Fábrica de reciclagem de PET, idosos reciclam mais e pisos de plásticos reciclados

Fábrica de reciclagem de PET, idosos reciclam mais e pisos de plásticos reciclados

O cenário da gestão de resíduos e da indústria de plásticos no Brasil é marcado por avanços notáveis em diferentes frentes, conforme indicam dados recentes sobre investimento, hábitos de consumo e inovação em infraestrutura. No Norte do país, um novo empreendimento da Cirklo, uma das maiores recicladoras de PET, em parceria com a Solar Coca-Cola, promete transformar o panorama do reaproveitamento de materiais na Amazônia. Em Ananindeua, no Pará, está em fase de instalação uma unidade industrial com capacidade para processar até 1.000 toneladas de plástico tereftalato de etileno (PET) por mês, com um ciclo de produção que visa o reaproveitamento integral das embalagens. Paralelamente, uma pesquisa da Nexus, encomendada pelo Sindiplast, revelou dados importantes sobre o perfil do brasileiro que mais se engaja na separação de resíduos, apontando os indivíduos com mais de 60 anos como os mais ativos neste hábito. Em Santos, no litoral paulista, a união entre a Universidade São Judas Unimonte e a Ecofábrica da Zona Noroeste resultou na criação e instalação de pisos drenantes feitos integralmente a partir de plástico reciclado, demonstrando a aplicação prática da matéria-prima recuperada em soluções de infraestrutura urbana.

 

Inauguração e Impacto na Amazônia: Fábrica Cirklo/Solar Coca-Cola em Ananindeua

 

 

A união entre a Cirklo e a Solar Coca-Cola resultou na construção de uma nova fábrica de reciclagem de garrafas PET localizada em Ananindeua, no Pará. Este empreendimento representa um investimento de R$ 20 milhões e tem como meta transformar a logística de recuperação de materiais na região amazônica, uma área que historicamente enfrenta desafios na estruturação de cadeias de reaproveitamento de resíduos pós-consumo. Com a capacidade instalada para processar até 1.000 toneladas de PET mensalmente, a unidade está posicionada para gerar um impacto significativo, não apenas no volume de material recuperado, mas também na criação de valor social e econômico local. A estrutura física da fábrica já foi concluída, e o foco atual está na instalação dos equipamentos de alta tecnologia, preparando a unidade para iniciar suas operações já no mês de novembro. O projeto busca estabelecer um ciclo robusto de recuperação, garantindo que o resíduo plástico seja reintroduzido na economia de forma eficiente e rastreável.

A iniciativa é estratégica para a região, pois a instalação de uma unidade de processamento de grande porte no Pará fortalece toda a cadeia de coleta e triagem, que é a base do sistema de reaproveitamento. O CEO da Cirklo, Irineu Bueno Barbosa Júnior, destacou que esta é a quarta unidade industrial da empresa e a expectativa é gerar inicialmente mais de 60 empregos diretos. Além disso, a operação é projetada para beneficiar indiretamente cooperativas, catadores e agentes ambientais locais, impulsionando a economia circular ao valorizar o resíduo como matéria-prima. O investimento de R$ 20 milhões reflete a aposta na estruturação de um polo de reciclagem na Amazônia, um movimento que está alinhado com a necessidade de desenvolver modelos de negócio que promovam a eficiência no uso de recursos e a geração de renda a partir do descarte. A fábrica de Ananindeua atua como um ponto centralizador de material, crucial para atingir a meta de produção de novas embalagens com conteúdo reciclado.

O Modelo de Ciclo Fechado do PET na Região Norte

O modelo de operação da nova fábrica no Pará é focado na criação de um ciclo fechado para o plástico PET, o que representa um avanço na gestão de embalagens pós-consumo no Brasil. A Solar Coca-Cola, como fabricante que integra o Sistema Coca-Cola Brasil, desempenha um papel fundamental ao contribuir com o volume de garrafas PET descartadas para a unidade. Esse mecanismo de ciclo fechado significa que o produto que é descartado pelo consumidor tem sua matéria-prima recuperada para dar origem a uma nova embalagem da mesma empresa, minimizando a necessidade de matéria-prima virgem. O material coletado é proveniente de cooperativas e comerciantes locais, garantindo que o valor gerado pela reciclagem beneficie diretamente a comunidade e os agentes que atuam na base da cadeia de coleta, proporcionando um aumento na renda e na formalização de trabalho para milhares de pessoas que atuam no manejo de resíduos na região Norte.

Na nova unidade de Ananindeua, o material PET coletado passa por um rigoroso processo de triagem e processamento inicial, transformando-se em flocos de PET reciclado, que é o produto intermediário. Em seguida, esta matéria-prima flocada é encaminhada para outras unidades da Cirklo que são especializadas na etapa de granulação. A granulação é o passo final onde os flocos são transformados em resina reciclada de alta qualidade, que pode ser utilizada na produção de novas embalagens PET com até 100% de conteúdo reciclado. Este encadeamento industrial não só garante a qualidade e a rastreabilidade do material, mas também consolida uma cadeia logística reversa eficiente, que é um requisito técnico e operacional para grandes indústrias de bebidas. O ciclo fechado demonstra o compromisso com a eficiência produtiva, onde o resíduo é visto como um recurso valioso e não como um problema de descarte, reforçando o desenvolvimento de uma economia de reaproveitamento no setor de embalagens de bebidas.

Perfil do Reciclador Brasileiro: Pesquisa Sindiplast/Nexus revela dados por faixa etária

 

 

Uma nova pesquisa de perfil do consumidor, encomendada pelo Sindiplast (Sindicato da Indústria de Material Plástico, Transformação e Reciclagem de Material Plástico do Estado de São Paulo) à Nexus, trouxe à tona dados surpreendentes sobre os hábitos de separação de lixo para reciclagem no Brasil. O estudo revelou que os brasileiros com mais de 60 anos são os mais engajados nesta prática. De acordo com os números, 78% dos entrevistados nessa faixa etária afirmam separar o lixo para reciclagem, um percentual significativamente alto em comparação com os grupos etários mais jovens. Este dado sugere uma maior conscientização ou adesão a hábitos mais estabelecidos de reaproveitamento de materiais por parte da população mais velha, um grupo que talvez tenha desenvolvido o hábito ao longo de uma vida de maior restrição de consumo ou por uma valorização cultural do não-desperdício, fatores que merecem uma análise aprofundada para entender as raízes deste comportamento.

O contraste com as faixas etárias mais jovens é evidente no levantamento. O segundo grupo mais propenso a reciclar é o de 41 a 59 anos, com um índice de 72%. No entanto, a tendência de queda se acentua nas faixas mais jovens: apenas 63% dos brasileiros entre 25 e 40 anos e 62% daqueles entre 16 e 24 anos têm o hábito de separar o lixo para reciclagem. A conclusão da pesquisa aponta para uma correlação clara entre menor idade e menor hábito de separação de resíduos, um dado que desafia a percepção comum de que as novas gerações, por terem maior acesso à informação e maior engajamento em causas sociais, seriam as mais ativas neste tipo de prática. Os resultados indicam a necessidade de se investigar as barreiras específicas que impedem o engajamento dos jovens na reciclagem, que podem variar desde a falta de infraestrutura nas moradias urbanas até a priorização de outras formas de participação social e ambiental, ou mesmo a falta de uma cultura de descarte responsável devidamente estabelecida.

Análise do Hábito de Reciclagem por Gênero e Escolaridade

A pesquisa do Sindiplast/Nexus também explorou as variáveis de gênero e escolaridade na determinação do hábito de separação de lixo para reciclagem, revelando um panorama de menor disparidade nestes recortes em comparação com a idade. No tocante ao gênero, a diferença é sutil: 70% das mulheres entrevistadas afirmam ter o hábito de separar o lixo regularmente, enquanto entre os homens o percentual registra 68%. Esta proximidade nos resultados indica que, embora o engajamento feminino seja ligeiramente superior, o hábito de reciclagem não é um comportamento fortemente polarizado por gênero no Brasil. A diferença de apenas dois pontos percentuais sugere que as campanhas de conscientização e a disponibilidade de infraestrutura de coleta seletiva têm um impacto relativamente uniforme em ambos os grupos, ou que o hábito está ligado a fatores domiciliares e de responsabilidade familiar que são compartilhados entre homens e mulheres de forma mais equitativa do que em outros contextos sociais.

Em relação à escolaridade, os resultados mostram uma baixa correlação entre o nível de instrução formal e o hábito de separação de resíduos. O percentual de brasileiros com ensino fundamental que separam o lixo é de 69% (sendo que 53% sempre e 16% na maioria das vezes). Entre os entrevistados com ensino médio, o percentual é de 68% (44% sempre e 24% na maioria das vezes), e aqueles com ensino superior registram 69% de adesão à prática (46% sempre e 23% na maioria das vezes). A estabilidade desses percentuais entre os diferentes níveis de escolaridade sugere que a reciclagem no Brasil é um comportamento transversal que não está restrito a grupos de maior poder aquisitivo ou maior grau de instrução. A alta taxa de adesão entre aqueles com apenas ensino fundamental é um dado notável, indicando que a conscientização e o acesso à informação sobre reciclagem são eficazes em diferentes estratos sociais. O estudo, que utilizou o método de pesquisa por telefone com 2.009 pessoas em todos os estados e no Distrito Federal, possui uma margem de erro de dois pontos percentuais, garantindo a solidez dos dados apresentados sobre a demografia do reciclador brasileiro. A constatação de que a idade é o fator mais determinante para o engajamento na reciclagem abre caminho para o desenvolvimento de campanhas mais segmentadas, focadas em públicos mais jovens, onde o hábito ainda está em fase de consolidação.

Inovação Urbana em Santos: Pisos Drenantes de Plástico Reciclado

 

 

Fábrica de reciclagem de PET, idosos reciclam mais e pisos de plásticos reciclados3
Fábrica de reciclagem de PET, idosos reciclam mais e pisos de plásticos reciclados3

 

A cidade de Santos, no litoral paulista, tornou-se um laboratório vivo de inovação urbana a partir de uma parceria entre a Universidade São Judas Unimonte e a Ecofábrica da Zona Noroeste, que resultou na instalação de pisos drenantes produzidos integralmente com resíduos reciclados. Este projeto demonstra a capacidade de transformar o descarte urbano em soluções de infraestrutura com alto valor agregado e funcionalidade. Os pisos drenantes são peças essenciais para a gestão de águas pluviais em áreas urbanas, pois permitem a infiltração da água no solo, reduzindo o escoamento superficial e, consequentemente, o risco de enchentes. A substituição de materiais tradicionais por um composto 100% de resíduos plásticos, borrachas e acrílicos representa um avanço técnico, mostrando que o plástico recuperado pode ser uma alternativa viável e eficiente para a construção civil, contribuindo para a durabilidade e funcionalidade das calçadas da cidade.

A Ecofábrica da Zona Noroeste, onde o projeto acontece integralmente, atua como um centro de processamento de materiais e de pesquisa aplicada. A iniciativa uniu a expertise acadêmica dos estudantes de São Judas Unimonte, que participam ativamente desde setembro, com a capacidade operacional da Ecofábrica e o apoio da Secretaria das Prefeituras Regionais. O envolvimento dos estudantes é fundamental, pois eles realizam análises técnicas, testes de resistência e ensaios que garantem o aprimoramento contínuo da qualidade e da performance dos pisos. O resultado é um produto que não só cumpre sua função de combater enchentes ao aumentar a permeabilidade do solo urbano, mas que também contribui diretamente para desviar o volume de plásticos, borrachas e acrílicos do descarte incorreto, transformando o que seria lixo em um ativo de infraestrutura. A parceria serve como um modelo de como a academia pode trabalhar em conjunto com o poder público e as comunidades para desenvolver soluções urbanas eficientes e com foco no reaproveitamento de materiais.

Detalhamento da Produção e Geração de Valor: 330 mil Garrafas Resgatadas

O processo de produção dos pisos drenantes na Ecofábrica é um exemplo de engenharia de materiais aplicada ao reaproveitamento de resíduos. Os plásticos, borrachas e acrílicos chegam à Ecofábrica por meio do serviço municipal Cata-Treco ou através de doações diretas da comunidade, assegurando uma fonte constante e diversificada de matéria-prima recuperada. Uma vez na unidade, os resíduos passam por um processo de trituração, onde são transformados em um material homogêneo pronto para ser moldado. As peças finais são fabricadas com dimensões padronizadas de 40×40×6 cm. O dado mais notável é a equivalência do material: para fabricar apenas um piso, os pesquisadores e técnicos necessitam de aproximadamente 64 garrafas plásticas de 500 ml. Esta métrica ilustra o volume de descarte que é transformado em produto útil e durável, conferindo um valor tangível à ação de reciclagem e ao projeto de infraestrutura.

A capacidade produtiva mensal da Ecofábrica de Santos está estabelecida em 400 pisos. Este volume de produção significa que, a cada mês, mais de 25.600 garrafas plásticas de 500 ml são resgatadas do lixo e reintroduzidas na cadeia de valor, evitando sua destinação para aterros. Ao longo de um ano de operação, a iniciativa demonstra sua escalabilidade, tendo alcançado a marca de 5.000 pisos instalados e resgatado mais de 330 mil garrafas plásticas do ambiente. O impacto deste número é de dupla face: por um lado, ele representa uma contribuição significativa para a limpeza urbana e o manejo de resíduos na Zona Noroeste de Santos; por outro, ele oferece uma solução de baixo custo e alta funcionalidade para a infraestrutura de calçadas, com o benefício adicional da permeabilidade. O projeto se consolida como uma referência técnica para outras cidades que buscam soluções eficientes para o manejo do plástico pós-consumo, integrando a educação, a pesquisa e a produção em escala local.

Fortalecimento da Cadeia de Reciclagem e o Papel do Catador

Os três fatos noticiosos — a nova fábrica de PET no Pará, a pesquisa sobre o perfil do reciclador e o projeto de pisos em Santos — convergem para um tema central na indústria brasileira: o fortalecimento da cadeia de reaproveitamento de materiais e a valorização dos agentes que a compõem. A inauguração da unidade Cirklo/Solar Coca-Cola em Ananindeua, com seu foco em empregos diretos e no impulso às cooperativas de catadores, é um reconhecimento explícito do papel fundamental da base da cadeia. A geração de mais de 60 empregos diretos e o apoio logístico e de processamento aos catadores e comerciantes locais formalizam o trabalho e asseguram uma fonte de renda estável para indivíduos que, de outra forma, estariam na informalidade. Irineu Bueno Barbosa Júnior, CEO da Cirklo, enfatiza que o movimento é de “valorização do resíduo, promoção de renda e reconhecimento do papel fundamental da base da cadeia”, um princípio que é crucial para garantir o suprimento de matéria-prima recuperada para a indústria e o sucesso do ciclo fechado.

No contexto da pesquisa do Sindiplast/Nexus, que aponta os idosos como os maiores recicladores, e do projeto de Santos, que depende da coleta de resíduos do serviço municipal Cata-Treco e de doações comunitárias, o papel do indivíduo na ponta do processo é destacado. A separação do lixo na fonte, seja por um cidadão com mais de 60 anos ou pela comunidade engajada em Santos, é o primeiro e mais importante elo da cadeia de valor. Sem essa ação, a matéria-prima não chega às máquinas de triturar da Ecofábrica ou à nova unidade de flocagem do Pará. O projeto de Santos, ao receber resíduos do Cata-Treco, demonstra a articulação entre o esforço individual da separação e a logística reversa municipal. Portanto, a criação de novas fábricas de reciclagem e o desenvolvimento de produtos inovadores, como os pisos drenantes, dependem intrinsecamente do aumento da conscientização e da participação da população, validando a importância dos hábitos revelados pela pesquisa e a necessidade de se educar os grupos de menor engajamento, como os mais jovens, para garantir o fluxo de resíduos para a indústria.

A Importância da Logística Reversa e o Encadeamento Industrial

A eficácia da Logística Reversa é um desafio técnico e operacional para a indústria de transformação, e as iniciativas no Pará e em Santos demonstram estratégias eficientes para superar essa barreira. A fábrica da Cirklo/Solar Coca-Cola, ao estabelecer um ciclo fechado, garante que a embalagem PET, após o consumo, retorne ao sistema produtivo, caracterizando uma logística reversa bem-sucedida e com baixo desperdício. Este modelo de encadeamento industrial, onde o resíduo processado se torna matéria-prima de alta qualidade (flocos e grânulos) para a produção de novas embalagens, é o padrão de excelência buscado pela indústria moderna. A capacidade de 1.000 toneladas mensais no Pará é um indicativo da escala necessária para que o plástico reciclado possa de fato substituir uma parcela significativa do plástico virgem na produção de novas embalagens, impactando a eficiência e o custo de produção do setor.

O projeto de Santos, por sua vez, resolve um problema de logística reversa de uma maneira mais localizada e focada na infraestrutura urbana. Ao utilizar o serviço municipal Cata-Treco, a Ecofábrica se conecta à rede de coleta já estabelecida, garantindo o suprimento de plásticos, borrachas e acrílicos que seriam de difícil manejo em outros sistemas de reciclagem. O processo de trituração e transformação desses resíduos em pisos drenantes de 40x40x6 cm ilustra uma forma de reaproveitamento de baixo custo e alta funcionalidade, um modelo que pode ser replicado em outras cidades para o manejo de resíduos urbanos de grande volume e difícil destinação. A criação de um produto final de engenharia a partir do resíduo fortalece o mercado secundário de plásticos e borracha, garantindo que o ciclo de vida do material seja estendido e que seu valor econômico seja maximizado. Tanto o projeto do Pará quanto o de Santos reforçam a mensagem de que a Logística Reversa é um pilar para a economia de reaproveitamento, exigindo parcerias estratégicas, tecnologia de processamento e, fundamentalmente, a participação ativa da população na separação do descarte na origem, conforme ilustra a pesquisa de hábitos do Sindiplast/Nexus.

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