O Rio Grande do Sul inaugurou a primeira planta de produção de biometano do estado, a Biometano Sul, instalada na unidade da CRVR em Minas do Leão. O empreendimento, de R$ 150 milhões, foi lançado por Arpoador Energia e Grupo Solví e tem capacidade de 66 mil m³ por dia, o que corresponde a cerca de 12,5 mil botijões de gás por dia. Todo o volume inicial já foi contratado pela Ultragaz para atendimento do mercado industrial gaúcho. A matéria-prima é o biogás captado no aterro da CRVR, que recebe resíduos de 85 municípios.
A cerimônia reuniu o governador Eduardo Leite, secretários estaduais, técnicos da FEPAM e executivos das empresas. A direção da Biometano Sul afirmou que uma segunda unidade, em São Leopoldo, está em obras e deve acrescentar mais 34 mil m³ diários quando entrar em operação. Com as duas plantas, os aportes somam R$ 230 milhões e ampliam a oferta de combustível gasoso produzido a partir de resíduos urbanos no estado.
O que foi inaugurado, onde fica e quem está por trás
A Biometano Sul é uma unidade de purificação e compressão de gás instalada dentro da área da CRVR, em Minas do Leão, na região Carbonífera. O site abriga o maior aterro do estado em volume recebido por dia. A planta captura o biogás gerado no interior das células de disposição, remove impurezas e concentra o metano até padrões equivalentes aos do gás natural. A operação foi implantada pela Arpoador Energia em parceria com o Grupo Solví, controlador da CRVR no Rio Grande do Sul, com foco em suprir clientes industriais e comerciais.
O evento de lançamento ocorreu em uma segunda-feira (15) e contou com autoridades estaduais, entre elas o governador Eduardo Leite, além de representantes de órgãos públicos e das empresas envolvidas. Nas falas, o governo destacou a política estadual para o setor de biogás, construída nos últimos anos, e o potencial do estado para encadear projetos semelhantes em diferentes regiões. A presença de reguladores e equipes técnicas indicou que o empreendimento cumpriu etapas de licenciamento, de comissionamento e de testes de performance antes da abertura oficial.
Capacidade, números principais e o que muda no abastecimento
Com 66 mil m³ diários, a planta consegue atender uma base relevante de consumidores industriais que utilizam gás para geração térmica, aquecimento de caldeiras, secagem, fornos ou como insumo de processo. Em termos energéticos, esse volume representa centenas de megawatts-hora por dia, dependendo do poder calorífico do produto final. O comparativo com botijões ajuda a dimensionar a escala: são aproximadamente 12,5 mil unidades equivalentes por dia. No planejamento, o fornecimento é contínuo, com turnos de operação e manutenção programados para não interromper o despacho de gás ao longo da semana.
A segunda planta, em construção em São Leopoldo, terá capacidade adicional de 34 mil m³ por dia. Somadas, as duas unidades passam de 100 mil m³/dia. Na prática, esse patamar cria um polo de suprimento regional, permitindo contratos com prazos mais longos, escalas de produção estáveis e diluição de custos logísticos. Em momentos de maior demanda sazonal, a operação combinada também amplia a segurança de entrega ao cliente final, diversificando a origem do gás dentro do próprio estado.
Investimento, financiamento e incentivos tributários aplicados ao projeto
O investimento total divulgado para a planta de Minas do Leão é de R$ 150 milhões. A estrutura financeira mobilizou recursos do Fundo Clima, do BNDES, instrumento voltado a projetos que reduzam emissões e apoiem a transição para matrizes de menor intensidade de carbono. Além disso, o empreendimento acessou programas estaduais como o Fundopem RS e o Integrar RS. Esses mecanismos costumam aliviar o custo de capital e o fluxo de caixa durante a implantação, por meio de benefícios vinculados a investimento produtivo, geração de renda e compras de equipamentos.
Entre as medidas tributárias citadas pela empresa, estão o abatimento de encargos financeiros e renúncias específicas de ICMS. Dois pontos chamam atenção: a isenção na importação de equipamentos e a dispensa do DIFAL para itens nacionais adquiridos fora do Rio Grande do Sul. Na prática, isso reduz o preço de máquinas e sistemas essenciais do processo — como skids de tratamento de gás, compressores, vasos de pressão, módulos de membranas, unidades PSA e instrumentação — e acelera o cronograma de implantação. A política de incentivos estaduais tem priorizado projetos com encadeamento local de fornecedores e potencial de expansão para outros polos do estado.
De onde vem o gás: perfil do aterro da CRVR e oferta de matéria-prima
O biogás que alimenta a Biometano Sul é gerado pela decomposição de resíduos orgânicos dispostos em células controladas do aterro da CRVR. O sítio recebe cargas de 85 municípios, incluindo a Região Metropolitana de Porto Alegre, o que garante um fluxo contínuo de resíduos e, portanto, uma produção estável de gás ao longo do ano. Sistemas de drenagem coletam o gás por meio de poços e tubulações perfuradas em diferentes profundidades. O gás cru, com metano, dióxido de carbono, umidade e traços de compostos de enxofre, segue para a unidade de tratamento.
A constância da oferta depende de três fatores: volume diário de resíduos recebidos, idade das células e eficiência da coleta. Células mais antigas mantêm geração relevante por anos, enquanto as novas começam a produzir de forma gradual. Ao integrar os dois estágios, o operador mitiga oscilações. O desenho do campo de poços é revisado periodicamente, com medições de vazão, pressão e composição para reequilibrar válvulas e evitar entrada de ar. Essa malha de captação é o coração do suprimento e influencia diretamente a eficiência das etapas seguintes de purificação.
Como o biogás vira biometano: etapas técnicas do processo de upgrading
O caminho do biogás até o biometano envolve uma sequência de tratamentos. Primeiro, ocorre a remoção de umidade por resfriamento e condensação, seguida de filtragem de particulados. Em paralelo, o sistema reduz compostos de enxofre — sobretudo sulfeto de hidrogênio — por adsorção em leitos específicos ou por processos de oxidação. Essa etapa protege equipamentos metálicos, válvulas e compressores, além de garantir que os limites de corrosivos no produto final fiquem dentro de especificações técnicas usuais para uso industrial e para injeção em redes de gás canalizado, quando aplicável.
Em seguida, o dióxido de carbono é separado para elevar o teor de metano. As tecnologias mais comuns são membranas poliméricas e PSA (Pressure Swing Adsorption). Em membranas, diferenças de permeabilidade separam CO₂ e metano em estágios, com recuperação ajustada por pressão e reciclos. No PSA, leitos adsorventes retêm CO₂ sob alta pressão e o liberam na despressurização. Em ambos, a meta é obter um gás com percentual de metano comparável ao do gás natural comercial, com controle de hidrocarbonetos pesados, oxigênio e limites de água por ponto de orvalho. O produto, então, é comprimido e acondicionado para despacho.
Padrões de qualidade, medição e rastreabilidade do produto entregue
A comercialização exige que o biometano atenda a especificações de composição, poder calorífico e contaminantes. Em geral, o metano precisa ficar em faixa elevada, com limites baixos para H₂S e mercaptanos, além de umidade controlada. Há exigências sobre estabilidade de pressão, odorantização quando necessário e compatibilidade com materiais das redes e equipamentos dos consumidores. A planta opera com instrumentação analítica on-line para monitorar composição e umidade, além de cromatografia periódica em laboratório para reforço metrológico. Medidores de vazão mássica e volumétrica registram o despacho por hora e por dia.
A rastreabilidade é feita por lotes de entrega, identificando data, hora, volume, destino e eventuais desvios operacionais. Casos de manutenção planejada são comunicados com antecedência, com flexibilização contratual para reprogramar janelas de entrega. Em eventuais eventos não programados, entram em ação protocolos de redundância — como unidades de secagem paralelas e linhas de bypass — para reduzir a chance de interrupção. O foco é garantir previsibilidade ao cliente e comprovar que o gás atende ao padrão contratado ao longo de todo o ciclo de fornecimento.
Distribuição e logística: do aterro ao cliente, com a Ultragaz como âncora
Todo o volume inicial da Biometano Sul foi vendido para a Ultragaz, com foco no mercado industrial gaúcho. A entrega pode ocorrer em duas modalidades: por dutos locais, quando existentes e compatíveis, ou por “gasoduto virtual”, com o produto comprimido em cilindros e transportado por carretas. A escolha depende da distância, do perfil de consumo e da infraestrutura do cliente. Em plantas com demanda constante, carretas-tanque estacionárias com troca programada de módulos reduzem tempo de parada e elevam a confiabilidade do suprimento, enquanto dutos permanentes tendem a ser viáveis em trajetos curtos e com alto fator de utilização.
Para clientes novos, a adaptação costuma envolver reguladores, medição dedicada e eventuais ajustes em queimadores e caldeiras, sobretudo quando há mudança de especificação de gás. A Ultragaz atua como integradora comercial e logística, atendendo múltiplos pontos de consumo e consolidando rotas. No horizonte, a proximidade com polos industriais do Vale do Sinos e da Região Metropolitana facilita a expansão da carteira, já que o tempo de trânsito das carretas é menor e o giro de módulos se torna mais eficiente. O planejamento de rotas também considera variações de demanda por turno e por dia da semana.
Segunda unidade em São Leopoldo: estágio das obras e mercado-alvo
A Solví iniciou a construção de uma nova unidade de biometano em São Leopoldo, no Vale do Sinos. A capacidade projetada é de 34 mil m³ diários, com investimentos superiores a R$ 100 milhões. A região reúne indústrias de couro, calçados, metalmecânico, químico e alimentos, segmentos com uso intensivo de vapor, aquecimento e secagem. O suprimento local de gás de origem renovável ajuda a diversificar fontes e pode aliviar restrições de abastecimento em horários de pico. O projeto também aproveita a proximidade com pequenas e médias empresas que acessam contratos mais flexíveis, com volumes moduláveis por temporada.
O cronograma prevê comissionamento em etapas, repetindo a sequência de testes de estanqueidade, calibração de instrumentos, validação de qualidade do gás e operação assistida. A entrada em produção será gradual, com ramp-up até o patamar de projeto. Em termos comerciais, a estratégia tende a replicar a experiência de Minas do Leão: firmar contrato-âncora para garantir demanda de base e, em seguida, expandir para uma carteira pulverizada de clientes, com diferentes perfis de consumo e exigências técnicas. O desenho final depende do mix industrial da região e da disponibilidade de infraestrutura de conexão.
O que muda para a indústria: aplicações típicas e ajustes necessários
Para o setor industrial, o biometano funciona de forma similar ao gás natural quanto ao uso em caldeiras, fornos, secadores e aquecedores. As empresas podem migrar de óleo combustível, GLP ou GN, conforme o caso, avaliando custo por unidade de energia, disponibilidade de fornecimento e requisitos de queima. Em muitos casos, a conversão demanda apenas ajuste de bicos injetores, troca de reguladores e revisão de parâmetros de combustão. O retorno financeiro depende de preço, fator de utilização e economia operacional associada a manutenção e limpeza dos equipamentos.
Além do uso térmico, há aplicações em cogeração, geração elétrica de ponta e até como matéria-prima em rotas químicas específicas. Empresas com metas de redução de emissões podem registrar o uso de biometano em inventários corporativos, desde que adotem metodologias de mensuração aceitas e mantenham documentação de origem do combustível. Projetos com consumo contínuo e previsível costumam capturar melhores condições comerciais, ao garantir maior fator de carga para a unidade produtora e menor custo logístico por metro cúbico entregue.
Preço, contratos e como se dá a formação de valor para o cliente
Os contratos de suprimento de biometano costumam seguir modelos de médio e longo prazo, com cláusulas de volume, indexação e flexibilidade. É comum haver faixas de consumo mínimo e máximo, com preços escalonados conforme o volume efetivo. A formação de valor considera custos de produção, compressão, logística e eventuais taxas de conexão. Em dutos dedicados, o investimento inicial pesa mais e tende a ser amortizado ao longo do contrato; no gasoduto virtual, o frete e a gestão de cilindros respondem por parcela relevante do custo mensal. O equilíbrio financeiro passa pela otimização das rotas e pela estabilidade do despacho.
Para novos entrantes, uma prática comum é iniciar com contratos menores ou pilotos operacionais, testando desempenho em campo e ajustando a curva de consumo. Empresas com produção sazonal podem negociar flexibilidade de entrega, incluindo janelas com volumes maiores em determinados meses. Outra frente é a combinação com outras fontes, como GLP, mantendo redundância. Do lado da produtora, a previsibilidade de demanda reduz paradas e melhora a eficiência do processo, o que, em cadeia, pode se refletir em condições comerciais mais favoráveis.
Operação e segurança: controles, redundâncias e protocolos de campo
Plantas de biometano operam com sistemas de supervisão e controle distribuído (SCADA), que monitoram pressões, temperaturas, vazões e composição em tempo real. Alarmes de alta e baixa são definidos por etapa, acionando rotas de alívio e bloqueios automáticos quando necessário. Áreas classificadas exigem equipamentos elétricos em conformidade e rotinas de inspeção com detecção de gás. Equipes treinadas realizam manutenções preventivas em compressores, trocadores, skids de filtração e válvulas de segurança, seguindo planos definidos por horas de operação e por condição do equipamento.
Na logística, carretas e módulos de cilindros passam por inspeções periódicas de integridade, testes hidrostáticos e verificação de válvulas. Procedimentos de acoplamento e desacoplamento são executados com listas de verificação, e áreas de carga possuem sinalização e barreiras físicas. Em eventuais desvios de qualidade — por exemplo, aumento de umidade — a planta pode redirecionar o fluxo para tratamento adicional ou reduzir a vazão para recuperar o padrão. A integridade da malha de captação do aterro também é acompanhada, com monitoramento de vácuo e de composição para evitar entrada de ar e mitigar riscos de inflamabilidade fora de faixa.
Cronograma de implantação: do comissionamento à operação comercial contínua
Antes da inauguração, a unidade passa por comissionamento mecânico, elétrico e de instrumentação. Nessa fase, são testados válvulas, intertravamentos, calibração de sensores e comunicação com o sistema de supervisão. Em seguida, vem a etapa de comissionamento com gás, que verifica desempenho de cada módulo — secagem, dessulfurização, separação de CO₂, compressão — em diferentes condições de carga. A partir daí, iniciam-se os testes de aceitação, nos quais amostras são analisadas para confirmação do padrão especificado ao cliente e para validar curvas de desempenho dos equipamentos.
Com os testes concluídos, a operação entra em regime comercial. O período inicial prevê acompanhamento intensivo, com equipes de engenharia e manutenção em campo, ajustes de controle fino e coleta de dados para otimização. As rotas logísticas são refinadas com base no consumo real, e os contratos podem passar por aditivos para refletir volumes estabilizados. A planta de São Leopoldo deve repetir esse roteiro, encurtando prazos graças ao aprendizado acumulado em Minas do Leão. A replicabilidade do processo reduz riscos e permite padronização de componentes e de procedimentos operacionais.
Comparativo técnico com outras fontes de energia usadas na indústria
No uso térmico, o biometano tem comportamento semelhante ao gás natural quanto à regulagem de chama, controle de temperatura e estabilidade de combustão. Em comparação a óleo combustível, a automação é mais simples, a partida é rápida e a limpeza de equipamentos tende a ser menos frequente, o que reduz paradas. Em relação ao GLP, a decisão passa por preço relativo por unidade de energia e pela conveniência logística. Já frente ao diesel em geradores, pode haver vantagem em custos de operação contínua, enquanto em picos curtos o diesel mantém flexibilidade por ser estocável no próprio site do cliente.
Para processos que demandam chama de alta intensidade e controle fino, como fornos cerâmicos ou metalúrgicos, válvulas modulantes e medidores de massa ajudam a estabilizar o processo. Em caldeiras, a troca por biometano costuma exigir revisão de bicos de queima e, quando aplicável, novo ajuste de excesso de ar. Trocadores de calor e recuperadores de energia continuam válidos e, muitas vezes, ganham eficiência com gás limpo e parametrizado. Em linhas com necessidade de rastreabilidade de emissões, a origem renovável do metano é registrada por documentação do fornecedor e por medição de consumo na planta do cliente.
O papel do Estado: políticas públicas e coordenação entre órgãos
A inauguração de Minas do Leão foi apresentada pelo governo estadual como parte de uma agenda voltada à expansão do aproveitamento de biogás. Programas como Fundopem RS e Integrar RS atuam na fase de investimento, enquanto órgãos como a FEPAM e as secretarias setoriais coordenam etapas de licenciamento, monitoramento e fiscalização. A presença de autoridades na cerimônia sinaliza continuidade dessa agenda, com prioridade a projetos que agreguem demanda industrial e escala logística. O objetivo é transformar o potencial técnico do setor em fornecimento regular e competitivo para empresas de diferentes perfis.
A parceria com o BNDES, via Fundo Clima, adiciona uma camada financeira importante, ao oferecer linhas com prazos e custos compatíveis com a maturação de projetos de infraestrutura energética. Essa combinação de crédito e incentivos tributários costuma encurtar payback e reduzir o risco percebido por investidores e fornecedores. No médio prazo, um pipeline de projetos mais previsível tende a estimular a indústria local de equipamentos e serviços, criando massa crítica para novas implantações e atualizações tecnológicas.
Perguntas frequentes do leitor: o que saber antes de contratar biometano
Empresas interessadas em migrar para biometano costumam perguntar se haverá necessidade de trocar equipamentos. Em muitos casos, não. Ajustes em queimadores, reguladores e controle de ar são suficientes para estabilizar a queima. Outra dúvida recorrente é sobre continuidade de fornecimento: plantas como a de Minas do Leão operam em regime contínuo e utilizam redundâncias para manter a produção, com rotas logísticas que contemplam variações de demanda e planos de contingência. A documentação técnica do fornecedor descreve limites de operação, parâmetros de qualidade e procedimentos de recebimento no cliente.
Há também perguntas sobre mensuração de emissões. Inventários corporativos costumam aceitar a declaração de uso de biometano quando há comprovação de origem e medição certificada do consumo. Para contratos, a formação de preço inclui o custo energético e a logística; indexadores podem variar conforme a relação com outros energéticos usados pelo cliente. Empresas com operação em várias cidades podem combinar dutos locais e gasoduto virtual, de acordo com a viabilidade técnica de cada site. Em todos os casos, a recomendação é iniciar com diagnóstico energético e estudo de engenharia para projetar consumo, investimentos e ganhos operacionais.
- Quem pode usar? Indústrias, comércio, frotas de veículos a gás e condomínios com infraestrutura adequada.
- Que adaptações são comuns? Ajuste de queimadores, reguladores e sistemas de medição; adequação de áreas de recebimento.
- Como é entregue? Por duto local, quando disponível, ou por carretas com módulos de cilindros (gasoduto virtual).
- Quais documentos são necessários? Contrato de fornecimento, laudos de qualidade do gás e procedimentos de segurança.
Efeitos na economia local: serviços, empregos e cadeia de fornecedores
Projetos desse tipo movimentam uma cadeia longa de fornecedores. Ficam envolvidos fabricantes de compressores, skids de tratamento, válvulas, instrumentação, além de empresas de engenharia, logística e manutenção. A fase de obras contrata construção civil, terraplenagem, montagem eletromecânica e automação. Na operação, há demanda contínua por técnicos de instrumentação, operadores de utilidades, mecânicos e eletricistas. O entorno tende a ganhar serviços de apoio como locação de equipamentos, inspeções e ensaios, transporte e gestão de resíduos operacionais.
Cidades próximas também se beneficiam da presença de uma base de clientes industriais atendidos por gás, seja para expansão de linhas produtivas, seja para atração de novos empreendimentos que demandem calor de processo. A convivência com outras fontes energéticas permanece, mas a disponibilidade de mais uma rota de suprimento dá flexibilidade a gestores industriais. Para governos locais, a arrecadação ligada à atividade e a contratação de serviços regionais compõem um efeito indireto relevante ao longo do ciclo de vida do projeto.
Passo a passo para uma indústria avaliar a migração para biometano
O primeiro passo é mapear o perfil de consumo atual: energético usado, curva horária, picos, paradas e custo por unidade de energia. Em seguida, a engenharia avalia a adequação de caldeiras, fornos e linhas de gás. Na etapa de projeto, define-se o ponto de recebimento, com medição, regulagem e válvulas de bloqueio. É importante estabelecer procedimentos de segurança, treinamento de operadores e plano de manutenção preventiva. Com isso em mãos, a empresa coteja propostas de fornecimento, comparando preço, prazo, flexibilidade e logística oferecida.
Na implantação, pequenas obras civis e de tubulação são realizadas, seguidas de comissionamento e testes com o fornecedor. A fase-piloto serve para ajustar a operação, registrar indicadores de consumo e validar metas internas de custo e desempenho. Ao final do período de testes, o contrato entra em regime comercial, com medições validadas e rotina de acompanhamento mensal. Esse processo, já consolidado em outros polos do país, ganha versão local com as plantas de Minas do Leão e São Leopoldo, facilitando visitas técnicas e a troca de experiências entre equipes de operação.
Termos e conceitos essenciais para entender o projeto
Biogás: mistura gasosa gerada pela decomposição de matéria orgânica em condições controladas dentro das células do aterro. Contém metano, dióxido de carbono, vapor d’água e traços de compostos como sulfeto de hidrogênio. Biometano: produto resultante do processamento que eleva o teor de metano e reduz contaminantes a níveis compatíveis com uso industrial e, quando aplicável, injeção em rede. Upgrading: conjunto de tecnologias que separam CO₂ do metano, por membranas ou PSA, entre outras rotas, para obter um gás com poder calorífico adequado.
Gasoduto virtual: logística em que o gás é comprimido e armazenado em módulos de cilindros transportados por carretas, permitindo abastecer clientes sem rede canalizada. Poder calorífico superior (PCS): quantidade de energia liberada pela combustão completa do gás, parâmetro usado para comparar combustíveis. Ponto de orvalho: indicador da quantidade de água no gás; quanto mais baixo, menor a chance de condensação nas linhas. Dessulfurização: etapa que reduz compostos de enxofre para proteger equipamentos e atender especificações de qualidade.
O que observar nos próximos meses: marcos operacionais e expansão comercial
Com a unidade de Minas do Leão em operação, os próximos marcos incluem a estabilização do fator de carga, a otimização de rotas de entrega e a ampliação gradual da base de clientes atendidos pela Ultragaz. A empresa tende a ajustar a malha de captação do aterro, abrindo novos poços conforme a evolução das células, para manter a vazão e a qualidade de entrada do biogás. Em paralelo, indicadores como disponibilidade de planta, taxa de recuperação de metano e eficiência energética do processo serão acompanhados para orientar manutenções e investimentos complementares.
No canteiro de São Leopoldo, a atenção se volta ao avanço das obras civis, chegada de equipamentos críticos — como compressores e módulos de membranas — e início do comissionamento. Em termos comerciais, a equipe deve fechar contratos-âncora e portfólio complementar com indústrias do Vale do Sinos e adjacências. A entrada dessa segunda planta adicionará redundância regional e poderá permitir ofertas integradas, com maior flexibilidade de volumes sazonais. Para o leitor, vale acompanhar anúncios de novos clientes e de metas de produção mês a mês, que indicam maturidade da operação e consolidação do mercado local.