Investimento bilionário modernizará e ampliará planta em Duque de Caxias, utilizando gás natural do pré-sal para aumentar a competitividade e a produção de polietileno. Projeto é um dos maiores do setor petroquímico no Brasil na última década.
Rio de Janeiro – O que vinha sendo tratado sob o nome estratégico de “Transforma Rio” ganhou contornos concretos e de grande magnitude. A Braskem, líder do setor petroquímico nas Américas, anunciou a aprovação de um investimento de até R$ 4,3 bilhões para um ambicioso projeto de modernização e expansão de sua unidade industrial em Duque de Caxias (RJ). A iniciativa, que depende da assinatura de um acordo de longo prazo com a Petrobras, visa revolucionar a produção de polietileno no estado, substituindo matéria-prima importada por gás natural do pré-sal brasileiro.
O projeto não apenas representa um dos maiores aportes de capital na indústria de transformação brasileira na última década, mas também sinaliza um novo capítulo para o polo petroquímico do Rio de Janeiro. A previsão é que a nova planta, com capacidade adicional de até 230 mil toneladas anuais, entre em operação no final de 2028, gerando um impacto significativo na economia, na geração de empregos e na balança comercial do país.
O Coração do Projeto: A Sinergia com a Petrobras e o Gás do Pré-Sal
A viabilidade e a genialidade estratégica do “Transforma Rio” residem em uma mudança fundamental de matéria-prima. Atualmente, a unidade da Braskem em Duque de Caxias opera utilizando majoritariamente nafta, um derivado de petróleo mais caro e, em grande parte, importado.
O novo projeto permitirá que a planta passe a consumir etano, um componente do gás natural que será fornecido pela Petrobras a partir do seu Complexo Gás-Natural (GasLub), em Itaboraí. Este gás virá das rotas de escoamento do pré-sal, notadamente a Rota 3, garantindo um suprimento nacional, mais barato e com maior previsibilidade de custos. Essa transição é um divisor de águas por três motivos principais:
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Competitividade: O uso do etano nacional reduz drasticamente a exposição da Braskem à volatilidade do dólar e dos preços internacionais do petróleo, tornando sua produção no Rio de Janeiro muito mais competitiva.
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Segurança Energética: Diminui a dependência de importações, fortalecendo a cadeia produtiva nacional.
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Sustentabilidade: O etano possui uma pegada de carbono menor em sua produção quando comparado à nafta, alinhando a expansão a metas de descarbonização.
O Impacto Econômico e a Geração de Empregos
Um investimento dessa magnitude reverbera por toda a economia fluminense. Durante a fase de obras, que deve durar cerca de três a quatro anos, espera-se a criação de milhares de empregos diretos e indiretos na construção civil, engenharia, montagem industrial e serviços de apoio.
Após o início das operações, previsto para o final de 2028, haverá a geração de centenas de empregos permanentes e altamente qualificados na operação da planta, além de fortalecer toda a cadeia de fornecedores locais, desde empresas de logística e manutenção até fornecedores de equipamentos. Para o estado, o aumento da produção se traduzirá em um significativo incremento na arrecadação de impostos, como o ICMS.
Sustentabilidade e Economia Circular: Mais do que um Discurso
Embora o motor do projeto seja econômico e estratégico, a Braskem enquadrou a iniciativa sob o guarda-chuva “Transforma Rio” para enfatizar seu compromisso com a sustentabilidade. A modernização da planta incluirá tecnologias de ponta para aumentar a eficiência energética e reduzir as emissões.
Além disso, o projeto prevê o desenvolvimento de produtos com conteúdo reciclado e o fortalecimento de iniciativas de economia circular na região. Com maior capacidade produtiva e custos mais baixos, a Braskem poderá investir em pesquisa e desenvolvimento para criar resinas plásticas que facilitem a reciclagem e atendam a uma demanda crescente do mercado por embalagens mais sustentáveis.
Os Desafios no Horizonte: Condições e Próximos Passos
Apesar da aprovação pelo conselho da Braskem, o sinal verde definitivo para a execução dos R$ 4,3 bilhões ainda depende de três condições cruciais:
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Contrato com a Petrobras: A assinatura do contrato de fornecimento de etano de longo prazo é a peça-chave que garante a viabilidade de todo o projeto. As negociações estão em fase avançada.
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Financiamento: A Braskem buscará linhas de financiamento competitivas no mercado para custear o projeto.
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Incentivos Fiscais: A aprovação de uma política pública de incentivos, como o Regime Especial da Indústria Química (REIQ Investimentos), é considerada importante para garantir a atratividade do retorno sobre o capital investido.
Com uma fase inicial de engenharia de R$ 233 milhões já em andamento, os próximos meses serão decisivos para a formalização dos acordos que permitirão o início das obras em larga escala. Em suma, o “Transforma Rio” é um projeto robusto e transformador que, se todas as condições forem cumpridas, tem o potencial de revitalizar a indústria fluminense, posicionando o Brasil como um player ainda mais relevante no cenário petroquímico global.