Temos falado com o governo federal para uma prorrogação na implantação da reciprocidade da tarifa, para que os estoques que temos possam ser levados ao mercado americano e que tenhamos tempo para buscar outros mercados. Não achamos que a intenção do governo seja aplicar a reciprocidade no curto prazo.
Procuradas, as empresas ainda não retornaram.
Naturafrig busca exportação para novos mercados
Além do MS, há abate em Mato Grosso, Pará, Goiás, Minas Gerais, São Paulo e Rondônia, segundo executivos do setor.
Capucci também é diretor do frigorífico Naturafrig, em MS. Ele afirmou que vem redirecionando parte dessa produção para mercados como China, Chile e o próprio Brasil.
-Os compradores americanos falaram que não iam conseguir pagar essa taxa de 50%. Por isso, foi tudo suspenso já no momento seguinte ao anúncio.
Impacto Imediato da Tarifa e Reação dos Frigoríficos
A imposição de uma tarifa de 50% sobre a carne bovina brasileira pelos Estados Unidos gerou uma resposta rápida e contundente por parte dos frigoríficos. A suspensão imediata do abate de bovinos destinados ao mercado americano demonstra a inviabilidade econômica de manter as exportações sob essas novas condições. Essa medida, embora drástica, reflete a sensibilidade do setor às mudanças nas políticas comerciais e a necessidade de adaptação para minimizar perdas.
A decisão de interromper o abate não é apenas uma medida de curto prazo, mas também um sinal de alerta sobre as possíveis consequências de políticas protecionistas. A brusca alteração nas condições de mercado obriga os frigoríficos a repensar suas estratégias e buscar alternativas para mitigar os impactos negativos. A agilidade na resposta demonstra a capacidade do setor de se ajustar, mas também evidencia a vulnerabilidade diante de decisões unilaterais que afetam o comércio internacional.
Redirecionamento da Produção e Busca por Novos Mercados
Diante da suspensão do abate para os EUA, os frigoríficos brasileiros estão se concentrando em redirecionar a produção para outros mercados, tanto no exterior quanto no mercado interno. A busca por novos destinos para a carne bovina é crucial para evitar um acúmulo excessivo de estoque e garantir a continuidade das operações. Essa estratégia envolve a identificação de oportunidades em países com demanda crescente por carne bovina e a adaptação dos produtos para atender às exigências de cada mercado.
O redirecionamento da produção não é uma tarefa simples, pois exige investimentos em logística, marketing e adaptação dos produtos. No entanto, a diversificação dos mercados é fundamental para reduzir a dependência de um único comprador e aumentar a resiliência do setor. A busca por novos mercados também pode impulsionar a inovação e a melhoria da qualidade da carne bovina brasileira, tornando-a mais competitiva no cenário internacional.
Efeitos no Mercado Interno e Preocupações com os Preços
A impossibilidade de exportar para os Estados Unidos, combinada com o redirecionamento da produção para o mercado interno, levanta preocupações sobre uma possível queda nos preços da carne bovina no Brasil. O aumento da oferta interna, sem um aumento proporcional na demanda, pode levar a uma pressão sobre os preços, afetando tanto os produtores quanto os frigoríficos. A competição acirrada no mercado interno pode reduzir as margens de lucro e comprometer a sustentabilidade financeira do setor.
Para evitar uma queda drástica nos preços, é fundamental que o governo e o setor privado trabalhem em conjunto para promover o consumo interno de carne bovina e estimular as exportações para outros mercados. Campanhas de marketing, programas de incentivo ao consumo e negociações comerciais podem ajudar a equilibrar a oferta e a demanda e garantir preços justos para todos os envolvidos na cadeia produtiva. Além disso, a melhoria da qualidade e da segurança da carne bovina brasileira pode aumentar a confiança dos consumidores e impulsionar as vendas no mercado interno.
Impacto nos Produtores e Consumidores
A imposição da tarifa de 50% pelos Estados Unidos e a consequente suspensão do abate para exportação têm um impacto direto tanto nos produtores quanto nos consumidores. Os produtores, que já enfrentam desafios como custos de produção elevados e variações climáticas, podem ver seus lucros diminuírem com a queda nos preços da carne bovina. A incerteza em relação ao futuro das exportações pode desestimular o investimento e a modernização das propriedades rurais.
Os consumidores, por outro lado, podem se beneficiar de uma eventual queda nos preços da carne bovina no curto prazo. No entanto, é importante considerar que a longo prazo a instabilidade no setor pode levar a uma redução na oferta e a um aumento nos preços. Além disso, a qualidade da carne bovina pode ser comprometida se os produtores forem forçados a reduzir os custos de produção para compensar a queda nos preços. Portanto, é fundamental que o governo e o setor privado adotem medidas para garantir a sustentabilidade do setor e proteger os interesses tanto dos produtores quanto dos consumidores.
O Papel do Governo e as Negociações Comerciais
Diante da crise gerada pela tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos, o governo brasileiro tem um papel fundamental a desempenhar na busca por soluções e na defesa dos interesses do setor de carne bovina. As negociações comerciais com os Estados Unidos e outros países são essenciais para garantir o acesso aos mercados internacionais e evitar medidas protecionistas que prejudiquem as exportações brasileiras. O governo também pode atuar na promoção do consumo interno de carne bovina e no apoio aos produtores e frigoríficos.
A atuação do governo deve ser pautada pela transparência, pela eficiência e pela defesa dos interesses nacionais. É importante que o governo estabeleça um diálogo aberto com o setor privado e com outros países para encontrar soluções que beneficiem todos os envolvidos. Além disso, o governo pode investir em infraestrutura, pesquisa e desenvolvimento para fortalecer o setor de carne bovina e torná-lo mais competitivo no cenário internacional.
Estratégias para Mitigar os Impactos da Tarifa
Além das negociações comerciais, o governo e o setor privado podem adotar outras estratégias para mitigar os impactos da tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos. Uma das estratégias é a diversificação dos mercados, com a busca por novos destinos para a carne bovina brasileira. Outra estratégia é a melhoria da qualidade e da segurança da carne bovina, para aumentar a confiança dos consumidores e impulsionar as vendas no mercado interno e externo.
O governo também pode oferecer apoio financeiro aos produtores e frigoríficos, por meio de linhas de crédito e programas de incentivo. Além disso, o governo pode atuar na desburocratização dos processos de exportação e na promoção da carne bovina brasileira em feiras e eventos internacionais. A combinação dessas estratégias pode ajudar a reduzir os impactos negativos da tarifa e garantir a sustentabilidade do setor de carne bovina.
Análise do Cenário Internacional e Perspectivas Futuras
O anúncio da tarifa de 50% por Donald Trump reflete um cenário de crescente protecionismo no comércio internacional, que tem impactado diversos setores da economia global. A imposição de barreiras comerciais, como tarifas e cotas, dificulta o acesso aos mercados e prejudica as exportações de países como o Brasil. A instabilidade política e econômica em alguns países também contribui para a incerteza no comércio internacional.
Diante desse cenário, é fundamental que o Brasil adote uma postura proativa na defesa dos seus interesses comerciais e na busca por novos mercados. A diversificação das parcerias comerciais, a negociação de acordos bilaterais e a participação em organismos multilaterais são estratégias importantes para garantir o acesso aos mercados e evitar medidas protecionistas. Além disso, o Brasil deve investir na melhoria da sua competitividade, por meio da inovação, da tecnologia e da qualificação da mão de obra.
Possíveis Cenários e Adaptações Necessárias
O futuro do setor de carne bovina brasileira dependerá da evolução do cenário internacional e das medidas adotadas pelo governo e pelo setor privado. Em um cenário de continuidade do protecionismo, o Brasil precisará intensificar a busca por novos mercados e a diversificação da produção. A adaptação às exigências de cada mercado, a melhoria da qualidade e da segurança da carne bovina e a adoção de práticas sustentáveis serão fundamentais para garantir a competitividade do setor.
Em um cenário de retomada do livre comércio, o Brasil poderá se beneficiar da abertura de novos mercados e do aumento das exportações. No entanto, a competição será mais acirrada e a eficiência na produção e na comercialização será essencial para garantir o sucesso. Independentemente do cenário, o setor de carne bovina brasileira precisará estar preparado para enfrentar os desafios e aproveitar as oportunidades que surgirem.
Naturafrig Busca Exportação para Novos Mercados: Um Exemplo de Adaptação
O caso da Naturafrig, frigorífico com atuação em Mato Grosso do Sul, exemplifica a busca por alternativas diante da imposição da tarifa de 50% pelos Estados Unidos. A empresa, que também tem Alberto Sérgio Capucci como diretor, está redirecionando parte da sua produção para mercados como China, Chile e o próprio Brasil. Essa estratégia demonstra a capacidade de adaptação do setor e a importância da diversificação dos mercados para mitigar os impactos negativos das barreiras comerciais.
A Naturafrig não está sozinha nessa busca por novos mercados. Outros frigoríficos brasileiros também estão adotando estratégias semelhantes para garantir a continuidade das suas operações e minimizar as perdas. A união do setor e o apoio do governo são fundamentais para superar os desafios e aproveitar as oportunidades que surgirem no cenário internacional.