A Ad’oro Alimentos projeta ampliar receita em 60% até 2028 e alcançar R$ 4 bilhões, apoiada por um ciclo de modernização industrial e aumento de capacidade ao longo da cadeia. Para 2025, a empresa estima faturamento de R$ 2,5 bilhões, produção total de 310 mil toneladas de carne de frango abatida — com predominância de cortes — e a continuidade de um plano que combina tecnologia, portfólio de maior valor agregado e expansão logística. O movimento inclui fábrica modernizada em São Carlos (SP), reforço no fomento integrado, mais armazenamento de grãos e crescimento na incubação de ovos.
Segundo o diretor industrial Marcio Lutfalla, a companhia mira escala com padronização e eficiência. O abate deve avançar de 95 milhões de aves em 2025 para 145 milhões em 2028, impulsionando o volume diário para 540 mil aves ao fim do período. Paralelamente, segue firme a estratégia de aumentar o peso dos produtos de maior valor, como desossados, fatiados, porcionados, marinados e temperados. No mercado, 90% da produção permanece destinada ao Brasil, com foco no estado de São Paulo, enquanto as exportações — hoje 10% do total — incluem destinos na América do Sul, África, Ásia e Europa.
Crescimento de 60% até 2028: o que está no plano
O plano de expansão da Ad’oro até 2028 combina aumento de escala com modernização de processos. A meta de receita de R$ 4 bilhões parte de uma base estimada de R$ 2,5 bilhões em 2025 e é sustentada por três frentes: elevação da capacidade de abate, ganho de produtividade por modernização de linhas e maior participação de itens de valor agregado no mix. O salto de 95 milhões de aves abatidas em 2025 para 145 milhões em 2028 indica crescimento médio anual próximo de 15% no período. A empresa trabalha com rigidez de padrão em cortes e com linhas calibradas para manter rendimento, peso e especificações comerciais em alto nível.
No curto e médio prazo, a fábrica de São Carlos (SP) assume papel central. Adquirida em 2023, a unidade passa por modernização completa e deverá atingir 270 mil aves/dia até 2028, mais que o dobro da capacidade atual. O desenho do plano prevê sincronização entre granjas integradas, fábrica de ração, abatedouro, desossa, embalagem e expedição, reduzindo gargalos e equilibrando o fluxo entre recepção de matéria-prima, processamento e distribuição. A empresa também anuncia aumento da incubação e da capacidade de armazenagem de grãos, dois fatores decisivos para assegurar a oferta de insumos e a estabilidade do cronograma de abate.
Produção em 2025 e mudança do mix de produtos
A produção prevista para 2025 é de 310 mil toneladas de carne de frango abatida. Desse total, 95% são cortes e 5% frangos inteiros. A leitura do mix revela a prioridade no atendimento a clientes que demandam padronização e conveniência, tanto no autosserviço e varejo quanto em distribuidores e food service. A tendência é elevar a participação de produtos com maior valor agregado, que incluem desossados, fatiados, porcionados, marinados e temperados. Dentro do volume total, 165 mil toneladas já pertencem a essa categoria, sinalizando que a estratégia não se limita a aumentar toneladas, mas a tornar a cesta de produtos mais rentável por unidade vendida.
A empresa ainda não comercializa produtos processados prontos para consumo em larga escala, mas afirma que desenvolve essa linha. Esse passo costuma exigir novos arranjos produtivos, como cozinhas industriais dedicadas, túneis de resfriamento ou congelamento específicos e padrões de rotulagem distintos, além de controle rigoroso de pesos e porcionamento. Em paralelo, a padronização de cortes e a ampliação das linhas de desossa — de peito e de perna — tendem a ampliar o aproveitamento por carcaça e o rendimento de cortes nobres, melhorando a rentabilidade do lote abatido.
Ritmo de abate e cronograma de expansão até 2028
Os dados divulgados mostram aceleração no ritmo de abate. Em 2023, foram 73 milhões de aves; em 2025, a projeção é chegar a 95 milhões; e, em 2028, a meta é atingir 145 milhões. Convertendo essa evolução para capacidade diária, a Ad’oro pretende operar a 540 mil aves/dia ao final do período. A cadência de crescimento anual médio de 15% exige sincronismo entre granjas, fábrica de ração, logística de transporte de aves vivas e janelas de abate, com escalas definidas por peso vivo, conversão alimentar e padronização de lotes, todos fatores intimamente ligados ao cumprimento de pedidos e contratos com redes e distribuidores.
O cronograma de expansão é amparado por investimentos em 2025 da ordem de R$ 240 milhões, destinados a modernização de equipamentos, ampliação de linhas e reforço de infraestrutura. Na prática, a empresa deve diluir picos de demanda com sistemas de planejamento de produção mais detalhados, definindo a programação diária por SKU, tipo de corte e embalagem. O objetivo é reduzir atrasos em expedição, otimizar uso de câmaras frias e manter níveis de estoque alinhados ao giro por canal, reduzindo reprocesso e paradas de linha. O aumento da capacidade instalada, por sua vez, melhora a flexibilidade para absorver pedidos sazonais e ações promocionais do varejo.
Mercado interno e canais de venda
Hoje, 90% da produção abastece o mercado brasileiro, com foco no estado de São Paulo. Os canais estão distribuídos entre autosserviço (40%), varejo (34%), distribuidores (10%) e food service (6%). A presença forte em autosserviço e varejo exige padronização de cortes, assertividade de planograma, alto nível de OTIF (On Time In Full) e capacidade de girar campanhas com embalagens promocionais sem comprometer a identidade da marca. Já no food service, a previsibilidade de especificações — gramaturas, calibres e porcionamento — é determinante para produtividade de cozinhas, controle de custo de prato e consistência de cardápio.
Para sustentar essa distribuição, a Ad’oro tende a investir em malha de transporte refrigerado, roteirização de entregas por janela e segmentação de pedidos por perfil de cliente. A malha paulista demanda tempos de trânsito curtos e atendimento frequente, sobretudo na Grande São Paulo e cidades do interior com alta densidade comercial. O equilíbrio entre pedidos fracionados e cargas fechadas por rota ajuda a manter nível de serviço nos pequenos e médios pontos de venda, enquanto redes maiores operam com janelas fixas e volumes altamente previsíveis. O avanço do e-commerce alimentar e das compras de reposição rápida também deve influenciar a cadência de expedição em determinadas áreas urbanas.
Exportações e presença internacional
As exportações representam 10% do volume atual, com embarques para Chile, Argentina, África do Sul, Angola, Congo, Coreia, Vietnã e Espanha. O perfil de venda externa, em especial para mercados com diferentes exigências de corte e padronização, requer linhas capazes de alternar especificações com agilidade. Destinos com formatos de consumo distintos — como cortes de perna com ossos específicos, asas em calibres definidos ou porções temperadas — pedem setups rápidos, controle de peso por peça e rastreabilidade até o lote abatido. Em um cenário de expansão, a capacidade de cumprir cronogramas de inspeção, certificações e requisitos documentais é parte do serviço ao cliente internacional.
O avanço no mercado externo costuma abrir espaço para aproveitar cortes menos demandados no Brasil ou para alocar produtos com especificações muito particulares, elevando o aproveitamento total por ave. Aperfeiçoar o mix para cada destino pode elevar a rentabilidade, sobretudo quando há complementaridade entre exigências dos importadores e preferências do consumidor brasileiro. Para manter consistência, a empresa dá prioridade à padronização de processos e à qualidade de acabamento dos produtos embarcados, uma vez que variações de porcionamento, cobertura de tempero e formação de gelo são pontos observados em auditorias de clientes.
Modernização industrial em São Carlos (SP)
A planta de São Carlos, adquirida em 2023, passa por um pacote de modernizações com foco em capacidade e precisão. O objetivo declarado é atingir 270 mil aves/dia até 2028, com linhas mais eficientes de evisceração, cortes e desossa. Esse avanço requer ajustes de layout para reduzir deslocamentos, novas mesas e equipamentos de inspeção, esteiras com controle de velocidade e sistemas de monitoramento por pontos de verificação. A ampliação da desossa de peito e de perna, somada a linhas de peso padrão, busca reduzir variação de gramatura nas bandejas e melhorar o rendimento de cortes comercialmente mais valorizados.
A modernização inclui adoção de IQF (congelamento rápido individual), tecnologia que preserva textura e facilita a separação de unidades congeladas, importante para porcionamento e controle de porções por receita. A aplicação de sistemas de raio X para detecção de ossos e cartilagens adiciona uma camada de verificação automática em pontos críticos, reduzindo retrabalho e trocas. Além de reduzir perdas, esses sistemas ajudam a qualificar o lote conforme padrões de clientes que rejeitam variações de gramatura ou de acabamento. A meta é tangibilizar a padronização na ponta: a bandeja que o consumidor encontra no ponto de venda com o peso prometido, cortes uniformes e acabamento limpo.
Tecnologias de processamento e controle de qualidade
A operação integrada de IQF, sistemas de raio X e linhas de peso padrão exige sincronismo de dados. Pesagens em tempo real permitem ajustar calibradores, reduzindo deriva de peso ao longo do turno. Em paralelo, coletores de dados no chão de fábrica registram índice de ossos residuais por lote, taxa de retrabalho e variação de rendimento por corte. Esses indicadores alimentam planos de ação com foco em pontos de estrangulamento, como etapas de desossa com maior variação de operador para operador. Em cenários de expansão, manter o processo sob controle é tão importante quanto adicionar equipamentos, pois a variabilidade operacional pode consumir ganhos de capacidade.
No acabamento, padrões de corte e afiação de lâminas influenciam diretamente o rendimento e a aparência final do produto. Rotinas estruturadas de troca de facas, calibragem de máquinas e checagem de pesos-chefe minimizam sobras e reduzem o desvio padrão por SKU. O controle de temperatura em túneis de congelamento e câmaras, bem como o tempo de residência por lote, também é determinante para garantir qualidade em itens IQF. Uma operação previsível resulta em menor reprocesso, melhor aproveitamento da matéria-prima e maior aderência às exigências de auditorias de clientes e de órgãos oficiais.
Fomento, ração e armazenagem de grãos
O fomento integra o plano de expansão com metas claras para insumos. A produção de ração deve avançar de 53 mil toneladas por mês em 2025 para 73 mil toneladas por mês em 2027. No mesmo eixo, a capacidade de armazenagem de grãos deve sair de 6 mil para 131 mil toneladas até agosto de 2026. Esse salto em estocagem é estratégico para garantir regularidade no abastecimento da fábrica de ração, reduzir riscos de rupturas e assegurar previsibilidade no custo de insumos ao longo do ano. Em termos operacionais, mais armazenagem aumenta a flexibilidade para programar recebimento de cargas, ocupação de silos e manutenção preventiva.
A fábrica de ração, por sua vez, é um nó crítico de eficiência. Formulações consistentes, moagem com granulometria controlada e mistura uniforme estão diretamente relacionadas à conversão alimentar nas granjas. Em um plano que aumenta o abate para 540 mil aves/dia até 2028, a sincronização entre entrega de ração, idade do lote e programação de abate evita descompasso entre peso vivo e janela ideal de processamento. A elevação da capacidade de armazenagem, somada a maior produção mensal, contribui para um pipeline de insumos mais estável e previsível, com impacto direto na qualidade do plantel e no rendimento industrial.
Incubação de ovos e oferta de pintinhos
A ampliação do volume de incubação acompanha o crescimento do abate. A empresa projeta avançar de 125 milhões de ovos em 2025 para 150 milhões em 2026. Essa evolução supre o pipeline de pintinhos de um dia, garantindo disponibilidade para alojamento em granjas integradas e alinhamento dos lotes às metas de abate por semana. A qualidade na incubação envolve controles de temperatura, umidade e giragem, além de protocolos de seleção no nascimento para assegurar uniformidade de peso e vigor, dois fatores que impactam diretamente o desempenho em campo e, por consequência, a padronização na indústria.
Ao ajustar a oferta de pintinhos ao cronograma de abate, a empresa reduz riscos de sobras ou faltas, que podem pressionar custos logísticos, capacidade de frigorífico e atendimento a pedidos. A previsibilidade do fluxo, do ovo à bandeja, é um diferencial em um cenário de crescimento acelerado. Em termos práticos, a incubação precisa responder a eventuais mudanças de calendário — como janelas de manutenção, ajustes de linha ou campanhas comerciais — sem romper a sequência de lotes e o equilíbrio entre granjas e abatedouro. A integração entre áreas técnicas e planejamento comercial é a chave desse alinhamento.
Investimentos de 2025 e alocação de capital
Para 2025, a companhia projeta investir cerca de R$ 240 milhões, voltados à expansão e modernização do parque industrial. Na prática, esse montante tende a cobrir aquisição de equipamentos de processamento, atualizações de infraestrutura, reforços em armazenagem, ajustes de layout e sistemas de automação e controle. Em um ciclo de crescimento, a alocação de capital prioriza gargalos que limitam rendimento e disponibilidade de linha, como etapas de desossa e calibragem de peso, além de melhorias que reduzam variação entre turnos e elevem a produtividade por colaborador. O retorno esperado combina mais volume e melhor mix, dois vetores que, juntos, ampliam margem.
Outra frente de investimento costuma incluir tecnologia da informação para planejamento e rastreabilidade. Sistemas capazes de integrar dados de granja, fábrica de ração, abate e expedição ajudam a prever impactos de mudanças na programação. Em um ambiente que exige atendimento preciso a redes e exportadores, visibilidade de ponta a ponta contribui para decisões rápidas, como reconfigurar linhas para atender um SKU específico ou ajustar a expedição por janela regional. A combinação de automação na indústria com planejamento avançado reduz o custo por tonelada e sustenta a meta de faturamento projetada para 2028.
Logística, distribuição e padronização de entrega
A distribuição concentra-se em São Paulo, o que exige malha de transporte com alta frequência e controle de temperatura ao longo da rota. A empresa trabalha para manter integridade de embalagem, peso por bandeja e prazo de entrega em conformidade com o pedido original. Em um plano de crescimento, a roteirização ganha complexidade, com necessidade de consolidar cargas por região e de escalonar janelas de recebimento do cliente. Centros de distribuição e câmaras com controle fino de temperatura são elementos que permitem absorver picos de demanda, campanhas sazonais e variações de giro por categoria.
A padronização de entrega se estende à documentação e aos requisitos de inspeção. Para exportações, auditorias periódicas e verificações de processo são a base do relacionamento com importadores. Já no mercado interno, a aderência a especificações de redes nacionais e regionais passa por cadastros robustos de produto, rastreabilidade por lote e consistência de fornecimento. A logística, nesse contexto, deixa de ser uma atividade apenas de transporte e se integra ao planejamento comercial, ajustando volumes por SKU de acordo com desempenho de loja, calendário promocional e capacidade de recomposição de estoque.
Pessoas, qualificação e rotina de fábrica
A adoção de novas tecnologias — como IQF e raio X — demanda capacitação de equipes. Treinamentos em setup, operação e manutenção são decisivos para extrair o melhor de cada linha. A rotina de fábrica tende a incluir checklists de início e fim de turno, verificações de pontos críticos e rotinas de limpeza e troca de facas com hora marcada. Nas linhas de desossa, a padronização de corte por operador ajuda a reduzir variação entre lotes, enquanto indicadores de produtividade por estação orientam reposicionamento de recursos ao longo do dia. O objetivo é preservar qualidade, rendimento e segurança no trabalho.
Com a expansão prevista até 2028, a necessidade de mão de obra especializada cresce em áreas de manutenção, controle de qualidade, planejamento e logística. Programas de treinamento para novos colaboradores e atualização para equipes atuais costumam acompanhar a chegada de equipamentos. A previsibilidade de carga de trabalho por turno é um fator de retenção, assim como a clareza de funções e metas. Em um ambiente com metas de produtividade e padronização, a construção de rotinas claras e a presença de lideranças no piso ajudam a reduzir retrabalho e paradas não planejadas.
Qualidade de produto e padronização do portfólio
A decisão de elevar a participação de produtos de maior valor agregado impõe disciplina na padronização. Desossados e porcionados dependem de controle fino de gramatura, acabamento e apresentação. Linhas de peso padrão apoiam esse objetivo ao reduzir variações por embalagem, enquanto tecnologias de inspeção — como raio X — elevam a confiança de que os cortes estão dentro das especificações. Para temperados e marinados, a consistência de cobertura e absorção é verificada por amostragens ao longo do lote, garantindo que a experiência do consumidor se mantenha igual de uma bandeja para outra.
No ponto de venda, a clareza de rotulagem e a organização do planograma contribuem para a escolha do consumidor. Ao uniformizar o portfólio com codificação de SKUs, calibres e pesos, a empresa facilita a reposição e a gestão de estoque do varejo e dos distribuidores. Em food service, a padronização reduz desperdício em preparo e auxilia no controle de custo por porção, aumentando a previsibilidade de margem para restaurantes e cozinhas industriais. Esse conjunto de práticas tende a refletir-se em maior fidelização de clientes e em contratos com janelas de fornecimento mais longas.
Riscos operacionais e mitigação
Planos de crescimento desse porte pressupõem atenção a riscos operacionais. A sincronização entre granjas, fábricas de ração, abatedouro e expedição precisa funcionar com margens de segurança para lidar com imprevistos, como paradas de linha e manutenções emergenciais. A redundância de equipamentos críticos e estoques de peças estratégicas reduz tempo de indisponibilidade. No abastecimento de insumos, a ampliação da armazenagem de grãos até agosto de 2026 cria mais espaço para gerir janelas de compra e recebimento, o que ajuda a equilibrar o pipeline produtivo.
Na operação diária, o acompanhamento de indicadores — rendimento por corte, taxa de retrabalho, variação de peso por SKU, tempo de setup e aderência à programação — orienta decisões rápidas para conter desvios. Programas de manutenção preventiva, com paradas programadas e checagens por hora de operação, são ferramentas para preservar disponibilidade. Em paralelo, o planejamento de demanda por canal e cliente, revisto com frequência, diminui a chance de sobras e rupturas. Esse conjunto de práticas melhora a execução e sustenta a meta de faturamento projetada para 2028.
O que acompanhar entre 2025 e 2028
A trajetória até 2028 será marcada por marcos objetivos: ampliação de capacidade em São Carlos, aumento de produção de ração, entrada de novos silos de grãos e expansão da incubação. A cada etapa, a consistência de entrega nos canais — especialmente autosserviço e varejo — indicará o nível de maturidade operacional. A performance das linhas de valor agregado e a evolução do portfólio para itens processados, ainda em desenvolvimento, são pontos de atenção para entender a velocidade de captura de margem. Do lado internacional, a evolução de destinos e especificações de corte dirá o quanto a empresa amplia a diversificação de receitas.
Outro vetor é a gestão de qualidade em escala. Com mais volume e mais SKUs, manter padrões de acabamento, porcionamento e embalagem passa por treinamento, automação e auditoria contínua. A adoção de IQF e raio X sugere que a empresa investe em tecnologias de controle que tendem a reduzir variabilidade. A capacidade de transformar esses investimentos em indicadores de processo — menos retrabalho, menor desvio de peso por bandeja, maior rendimento por lote — será determinante para a solidez do plano. Ao final, a fotografia de 2028 deverá refletir não apenas mais toneladas, mas também um portfólio mais equilibrado e previsível.
- Capacidade diária: chegar a 270 mil aves/dia em São Carlos e 540 mil aves/dia no total até 2028.
- Ração e grãos: atingir 73 mil t/mês de ração em 2027 e 131 mil t de armazenagem até agosto de 2026.
- Incubação: passar de 125 milhões de ovos (2025) para 150 milhões (2026).
- Receita: avançar de R$ 2,5 bilhões (2025) para R$ 4 bilhões (2028).
- Mix: elevar o peso dos itens de maior valor agregado no portfólio.
Como funcionam IQF, raio X e linhas de peso padrão
O IQF (Individually Quick Frozen) congela cada unidade separadamente em temperaturas controladas e com alto fluxo de ar. Na prática, o produto não forma blocos e pode ser usado na quantidade exata que a receita pede, sem descongelar o restante. Em indústria, isso facilita porcionamento e reduz perdas no preparo. Para manter a qualidade, a operação mede tempo de residência no túnel e temperatura de saída por lote, garantindo que o centro das peças atinja o patamar adequado. O resultado buscado é textura preservada e aparência estável após cocção, além de melhor aproveitamento em restaurantes e cozinhas industriais.
Os sistemas de raio X atuam como uma barreira de inspeção em pontos críticos do processo. Eles detectam fragmentos de ossos e cartilagens remanescentes, gerando alertas que permitem retirar a peça para retrabalho antes da embalagem final. Em linhas de peso padrão, sensores e balanças em série se encarregam de manter a gramatura combinada com o cliente. Quando o sistema identifica variação, o ajuste é feito por corte, seleção de peças complementares ou realocação do produto. Ao combinar essas três frentes — IQF, raio X e peso padrão — o processo ganha rastreabilidade e previsibilidade, condições essenciais para expandir com qualidade.
Canais e comportamento do consumidor
Com 40% das vendas no autosserviço e 34% no varejo, a Ad’oro atua em gôndolas que competem por atenção e reposição rápida. Produtos desossados, fatiados e porcionados tendem a ser mais atrativos para rotinas de preparo mais curtas. Rotulagem clara de peso, corte e modo de preparo influencia a decisão. Em paralelo, as linhas temperadas e marinadas oferecem conveniência ao consumidor que busca preparar refeições com poucos passos. A empresa sinaliza que segue desenvolvendo produtos processados, movimento que pode consolidar uma presença mais forte em categorias de consumo rápido e porcionamento individual.
No food service, a previsibilidade de gramatura e o padrão de cortes afetam diretamente o custo do prato. Itens porcionados em pesos fixos reduzem variação no escandallo e estabilizam a margem dos operadores. Com o avanço da capacidade industrial, a tendência é oferecer famílias de SKUs com calibres próximos para simplificar compras e estoque em cozinhas profissionais. O atendimento a pedidos programados com antecedência e a possibilidade de ações conjuntas de promoção e lançamento também se tornam mais viáveis com um parque fabril mais flexível.
Integração entre granja e indústria: do lote ao SKU
A meta de 540 mil aves/dia ao final de 2028 exige integração fina entre campo e indústria. Na granja, indicadores como conversão alimentar, ganho de peso diário e uniformidade do lote são acompanhados para que o plantel chegue à idade e ao peso-alvo no momento certo. Na indústria, esses mesmos dados orientam a programação de cortes, a escolha de linhas e a montagem do portfólio do dia, ajustando o mix por cliente conforme a disponibilidade de calibres. O resultado é um fluxo mais previsível, com menor necessidade de ajustes de última hora que geram paradas de linha e retrabalho.
A armazenagem de grãos em 131 mil toneladas até agosto de 2026 cria margem para planejar a fábrica de ração por janelas maiores. A uniformidade da ração — granulometria e composição — melhora a previsibilidade de desempenho nas granjas, alimentando um ciclo de produção mais estável. Em termos práticos, um lote mais homogêneo facilita a execução de cortes padronizados, reduz perda por variação de tamanho e melhora o rendimento de peças com valor agregado. O vínculo entre granja e indústria, nesse contexto, não é apenas logístico: é uma troca contínua de dados que define a qualidade do produto final.
Números em perspectiva e marcos do cronograma
Alguns números dão a dimensão do plano. Em 2023, foram 73 milhões de aves abatidas. Em 2025, a meta é 95 milhões. Em 2028, 145 milhões. Na capacidade diária, a referência de 540 mil aves ao fim do período orienta a expansão de São Carlos para 270 mil aves/dia. No fomento, a produção de ração deverá passar de 53 mil t/mês (2025) para 73 mil t/mês (2027); e a armazenagem de grãos, de 6 mil t para 131 mil t até agosto de 2026. Na incubação, o avanço é de 125 milhões de ovos (2025) para 150 milhões (2026). Em receita, a projeção é sair de R$ 2,5 bilhões (2025) para R$ 4 bilhões (2028).
Os marcos do cronograma incluem etapas de comissionamento de linhas, aumento progressivo de turnos, entrada de novas tecnologias de inspeção e expansão da desossa. Cada etapa conta com indicadores de aceitação, como tempo de setup, variação de peso por bandeja, taxa de retrabalho e rendimento por corte. À medida que a curva de aprendizado se consolida e a estabilidade das linhas cresce, a indústria ganha fôlego para absorver novas demandas de clientes e ajustar o mix. O ciclo previsto até 2028 combina esses marcos com a manutenção de entregas regulares nos principais canais.