A Marfrig Global Foods reportou avanço no segundo trimestre de 2025, com receita líquida consolidada de R$ 37,7 bilhões, alta de 8,6% na comparação anual, e lucro líquido de R$ 85 milhões, crescimento de 13% sobre igual período de 2024. O EBITDA somou R$ 3,0 bilhões, com margem de 8%, enquanto o fluxo de caixa operacional alcançou R$ 3,0 bilhões, 17% acima do 2T24. O fluxo de caixa livre recorrente foi positivo em R$ 272 milhões. A alavancagem encerrou o trimestre em 2,7 vezes, frente a 3,38 vezes no 2T24. Os resultados cobrem o período de abril a junho de 2025 e refletem a combinação de eficiência fabril, disciplina de capital e decisões comerciais em mercados-chave.
Resultado consolidado: números e contexto
O trimestre mostrou expansão de receita e ganho de lucratividade em linha com a melhora de margens nas operações da América do Sul e com a manutenção de volumes relevantes na América do Norte. A dinâmica setorial ainda foi marcada por oferta de gado restrita em alguns estados norte-americanos e por ajustes de preço, enquanto no Brasil e em países vizinhos houve evolução de produtividade e aumento de capacidade em plantas voltadas a cortes de maior valor agregado. O resultado final foi um lucro líquido de R$ 85 milhões, suficiente para manter trajetória positiva em relação ao ano anterior e reforçar liquidez operacional.
O EBITDA consolidado de R$ 3,0 bilhões, com margem de 8%, aponta para gestão de custos e aproveitamento de sinergias industriais. Em caixa, o desempenho foi consistente: o fluxo de caixa operacional atingiu R$ 3,0 bilhões, 17% superior ao observado no 2T24, sustentando um fluxo de caixa livre recorrente de R$ 272 milhões. A redução da alavancagem para 2,7x, ante 3,38x um ano antes, indica desalavancagem gradual apoiada por geração de caixa e alocação prudente de capital. Esses indicadores ajudam a explicar a estabilidade financeira em um trimestre com diferenças marcantes entre os mercados das duas Américas.
- Receita líquida: R$ 37,7 bilhões (+8,6% vs. 2T24)
- Lucro líquido: R$ 85 milhões (+13% vs. 2T24)
- EBITDA: R$ 3,0 bilhões (margem de 8%)
- Fluxo de caixa operacional: R$ 3,0 bilhões (+17% vs. 2T24)
- Fluxo de caixa livre recorrente: R$ 272 milhões
- Alavancagem: 2,7x (vs. 3,38x no 2T24)
Composição da receita: Américas e portfólio de proteínas
A Marfrig manteve um mix de receita distribuído entre os principais destinos de consumo. Entre abril e junho, 49% da receita líquida consolidada veio da América do Norte e 11% da América do Sul. Os demais 40% derivaram de produtos de aves e suínos, segmento no qual a BRF figura entre as maiores companhias globais. Essa combinação confere diversificação por categoria e geografia, suavizando oscilações de oferta e preço em ciclos de gado e frango, por exemplo. Também permite calibrar o mix de marcas próprias e produtos industrializados conforme as condições de cada mercado.
A integração operacional entre unidades de bovinos na América do Sul e operações na América do Norte, somada ao efeito de marcas e distribuição em aves e suínos, ajuda a explicar a resiliência da receita. Quando um mercado enfrenta pressão de custo, o outro pode contribuir com volumes ou spreads melhores. Além disso, a estratégia de priorizar itens com maior valor agregado, como cortes premium e produtos processados, tende a mitigar volatilidade de margens em ciclos mais desafiadores de matéria-prima.
América do Sul: capacidade ampliada e avanço de volume
Na América do Sul, a receita líquida somou R$ 4,03 bilhões, alta de quase 10% na comparação anual, com EBITDA ajustado de R$ 439 milhões e margem de 10,9%. O período foi marcado pelo aumento de capacidade de abate e desossa, com destaque para a inauguração do complexo industrial de Promissão (SP), em junho, após investimento de R$ 548 milhões. O reforço estrutural permite concentrar produção em linhas com marca e maior valor agregado, beneficiando a rentabilidade. O volume de vendas da operação sul-americana atingiu 205 mil toneladas, 7,8% acima do 2T24, evidenciando ganho de escala.
As vendas no mercado doméstico representaram 66% do volume total do período, refletindo demanda firme por produtos resfriados e industrializados. Ao mesmo tempo, as exportações responderam por 55% da receita da América do Sul, com reforço de pedidos da Europa e da China. A diferença entre participação em volume doméstico e participação em receita externa decorre do mix: embarques tendem a priorizar cortes de maior valor, enquanto o mercado local absorve itens de giro elevado e linhas processadas. Essa combinação de canais é relevante para diluir custos fixos e buscar margens consistentes ao longo do ciclo.
- Receita América do Sul: R$ 4,03 bilhões (~+10% a/a)
- EBITDA ajustado: R$ 439 milhões (margem 10,9%)
- Volume de vendas: 205 mil t (+7,8% a/a)
- Participação doméstica (volume): 66%
- Exportações (receita da região): 55%
- Projeto Promissão (SP): investimento de R$ 548 milhões
América do Norte: preço médio maior e disciplina operacional
Na América do Norte, a receita líquida chegou a US$ 3,26 bilhões no trimestre, alta de 5,3% na comparação anual, impulsionada por maior preço médio. O EBITDA ajustado foi de US$ 25 milhões, com margem de 0,8%. O cenário do setor na região permaneceu desafiador pela menor disponibilidade de gado e pela pressão de custo de matéria-prima, fatores que comprimem spreads de processamento. Ainda assim, a operação manteve o foco em eficiência, gerenciamento de turnos e contratação ajustada ao nível de oferta, com atenção especial a clientes domésticos de grande porte.
As vendas totais somaram 468 mil toneladas, com 88% do volume endereçado ao mercado interno. Esse perfil reforça a relevância do consumo doméstico norte-americano para absorver produção de forma previsível, reduzindo exposição a variações de demanda externa. Em paralelo, a gestão de contratos de compra de gado e a priorização de linhas com melhor rentabilidade têm sido determinantes para navegar um ciclo apertado de matéria-prima. O objetivo é preservar margens e capilaridade comercial até que a oferta de animais apresente recomposição mais robusta.
BRF: desempenho em aves e suínos reforça o consolidado
Os produtos de aves e suínos responderam por 40% da receita consolidada, com a BRF reportando receita líquida de R$ 15,4 bilhões no 2T25. O EBITDA ajustado atingiu R$ 2,5 bilhões, com margem de 16,4%. A performance foi atribuída à continuidade da eficiência operacional e ao foco em geração de valor via portfólio e gestão de canais. Em ciclos de grãos mais acomodados e com ajustes finos de precificação, a operação de alimentos processados tende a contribuir de maneira relevante para a estabilidade do resultado consolidado.
A presença de marcas reconhecidas e a diversificação geográfica em aves e suínos adicionam previsibilidade ao negócio, compensando oscilações típicas do ciclo de bovinos. Ao mesmo tempo, melhorias de produtividade na cadeia, do campo à indústria, e iniciativas de redução de desperdício ajudam a sustentar margens. O conjunto desses fatores explica a maior resiliência de resultados em linhas de produtos com alto giro no varejo e no food service, especialmente em períodos de volatilidade externa.
- Receita BRF (2T25): R$ 15,4 bilhões
- EBITDA ajustado: R$ 2,5 bilhões (margem 16,4%)
- Contribuição de aves e suínos na receita consolidada: 40%
Fluxo de caixa, alavancagem e perfil financeiro
A geração de caixa operacional de R$ 3,0 bilhões, combinada a capital de giro sob controle, permitiu registrar fluxo de caixa livre recorrente positivo de R$ 272 milhões no trimestre. O desempenho de caixa apoia o cronograma de investimentos e a agenda de desalavancagem, refletida na razão dívida líquida/EBITDA de 2,7x, inferior aos 3,38x apurados no 2T24. Em companhias intensivas em capital, manter o equilíbrio entre capex, gestão de estoques e prazos de recebimento/pagamento é central para sustentar a solidez financeira ao longo do ano.
Com o avanço da geração operacional e o ganho de margem nas frentes mais rentáveis, a estrutura de capital tende a ficar mais eficiente. A prioridade na alocação de capital transparece na expansão de plantas com alto retorno esperado e na seletividade para projetos de modernização. Ao reduzir a alavancagem e melhorar a qualidade do fluxo de caixa, a empresa aumenta a flexibilidade para ciclos de mercado distintos, sem abrir mão da atratividade do portfólio de marcas e da execução industrial.
Capacidade industrial e projetos: o papel de Promissão (SP) e Várzea Grande (MT)
A inauguração do complexo de Promissão (SP), em junho, após investimento de R$ 548 milhões, é um marco na estratégia de ampliar a capacidade de abate, desossa e industrialização com foco em linhas de maior valor agregado. A planta foi concebida para concentrar produção e otimizar logística, reduzindo custos por ganho de escala e ampliando velocidade de atendimento aos canais de varejo e food service. Em paralelo, o avanço de projetos em Várzea Grande (MT) fortalece a rede fabril na América do Sul, com reflexo no abastecimento de mercados domésticos e externos.
Ao combinar novas linhas com modernização de processos, o parque industrial ganha flexibilidade para alternar mix de cortes e produtos processados conforme a demanda. Isso inclui ajustes de turnos, integração de sistemas de qualidade e automação em etapas de maior repetição. O objetivo é elevar produtividade, reduzir perdas e padronizar especificações, características que se traduzem em margens mais previsíveis. Em ambientes de oscilação cambial e de preços de insumos, a eficiência de fábrica costuma ser determinante para preservar competitividade.
Comercialização: canais, câmbio e mix de produtos
A estratégia comercial equilibra contratos de longo prazo com clientes âncora e vendas spot para capturar oportunidades táticas. Na América do Sul, o peso do mercado doméstico em volume (66%) ajuda a garantir giro contínuo e previsibilidade de produção. Nas exportações, a seleção de cortes e a gestão de destinos com maior valor por tonelada sustentam a participação de 55% da receita regional. Em cenários de variação cambial, pedidos internacionais também funcionam como hedge natural, compensando eventuais pressões de custos locais.
Na América do Norte, o foco permanece no mercado interno, que absorveu 88% do volume no trimestre. A calibragem de preços ao consumidor, aliada ao relacionamento com grandes redes varejistas e distribuidores, tende a suavizar ciclos de oferta de gado. Em produtos processados e de marca, a precificação por valor agregado permite repassar parte das pressões de custos e sustentar ocupação de plantas. O equilíbrio entre cortes in natura e itens industrializados é, portanto, peça-chave para proteger margens consolidadas.
Qualidade, rastreabilidade e conformidade na cadeia de fornecimento
O trimestre registrou manutenção de controles de origem com 100% de monitoramento de fornecedores diretos por satélite. Em fornecedores indiretos, os índices de controle chegaram a 89,3% na Amazônia e 86,9% no Cerrado. A ampliação de rastreabilidade e checagem de conformidade em toda a cadeia de fornecimento é tratada como prioridade operacional, com uso de mapas, bases de dados e sistemas internos para avaliar risco, cruzar informações e bloquear cadastros que não atendam aos critérios da companhia. O objetivo é assegurar padrão de origem e integridade no relacionamento com produtores e parceiros.
A adesão a protocolos de monitoramento tem efeito direto sobre previsibilidade de oferta e planejamento logístico. Ao reduzir assimetrias de informação na compra de gado e reforçar a checagem de requisitos, a empresa diminui incertezas e melhora a qualidade do suprimento no médio prazo. Essas práticas também permitem respostas mais rápidas a auditorias e exigências contratuais, criando um ciclo de melhoria contínua que beneficia operações, clientes e mercados em que a companhia atua.
Custos, produtividade e ganhos de eficiência por linha de produção
Os ganhos de produtividade observados no trimestre derivam da combinação de três fatores: ocupação mais alta das plantas, melhor aproveitamento de carcaça e evolução de processos em unidades de desossa e industrializados. Em ambientes de capacidade ampliada, a diluição de custos fixos favorece margens, especialmente quando o mix privilegia itens de maior valor por quilo. A medição contínua de tempos e movimentos, somada à automação de etapas repetitivas, reduz perdas e melhora a padronização de cortes, contribuindo para estabilidade de qualidade e para o atendimento às especificações de clientes nacionais e internacionais.
No front de compras, a disciplina em contratos de longo prazo e o uso de indicadores de eficiência alimentam a inteligência de preços. A coordenação entre originação, planejamento de produção e logística evita gargalos e aumenta o rendimento por lote processado. Na maré de custos de insumos, inspecionar índices de quebra, retrabalho e desperdício ajuda a liberar margem que, somada ao ganho de escala, compõe o resultado de EBITDA observado. Esses fatores explicam por que a margem consolidada de 8% no 2T25 conviveu com níveis de rentabilidade superiores na América do Sul e pressão residual na América do Norte.
Demandas por canais: varejo, food service e indústria
O mix de clientes permaneceu equilibrado entre varejo, food service e indústria, com cada canal operando lógicas de preço e volumes específicos. No varejo, a elasticidade de demanda exige cuidados na precificação e na gestão de promoções, com estratégia de sortimento por região. No food service, a previsibilidade de pedidos e a fidelização por padrão de corte e entrega pesam mais do que o preço absoluto. Já na indústria, contratos de fornecimento para processados e ingredientes de proteína tendem a depender de especificações técnicas rígidas e prazos firmes, o que melhora o planejamento fabril.
A leitura desses comportamentos orienta decisões de produção, como priorizar linhas de maior giro em semanas de demanda aquecida ou ajustar o mix para produtos premium em janelas de preço mais favoráveis. A operação sul-americana se beneficia da proximidade com o consumidor final, enquanto a norte-americana encontra no mercado doméstico um absorvedor robusto de volumes, sobretudo em períodos de restrição de oferta. Em ambos os casos, a sinergia com a plataforma de aves e suínos amplia a capacidade de atender redes multiformato com pacotes completos de produtos.
Câmbio e precificação: como a taxa de moeda impacta o resultado
A exposição cambial influencia receitas de exportação, custos de insumos e a competitividade dos produtos brasileiros e norte-americanos. Em períodos de depreciação do real, embarques sul-americanos ganham atratividade no preço em dólar, o que pode ampliar pedidos e melhorar margens quando há capacidade disponível. Já em apreciação do real, o foco se volta a reforçar o mercado interno e a buscar contratos com repasse de custo melhor estipulado. A gestão dessa equação envolve a calibração de mix, revisão de prazos de pagamento e, quando aplicável, instrumentos financeiros para suavizar picos de volatilidade.
Na América do Norte, a precificação em dólar facilita comparações de rentabilidade entre canais, mas a restrição de oferta de gado tem peso superior à taxa de câmbio na formação de margem do 2T25. Ainda assim, variações de moedas de mercados importadores podem afetar decisões de compra e estoques de clientes, refletindo em pedidos futuros. A sinergia entre áreas de vendas, planejamento e finanças, com troca rápida de sinais de demanda, é essencial para manter a ocupação das plantas e a estabilidade de preços ao longo do trimestre.
Governança operacional e dados: o uso de métricas na tomada de decisão
As métricas divulgadas no trimestre permitem acompanhar a efetividade das frentes operacionais. Receita por região, margem por operação, volume por canal, indicadores de ocupação e resultados de caixa compõem um painel que orienta decisões diárias. Na prática, gestores de planta e das áreas de vendas conseguem alinhar planos de produção ao comportamento de pedidos, minimizando sobras, perdas e fretes não planejados. Esse nível de coordenação reduz as chances de subutilização de linhas e melhora a previsibilidade de resultados, que se traduzem em margens mais estáveis ao longo do ano.
No 2T25, a leitura integrada dos dados deu suporte à expansão da capacidade no Brasil e à manutenção da disciplina nos Estados Unidos. Ao elevar a disponibilidade de linhas de maior retorno e ajustar turnos onde a restrição de gado é mais intensa, a companhia atua nos pontos que mais influenciam o EBITDA. Esse processo se retroalimenta: quando há melhora de margem, surgem novas oportunidades de investimento em automação, manutenção e treinamento, que por sua vez elevam a produtividade e preparam o ambiente para ciclos seguintes.
Pontos de atenção para o restante de 2025
Com base no desempenho de abril a junho, alguns vetores devem permanecer no radar do mercado ao longo do segundo semestre. Na América do Sul, a ocupação do parque industrial e a execução dos projetos de Promissão e Várzea Grande têm potencial de sustentar crescimento de volume, desde que o balanço entre demanda doméstica e pedidos externos continue favorável. O comportamento de preços de cortes premium e industrializados, tanto no Brasil quanto em destinos relevantes, seguirá como um dos determinantes para a margem da região. A manutenção da disciplina comercial no varejo e no food service também será decisiva para preservar rentabilidade.
Na América do Norte, a disponibilidade de gado segue como o principal fator de atenção. O desempenho do 2T25 mostrou que, mesmo com pressão de matéria-prima, a operação preservou escala com 468 mil toneladas vendidas e manteve o foco no mercado doméstico, que respondeu por 88% do volume. A evolução dos spreads de processamento, a normalização gradual da oferta e a eficiência fabril serão componentes críticos para o comportamento da margem. Em paralelo, a geração de caixa e o nível de alavancagem continuarão no centro das discussões sobre estrutura de capital e capacidade de investimento.
Leitura final: onde os números mais avançaram
O segundo trimestre de 2025 foi marcado por crescimento da receita consolidada e por sustentação do lucro, mesmo com ambientes distintos nas duas Américas. A América do Sul respondeu com aumento de capacidade, ganho de volume e margens superiores; a América do Norte atravessou o ciclo de oferta com disciplina e priorização do mercado doméstico. A plataforma de aves e suínos, por sua vez, manteve desempenho robusto, contribuindo com R$ 15,4 bilhões em receita e margem de 16,4% de EBITDA ajustado. No caixa, o avanço operacional e a disciplina de capital reduziram a alavancagem, abrindo espaço para seguir investindo em projetos de maior retorno.
Em síntese, os dados de abril a junho mostram uma empresa com direção clara: concentrar produção em linhas com marca e maior valor agregado, proteger a ocupação de plantas, manter rastreabilidade de fornecedores e preservar a saúde financeira. A continuidade desses pilares tende a ser determinante para a trajetória dos próximos trimestres, num setor em que a agilidade para ajustar mix e rotas é tão relevante quanto a capacidade produtiva instalada.