Para todo gestor na indústria de transformação de plásticos, a questão é inevitável: o que fazer com uma injetora antiga que começa a apresentar sinais de desgaste? Vale a pena investir em uma modernização completa (retrofit) ou é hora de comprar um equipamento novo? Para especialistas do setor, não há uma resposta única, mas sim um conjunto de critérios estratégicos que, quando bem analisados, apontam para a decisão mais lucrativa.
Mais do que uma simples conta financeira, a escolha envolve uma análise cuidadosa do mercado, da tecnologia e da própria “alma” da máquina.
Duas Filosofias, Um Dilema: O Caso da Jaguar vs. Plásticos Mueller
A complexidade da decisão fica clara ao comparar as estratégias de dois gigantes do setor.
-
A Estratégia da Não-Reforma (Jaguar): Para Mário Alberto Rossetti, gerente de novos negócios da Jaguar, que opera 39 injetoras em Jaguariúna-SP, o retrofit não faz parte do plano. Atuando em mercados de alta velocidade, como o de embalagens e utilidades domésticas, a empresa depende de ciclos curtos e repetitivos. “As condições das injetoras são um diferencial importante para nós”, afirma Rossetti. Para a Jaguar, máquinas reformadas não atingem a performance de ponta necessária. A solução? “Investimos em uma manutenção preventiva rigorosa. Quando a máquina passa a dar problemas, é mais vantajoso fazer a troca”, explica. O ciclo de vida médio de uma injetora na empresa é de dez anos.
-
A Estratégia do Bom Senso (Plásticos Mueller): Já Helmut Winder, diretor-industrial da Plásticos Mueller, empresa com 35 máquinas e operando desde 1935, adota uma abordagem mais flexível. “Não existe fórmula mágica”, resume. Para ele, cada caso é um caso, e a decisão é guiada por uma análise pragmática que equilibra custo, oportunidade e a confiabilidade do equipamento.
A partir dessas duas visões, podemos construir um framework de decisão com os principais critérios a serem avaliados.
O Checklist da Decisão: 5 Fatores Cruciais para Avaliar
Antes de “bater o martelo”, os especialistas recomendam analisar os seguintes pontos:
1. A Regra de Ouro: Custo da Reforma vs. Valor da Máquina Nova
Este é o critério mais objetivo. Os especialistas concordam que o investimento no retrofit deve respeitar um percentual do valor de um equipamento novo equivalente.
-
Para a Plásticos Mueller: Winder estabelece um limite claro: “É razoável investir entre 25% e 30% do valor do equipamento. Se o conserto superar essa porcentagem, a troca é a melhor saída.”
-
Visão Alternativa: Rossetti, da Jaguar, lembra de uma experiência anterior onde o teto era mais alto: “Quando o orçamento do retrofit fosse menor que 60% do valor da máquina, o serviço valia a pena.”
2. O Fator Tamanho e Idade: A Vantagem das Máquinas Maiores
A relação de custo torna o retrofit mais atraente para equipamentos de grande porte.
-
“Quanto maior a máquina, a reforma se torna mais vantajosa. No caso das menores, pode-se trocar por outra, pois alguns modelos estão disponíveis a baixo custo”, recomenda Rossetti.
-
A idade, no entanto, é um limitador. Para Winder, o bom senso dita que “quando a injetora já tem vinte anos de uso, não vale a pena investir. O custo será elevado e a sobrevida talvez não ultrapasse um ou dois anos”.
3. A “Genética” do Equipamento: A Confiança na Marca
Assim como um carro com boa mecânica, injetoras de marcas reconhecidas pela robustez e qualidade são candidatas naturais à reforma.
-
“Uma máquina com histórico confiável e bom desempenho merece maior consideração na hora da decisão”, afirma Winder. Se o equipamento foi um “guerreiro” na linha de produção, com estrutura mecânica sólida, o investimento para modernizar sua eletrônica e hidráulica tem maior chance de sucesso.
4. O Dilema do Timing: O Ciclo Econômico e a Produção
O ambiente de negócios cria um paradoxo:
-
Economia Aquecida: A produção está a todo vapor, e é difícil parar uma máquina para reformar, mesmo que haja dinheiro em caixa.
-
Economia Desaquecida: Há máquinas ociosas disponíveis para o retrofit, mas o fluxo de caixa para o investimento pode estar comprometido.
A solução, segundo Winder, é aproveitar quedas sazonais na produção. Empresas de médio e grande porte, com mais máquinas, levam vantagem, pois têm maior flexibilidade para retirar um equipamento da linha temporariamente.
5. A Estratégia de Mercado: A Peça Define a Máquina
O tipo de produto que a empresa fabrica é decisivo. Mercados que exigem altíssima precisão, repetibilidade e ciclos ultrarrápidos, como o de embalagens de parede fina, demandam tecnologia de ponta que uma máquina reformada dificilmente alcançará. Já para peças técnicas com menores exigências dimensionais e volumes de produção mais baixos, uma injetora robusta e modernizada pode ser a solução perfeita.
O Coração Técnico do Retrofit: O Que Realmente Muda na Máquina?
A grande vantagem do retrofit em injetoras reside no avanço desigual de suas tecnologias. Nas últimas duas décadas, a evolução dos comandos eletrônicos foi exponencial, enquanto as partes mecânicas e hidráulicas avançaram em um ritmo mais lento.
Isso significa que uma máquina com uma boa “carcaça” mecânica pode ser transformada com a atualização de seus componentes:
-
Troca do CLP (Comando Lógico Programável): Quase sempre, a substituição do comando eletrônico por um modelo moderno permite que a máquina opere com uma precisão de ciclo superior à de seu projeto original.
-
Modernização Hidráulica: A substituição de bombas de vazão pode tornar os movimentos mais rápidos e precisos.
-
Eficiência Energética: Uma demanda comum é a instalação de motores de baixa rotação ou inversores de frequência para reduzir drasticamente o consumo de energia.
Mauro Amano, diretor da Amanoinjet, empresa especializada em reformas, confirma a importância da base mecânica: “Fazemos retrofit de injetoras fabricadas a partir de 85 ou 86. Máquinas produzidas antes disso são difíceis de serem recuperadas”.
Em suma, a decisão pelo retrofit é menos sobre encontrar uma “fórmula mágica” e mais sobre realizar um diagnóstico estratégico. Se a estrutura da máquina é confiável, o custo da reforma é razoável e a tecnologia atualizada atenderá às demandas do seu mercado, a modernização não é apenas uma forma de economizar dinheiro – é um investimento inteligente na longevidade e competitividade da sua produção.
